A escola não precisa de tanto assim para mudar. É verdade que tem que repensar os conteúdos que traz até à aprendizagem das crianças. E, sobretudo, os métodos com que as convida a aprender. E tem que passar a conhecê-las melhor. Percebendo que os alunos são mais informados, mais esclarecidos e muito menos passivos do que todo o modelo educativo os foi imaginando. E tem, sobretudo, que perceber que elas, quando aprendem, já sabem e já intuem. E que aprender se trata de os pôr num confronto entre tudo aquilo que já sabem com tudo o mais que lhe dão a descobrir.

A escola tem de escutar as crianças melhor. De as pôr a falar. E tem perceber mais recreio é melhor aprendizagem. Quanto ao resto, a escola precisa de entender que elas precisam de correr e de se sujar. De andar à bulha e de brincar. E que cada um delas precisa de descobrir as suas necessidades educativas especiais. De afrontar os seus erros. Elas precisam de aprender que quanto mais se erra melhor se aprende. E que quem não erra nunca descobre.

As crianças precisam de desenhar as letras. E de contar pelos dedos. Precisam da música e do desenho para irem com a matemática para a leitura. Mas, sobretudo, precisam de descobrir que aprender é compreender. E que mal se compreende nunca se esquece.

E, ao mesmo tempo que esmiuçam as novas tecnologias e a inteligência artificial, elas precisam de descobrir os intestinos das coisas. De as desarrumar e de as desmanchar. Para as construírem, a seguir. E precisam da surpresa e do  espanto. Mas precisam de descobrir que a utilidade daquilo que se aprende começa no “como se faz”.

As crianças precisam de faltar ao respeito ao medo de aprender. E de falar pelos cotovelos e de perguntar porquê. Precisam de aprender com o corpo. De dentro de si para o mais longe deles! Daquilo que elas sentem para a forma como pensam. E da alma para o sonho!

E precisam de conviver com uma avaliação mais verdadeira. Onde repetir dê lugar ao recriar. E precisam de ter notas mais séria e menos açucaradas. De trabalhos de grupo. Apresentações públicas. E trabalhos comunitários. E precisam de menos metas educativas e de mais histórias dos professores. E precisam (muito, mesmo!)

do seu amor à escola a falar para eles!

Elas precisam de trazer o mundo para dentro da escola. Precisam de o debater. E precisam de ajuda para destrinçar o falso do verdadeiro. Os atalhos imaginários dos verdadeiros caminhos. E o bem do mal.

As crianças precisam duma escola mais exigente consigo mesma do que exigente só com os resultados deles. E, em vez de trabalhos de casa repetitivos e mecânicos, precisam de mais mundo e de mais vida com os pais.

Elas precisam de descobrir que primeiro se admira e que só depois se respeita. E precisam de descobrir que a revolta é um rasgo de esperança. E a paixão é um exercício de coragem.

Depois disso, só precisam de fugir para a escola. Que a escola fará o resto. E nunca mais ela fugirá das suas vidas!