Com a mudança de ciclos eleitorais proporcionam-se sempre momentos de reflexão profundos, onde reina a busca pela melhoria das condições de vida da sociedade moderna. A máxima será escolhida… “o ensino superior é uma prioridade”…, “a igualdade de oportunidades é um compromisso”… “nenhum estudante deve ficar para trás”… no entanto, quando a poeira assenta e se atenta na realidade silenciosa dos jovens estudantes e das suas famílias aquando o confronto com as vicissitudes da vida, a realidade assume-se como implacável.

É inegável que a Ação Social e as Bolsas de Estudo se assumem como mecanismos fundamentais no acesso e manutenção dos jovens Estudantes no Ensino Superior. No entanto, há uma discussão que ainda falta ser tida e que o modelo atual de Ação Social tem esquecido ao longo dos anos e que não se pode mais perpetuar: aqueles que, para além das dificuldades económicas, enfrentam problemas de saúde que exigem despesas adicionais e constantes. Como pode um Estudante com uma doença crónica que necessita de consultas, exames e deslocações regulares manter-se na Universidade se os apoios não contemplam esta mesma realidade? Como pode um estudante bolseiro lidar com uma despesa inesperada? Como é que a viver no limite, por vezes no limiar da pobreza, estes jovens conseguem ultrapassar estes enormes muros?

A Educação não pode estar à mercê da sorte. Não podemos olhar para este elevador social como uma roleta-russa em que uns, apenas pela infelicidade de um diagnóstico e incapacidade de suportar as despesas associadas a essa mesma condição, se vêm automaticamente eliminados. É neste momento que o desafio sobe de tom. As dificuldades aumentam, as rotinas mudam, o quotidiano é alterado. É precisamente aqui que a política deve intervir, não apenas para os jovens que lidaram com o diagnóstico, mas também para as suas famílias.

É nesta altura que a política tem de ser o mecanismo que “dá a mão a estas pessoas”. A política tem de ser o prego que impede que o tapete fuja nos momentos difíceis. Dizem que na política o timing importa… É aqui que eu afirmo, convictamente, que o timing é agora. Se há momento para a discussão de soluções concretas para os problemas da sociedade é agora. Com eleições legislativas no horizonte e programas eleitorais a serem escritos, é agora que os partidos políticos têm de assumir compromissos sérios com os que mais precisam. É aqui que a política tem de corresponder às expectativas da sociedade e demonstrar que é verdadeiramente possível garantir que nenhum Estudante abandona os seus estudos apenas porque não consegue suportar o pagamento de um tratamento médico, uma consulta especializada ou uma deslocação regular a um hospital.

Sugiro, pois, a discussão rápida e eficiente da criação de um mecanismo de Ação Social complementar para estudantes bolseiros ou em situação de vulnerabilidade que dê resposta a estas mesmas situações. Esta medida não constituirá uma medida financeiramente desproporcional para o estado, muito pelo contrário, será um investimento justo e necessário para garantir que aqueles que, pela força de um diagnostico, já enfrentam dificuldades não sejam duplamente penalizados.

Se um Estudante enfrenta uma doença oncológica ou uma doença autoimune e não tem condições para pagar a sua medicação, como pode ele concentrar-se nos estudos? Se um Estudante tem uma condição oftalmológica grave e não pode substituir um par de óculos essenciais à sua rotina, como pode ele continuar a assistir às aulas? Estas questões parecem todas elas muito simples,  mas a verdade é que escapam sempre ao debate político e porque? Simples… porque a precariedade estudantil é invisível para quem nunca a viveu.

Nas próximas semanas, os partidos apresentarão as suas propostas para a juventude e para o Ensino Superior. Falar-se-à de mais vagas, de melhores infraestruturas, de descongelar ou não descongelar a propina. Falar-se-à de mais bolsas para investigação, de menos precariedade para os investigadores, de melhores condições no acesso ao Ensino Superior. Mas a pergunta essencial permanece: quem se compromete, de forma real e concreta, a garantir que nenhum estudante abandona os estudos porque a sua saúde se tornou financeiramente insustentável?

Diz-se, com muita frequência, que o futuro do país está nas mãos da juventude. Mas para garantir que a juventude possa construir esse futuro, é necessário garantir que têm presente.