Decorreu na semana passada em Lisboa mais uma edição da BTL, a feira internacional dedicada ao turismo. Como sempre acontece com todos os certames, deste ou de outro jaez, a BTL recebeu a visita de vários políticos. Luís Montenegro andou por lá. Pedro Nuno Santos também. Como não podia deixar de ser, uma vez que havia câmaras de televisão e comida de borla, o Presidente da República pontificou, como só ele pontifica, no meio de toda uma plêiade de ilustres figuras. “Pudera!”, dirá o leitor. “Pois se acabaram de entrar em campanha!” Cínico – como eu também era, aliás – o leitor não concebe a presença de políticos nestes eventos que não seja por cálculo eleitoral. Sucede que, desta feita, os políticos não lá estavam como visitantes, mas como protagonistas.

Para a promoção do turismo, a BTL deste ano contou com 1500 stands e duas dúzias de políticos portugueses. A cirandar entre a barraca da Serra da Gardunha e a das Aldeias de Xisto, viam-se vários deputados. Eram reclames andantes, como aquelas meninas que distribuem ginjinha e pastéis de Nata. É que Portugal já não é apenas o país procurado por quem quer fazer praia. Desde há alguns anos que os turistas nos procuram para observar, no seu habitat, exemplares dessa curiosidade exótica que é o político nacional.

O turista típico, que vem do Reino Unido, da França, dos EUA ou da Alemanha, tem um interesse antropológico pela realidade política portuguesa. Vêm de países democráticos, já participaram em várias eleições, sabem como funciona um Parlamento e habituaram-se a lidar com políticos com diferentes graus de chalupice. Mesmo assim, encantam-se com Portugal, que possui as mesmas coisas, mas em versão aditivada e ainda mais bizarra. É outra ordem de grandeza, como a diferença entre escorregar num saco de plástico na Serra da Estrela e fazer ski nos Alpes: parece igual, mas trata-se de outra modalidade.

Quando passei férias no México, lembro-me que houve um dia em que saímos (obrigados) do resort para visitar uma aldeia “típica” onde vimos “aztecas” em actividades “tradicionais” como apanha de raízes para “o curandeiro”, manufactura de “artesanato local” e participação em “cerimónia xamânica” com ingestão de “bebida sagrada”. No fim, posámos para fotografias com um nativo, que até fez o favor de retirar a placa, para parecer um indígena ainda mais representativo.

À falta desse tipo de aborígene, promovemos o país com um tipo de extravagância autóctone só nossa, mas ainda bem pitoresca: o político português nascido na juventude partidária e alimentado nas juntas de freguesia, secretarias de Estado e estúdios de televisão.

É por isso que já há operadores turísticos que, além de visitas de tuktuk ao Castelo, passeios por Belém para conhecer Torre+Jerónimos+Padrão, e excursões a Sintra, também oferecem visitas a São Bento, para assistir a sessões plenárias cheias de exotismo. Só a da moção de confiança da semana passada vai-nos valer uns 7 ou 8 daqueles prémios tipo “óscares do turismo”. Pode-se ganhar muito dinheiro a vender bilhetes para as galerias. “What are they doing in the hemiciclo? A trocar uma CPI reduzida por um voto de confiança? How peculiar! Quero comprar uma t-shirt da Spinumviva”. Para o estrangeiro que vier mais dias e quiser passear para fora de Lisboa, podem-se organizar expedições à Ericeira para ver a Reserva Mundial de Surf e visitar o Eng.º José Sócrates. Se o mar estiver calmo e não houver ondas, não faz mal. Só Sócrates já é um destino que vale a pena por si, como a Torre Eiffel, o Coliseu de Roma ou o Taj Mahal. Merece uma visita só para o conhecer. Para uma experiência mais completa, que inclua Sócrates a caçar, convém levar alguns jornalistas, só para vê-los ser achincalhados pelo antigo PM. Seria mais seguro vê-lo em cativeiro, mas não me cheira que isso esteja para acontecer. Sócrates é uma espécie em risco de extensão, porque sempre que parece que vai ser condenado, consegue estender o prazo até ao julgamento.