Mais do que o tema principal do artigo, o título deste texto é uma homenagem a Dalmacio Negro Pavón (1931-2024), recordando uma das suas principais obras. Em Lo que Europa debe al cristianismo, Dalmacio Negro expõe e desenvolve brilhantemente os fundamentos cristãos da civilização europeia, reflectindo também sobre as principais causas e consequências do declínio do cristianismo na Europa. Uma das características principais da extensa obra de Dalmacio Negro foi precisamente a forma como integrou diferentes áreas do conhecimento: da teologia e filosofia até à economia e à política. Exemplo disso são também os magistrais La tradición liberal y el Estado, El mito del hombre nuevo e o monumental Historia de las formas del Estado.

Mas a melhor maneira de explicar e realçar o impacto e legado de Dalmacio Negro é provavelmente dar voz a alguns dos seus mais empenhados discípulos em Espanha. José Antonio Pérez Ramos, na sua homenagem, destaca a dimensão conservadora – e até em certo sentido reaccionária – do pensamento de Dalmacio Negro :

“En el pensamiento de Dalmacio Negro, el demagogo es el seductor del pueblo y la demagogia, antesala de la anarquía y la tiranía. En realidad, para el Profesor Negro, los regímenes democráticos existentes en Europa han hecho ciertos los temores del normando Tocqueville, pues los Estados han degenerado «debido a la demagogia, en estatismo omnipresente, destruye y corrompe todo, incluido el sentido común, forma de pensamiento no científica, haciendo estúpidos a los hombres». Una destrucción del sentido común —Demagogia contra sentido común— que hace del «ciudadano» un idiotés al apartarle del sentido de la responsabilidad personal que es siempre para con otro y, por tanto, política, y lo sume en la funesta igualdad de la masa apolítica a la espera de un proveedor de servicios y prebendas: el Estado impolítico, el Estado servil de Belloc que absorbe la vitalidad de las familias, a las que impide la natalidad —dar vida— a base del expolio fiscal —magna latrocinia— y la consunción obscena de los pequeños patrimonios familiares que podrían garantizar la libertad comunal, sometiéndolas a los designios de las minorías partitocráticas —La ley de hierro de las oligarquías— que se han apoderado del Estado para sus espurios fines ideológicos y crematísticos.”

Uma ilustração de que como é difícil e limitativo tentar encaixar o rico contributo de Dalmacio Negro nas pobres e estreitas categorias do pensamento político contemporâneo é a forma como para um outro seguidor do autor, Santiago Navajas, a obra de Negro constitui uma referência incontornável do pensamento… liberal:

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“Si usted no tieneensu biblioteca unlibroal menos de Dalmacio Negro niesusted liberal niesná. Si no tiene entre suslibros Liberalismo y socialismo: la encrucijada intelectual de Stuart Mill, La tradición liberal y el Estado, Lo que Europa debeal cristianismo, El mito delhombrenuevo, etc. ledoy mañana para hacersecon uno y, de paso, regalarlos para los Reyes Magos. También me vale si escucha algunas de sus conferencias o entrevistas disponibles en Youtube, esa Academia más de Diógenes que de Platón. Por ejemplo, su discurso durante la ceremonia del premio del Instituto Juan de Mariana o la lección magistral impartida en el seminario de Estudios Políticos “Luis Díez del Corral”. En ambos, y dicho sea con el debido respeto, Dalmacio Negro aparece como una especie de jedi del liberal-conservadurismo, más que un erudito, incluso más que un sabio, un guerrero del conocimiento.”

Certamente mais importante do que discutir se Dalmacio Negro era ou não liberal (o que dependerá, e muito, da concepção que se tenha de “liberalismo”), deve realçar-se, como bem faz Ángel Campo Díaz a sua intransigente e sempre independente defesa da liberdade:

“Don Dalmacio construyó su carrera con la libertad que le caracterizó siempre. Nunca hizo concesiones a partidos ni a academias, ni mucho menos a burocracias en desorbitada expansión. Su propia vida fue expresión coherente de su pensamiento y de sus principios.”

Entre nós, é justo destacar José Manuel Moreira como o mais profundo conhecedor em Portugal da obra de Dalmacio Negro (veja-se por exemplo José Manuel Moreira, Compreender para Mudar o Estado a que chegámos, Bnomics, 2017), em particular no que diz respeito às reflexões de don Dalmacio sobre o funcionamento do Estado. É no âmbito dessas reflexões que Dalmacio Negro explica brilhantemente como a degradação do ideal democrático deu lugar ao que designa como “Estado dos Partidos” (ou talvez mais apropriadamente “Governo dos Partidos”) dentro do próprio Estado, um mecanismo através do qual o Estado e as suas instituições e recursos são sistematicamente instrumentalizados ao serviço de interesses particulares. Um processo através do qual a “res publica” deixa de ser a coisa pública ou comum para passar a ser a coisa estatal, objecto de permanente concorrência entre grupos que se apropriam da condução da política como forma de capturar os diversos centros de poder. O resultado final é um conjunto de grupos parasitários instalados no aparelho do Estado – que controlam por via dos partidos e outras redes formais e informais – extraindo e capturando recursos comuns por via da influência que exercem sobre o exercício dos poderes do Governo.

Independentemente das classificações em termos de categorias do pensamento político contemporâneo, o exemplo de independência, integridade e incansável luta pela defesa da liberdade, correctamente entendida, de Dalmacio Negro Pavón permanecerá.

Gracias, don Dalmacio.