O número está longe de espantar quem passou por um Curso de Comandos: os dados que o Exército partilhou, em resposta ao Observador, indicam que “a taxa de atrição” – desistências e expulsões – dos militares que integraram as sucessivas formações “ronda os 45%”. Quase metade não supera as 12 semanas e muitos caem logo nos primeiros dias.

Até domingo, no curso que arrancou no dia anterior com 67 militares (10 oficiais e 57 soldados), ninguém tinha desistido ou sido excluído do grupo. Tinham passado poucas horas desde o início da formação, mas os militares já estavam em exercícios de treinos, na fase “individual” da preparação, na primeira das 12 semanas de formação.

O Exército refere que os 45% de desistências e afastamentos reportam apenas aos cursos realizados depois de 2002, quando a unidade de elite foi reativada. Nos nove anos anteriores a essa data não foi qualquer formação de Comandos porque aquela força tinha sido extinta em 1993 — uma decisão que esteve muito ligada à dureza do curso.

Além da desistência, há militares que nunca chegam a concluir o curso porque acabam expulsos. Na origem desses afastamentos compulsivos podem estar vários motivos: “Motivos disciplinares, falta de aptidão militar, excesso de faltas, falta de aproveitamento, motivos médicos”, refere este ramo das Forças Armadas.

Também não aconteceu no 127º curso que estava agora a iniciar-se. Mas um dos motivos que, nas edições anteriores, levaram ao afastamento de alguns militares prende-se com o consumo de substâncias para melhorarem o seu desempenho físico. “Há jovens que andam a tomar suplementos às escondidas. Noutros cursos detetámos e eliminámos pessoas que consumiam”, referiu ao Observador um instrutor da unidade de Comandos.

Oficialmente, o Exército não confirmou até ao momento a existência de casos concretos. Mas assume que, “durante o estágio de preparação do curso, é entregue um Guião do Instruendo do Curso de Comandos em que [se] diz que é expressamente proibido o consumo ou a posse de quaisquer tipos de suplementos ou medicamentos sem prescrição médica”. Se um militar for apanhado na posse desses produtos, isso “é motivo de exclusão”.

“Igualmente”, continua o Exército, “nas instruções realizadas no estágio de preparação é referida a proibição supracitada e o risco que o incumprimento de tais procedimentos acarreta para a integridade física do militar”. Um dos homens internados na sequência dos incidentes do último domingo em Alcochete aguarda por um transplante hepático. O Exército não estabelece, no entanto, qualquer associação entre este caso e o consumo de substâncias proibidas.