Quando assisti aos vídeos de Javier Milei para preparação do meu livro «A era de Milei», uma coisa chamou-me particular atenção: a naturalidade com que usou o termo batalha cultural, como se todos na Argentina soubessem exactamente o que era.
Mas afinal, o que é a batalha cultural? A batalha cultural é a luta pelas melhores ideias e valores. Trata-se de difundir as ideias de liberdade e de rejeitar as ideias do estatismo. Na batalha cultural, a “equipa Liberdade” luta contra a “equipa Estado”.
Porque é que a batalha cultural é tão importante? Ora, a cultura determina a estrutura com que interpretamos o mundo, e agimos com base nessa interpretação. Se se puder influenciar a estrutura interpretativa, pode-se influenciar indiretamente o comportamento das pessoas. Sendo esta estrutura interpretativa moldada por imagens, modelos, arte, história, narrativas, símbolos, tradições, ideias, valores e palavras.
Apenas um exemplo. Vê-se o mundo de forma completamente diferente quando se usa o termo “justiça social” ou, para uma mesma questão, quando se usa o termo “roubo”. Os estatistas foram muito bem-sucedidos na batalha cultural. Porque hoje, quando sob ameaça de violência o Estado rouba dinheiro a uns para o dar a outros, a maioria da população vê isso como “socialmente justo”. Instintos primitivos como a inveja, o ódio e o ressentimento tornam-se subitamente virtudes sob o pretexto da justiça social.
A batalha cultural não consiste apenas em mostrar que o estatismo ou o socialismo são uma catástrofe económica, mas também em afirmar as narrativas, valores e instituições em que se baseia o capitalismo. Porque todo o sistema precisa de uma justificação moral. De facto, quando a derrota do socialismo na esfera económica se tornou visível para todos após a queda do Muro de Berlim, a esquerda concentrou-se nas questões culturais. Daí a expressão “marxismo cultural”. Já não se concentra na exploração de trabalhadores pelos empregadores. Porque os trabalhadores não ficaram mais pobres, ao contrário do que Marx tinha previsto, mas tornaram-se cada vez mais prósperos.
O novo argumento da esquerda era o de que o capitalismo é eficiente, mas injusto. No sistema capitalista existem conflitos e opressão. Os ricos oprimem os pobres. Na sociedade patriarcal, os homens oprimem as mulheres; os heterossexuais oprimem as minorias sexuais. No racismo estrutural, os brancos oprimem os negros e os imigrantes, e na crise ambiental, os humanos exploram a natureza. Em todos estes conflitos, alimentados artificialmente, alguém deve ajudar os fracos e oprimidos, as minorias. Quem? O Estado. E para poder ajudar eficazmente, o Estado precisa de mais poder. Bingo! para estatistas.
Além disso, os wokes e os marxistas culturais estão a tentar destruir as instituições nas quais os valores da sociedade burguesa, especialmente a família e o cristianismo, são disseminados e ensinados. Porque aí são transmitidos valores como a diligência, a poupança, a disponibilidade para fazer sacrifícios, a responsabilidade, a amizade, a caridade, o amor à verdade e à justiça, à vida, à liberdade e à propriedade.
Quem reconheceu a importância da batalha cultural e a trava como ninguém é Javier Milei. Sublinha repetidamente que o estatismo não é apenas um desastre económico, mas também social, destruindo as famílias e a coesão; moral, porque propaga e legitima a violência; cultural, porque é igualitário; e esteticamente, porque produz blocos pré-fabricados. E como se não bastasse, é responsável por mais de 150 milhões de mortes. De facto, a esquerda empreendeu uma revolução cultural tão bem-sucedida que, apesar destes resultados, ainda há pessoas que se autointitulam publicamente de esquerdistas ou socialistas.
Depois de Javier Milei ter vencido na Argentina, poderia ter-se concentrado em consolidar o seu poder no país. Mas não. Porque não está interessado no poder, está interessado na causa, na liberdade, em todo o mundo. Não perde uma oportunidade para promover as ideias da liberdade no panorama global. No ano passado em Davos, Hamburgo, na ONU, no G20, no seu apoio à Declaração da Civilização Ocidental, ou há dias noutro discurso histórico em Davos e em Zurique.
Os libertários nunca tiveram um megafone como o que têm agora com a presidência de Javier Milei. E Javier Milei sabe usar essa amplificação de voz com uma potência, paixão e autenticidade incríveis. Diz o que pensa e faz o que diz. Os corações voam na sua direção e a esquerda está em retirada em todo o mundo, está em pânico. Gostaria de agradecer a Javier Milei por tudo isto e por trazer a batalha cultural para o espaço de discussão pública. ¡Viva la libertad, carajo!
Os pontos de vista expressos pelos autores dos artigos publicados nesta coluna poderão não ser subscritos na íntegra pela totalidade dos membros da Oficina da Liberdade e não reflectem necessariamente uma posição da Oficina da Liberdade sobre os temas tratados. Apesar de terem uma maneira comum de ver o Estado, que querem pequeno, e o mundo, que querem livre, os membros da Oficina da Liberdade e os seus autores convidados nem sempre concordam, porém, na melhor forma de lá chegar.