No dia 23 de Março, o melhor destino insular do mundo irá a votos pela terceira vez consecutiva em apenas 18 meses.

Desde 2019 que o PSD Madeira perdeu a maioria absoluta que, apesar de parecer perpétua, nunca mais regressou ao colo do poder laranja que governa a ilha há praticamente 50 anos.

O ano de 2023 marcou um novo ciclo político para o PSD Madeira – nem a bengala do CDS passara a ser suficiente para aguentar a governação dos que, até hoje, sempre ganharam as eleições. E é precisamente a partir de 2023 que a Região Autónoma da Madeira conhece contornos políticos que jamais imaginou conhecer.

Boiaram, e, pior, ainda boiam, na água, figuras da pior subespécie da espécie humana –  carrascos carregados de execráveis certezas, que vegetam na lama política que eles próprios criam, com o único intuito de discutir personalidades que passo a passo mantêm a confiança do povo, mas que para os homúnculos já nem isso é suficiente.

Importa voltar atrás no tempo para agarrar o fio à miada de uma autêntica trapalhada política. Nas eleições de 2024 que levaram à formação deste Governo, o Chega afirmou solenemente perante os seus eleitores que jamais viabilizaria um Governo que tivesse Albuquerque à cabeça. Na Assembleia Legislativa, logo após a tomada de posse do Governo, foi votada uma moção de confiança para a entrada em funções do respetivo executivo. O Chega, ao contrário do que prometeu aos seus eleitores, viabilizou o Governo de Miguel Albuquerque.

Em Dezembro do ano transato, o parlamento regional votou uma moção de censura apresentada pelo Chega, que colheu os votos favoráveis do Partido Socialista e do Juntos Pelo Povo – uma união improvável, mas ao mesmo tempo previsível pela sede de poder de que todos padecem. O Governo caiu. Mais umas eleições para o currículo de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas a este propósito, recordo as palavras do Secretário-Geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, no dia 7 de Novembro, na Revista Visão: “O PS, em nenhum lado, em nenhum sítio, deve viabilizar moções do Chega.” Pois bem, na Madeira, não só o Partido Socialista viabilizou, como votou favoravelmente um moção de censura apresentada pelo Chega.

Acontece que no dia 23 de Março, os madeirenses e porto-santenses vir-se-ão confrontados com a falta de estabilidade governativa que reina desde 2023. É a terceira vez que os ilhéus são chamados a escolher uma nova configuração parlamentar em 18 meses.

De um lado têm um partido que transformou a Madeira e que garantiu o desenvolvimento de uma região ultraperiférica, com a estabilidade política sempre no horizonte.

De outro lado, têm os socialistas, derrotados crónicos de todas as eleições regionais realizadas na história da democracia, sem projeto alternativo, sem liderança, sem coragem, e sem pudor – exemplo disso é o facto de confessarem abertamente a sua incompetência, inabilidade ou inaptidão (deixo à escolha do caríssimo leitor) ao recusarem apresentar eles próprios uma moção de censura, e preferirem, em detrimento disso, votar favoravelmente uma moção de censura da direita radical.

De outro lado têm aqueles que juntam o voto de protesto, que ainda ninguém percebeu onde se situam ideologicamente, que pregam à moda de Frei Tomás – “olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz” –, que rastejam aos pés dos madeirenses para que lhes seja dada a oportunidade de ultrapassar o Partido Socialista e ocuparem, assim, a segunda posição do pódio – confesso, caro leitor, que já esteve mais longe de vir à acontecer.

Num outro prisma posicionam-se os religiosos seguidores de Ventura, que, num partido profundamente anti-autonomista – coisa que os madeirenses abominam –, pregam aos peixes a seriedade e moralidade em que mergulham todos os dias, usando a palavra “amiguismo e compadrio” para descrever a governação laranja. Atiram pedras para a casa do vizinho, mas esquecem-se que o seu telhado é de vidro. Um partido cujo deputado na Assembleia da República, eleito pelo círculo da Madeira, tivera sido chefe de gabinete do grupo parlamentar do Chega na Assembleia Legislativa, saindo desse cargo para assumir o lugar em Lisboa, e deixando o caminho aberto para que a sua mulher ocupasse essa mesma posição no parlamento regional, não tem moral rigorosamente nenhuma para falar de amiguismo, nem tão pouco de compadrio.

De um outro lado mantêm-se os liberais, fiéis aos seus princípios e valores, mas que numa oportunidade de ouro como esta têm a obrigação de crescer confortavelmente – coisa que não acontecerá, e talvez as guerras internas, e a forma como foram expostas à sociedade, contribuam para que tal não venha a acontecer.

Como sempre, num canto ou recanto desta ilha manter-se-á firme e hirto o CDS, partido cujo único objetivo é garantir exclusivamente a Presidência da Assembleia Legislativa – triste ponto a que chegou a democracia madeirense quando a insignificância da imensidão de dois deputados lhes vale a segunda figura da Região.

Resta o PAN, partido capturado por uma líder que, sem Rei nem Roque, tropeça nas suas próprias incongruências, expõem a falta de capacidade intelectual a um pontal tal que diz ter votado na candidata do PS a Presidente da Assembleia Legislativa pelo simples facto da candidata ser mulher – não haverá pior exemplo de um feminismo sem hombridade e de uma falta de noção sem limites.

Resumindo, os madeirenses ver-se-ão confrontados no dia 23 de Março com a escolha de um novo parlamento regional, mas com os mesmos candidatos, com as mesmas promessas, com os mesmos protagonistas, com a mesma narrativa, e com a mesma necessidade de sobrevivência – que, por mais estranho que pareça, é comum a todos os partidos.