Os portugueses estão a ser fustigados com mais esta campanha eleitoral. Os líderes partidários vão ficando exaustos com esta maratona de intervenções públicas, nomeadamente nos canais televisivos. Em vez de liderarem os respetivos partidos e tentarem fazer passar na assembleia da república as suas propostas para o país, prevê-se que passem estes dias a prepararem-se para os debates bilaterais, a que seguirá mais uma campanha de rua. Os portugueses não queriam estas eleições. Muitos ficarão em casa no dia das eleições outros votarão em branco ou anularão o boletim de voto. Há sempre os que votam no seu partido de sempre numa adesão de tipo clubística. Mas haverá muitos que votarão sem grande convicção. Não me parece existir outra interpretação para a significativa proporção de indecisos.
Faz pouco mais de um ano, escrevi aqui uma carta aberta a Pedro Nuno Santos e a Luís Montenegro. No essencial argumentei que, não havendo perspetiva de uma maioria absoluta parlamentar, fosse esta de um só partido ou duma coligação, quem perdesse as eleições deveria dar a possibilidade ao partido vencedor de governar com um mínimo de estabilidade política que considero ser de dois anos. Uma legislatura é o ideal para se perceber o impacto das políticas de um governo e premiá-lo ou puni-lo eleitoralmente. Mas dois anos parece-me o mínimo num miniciclo político. Passou-se apenas um ano das últimas eleições e o governo caiu.
O PS não está, obviamente, preparado para governar. Havia a intenção de realizar uns estados gerais que não foram feitos. Este continua a ser o método para ir buscar alguns independentes qualificados para depois assumirem com credibilidade algumas pastas governativas no caso do partido ganhar eleições. Que governo-sombra tem o PS para apresentar ao país? Por ora não existe. Pedro Nuno Santos tem de entender que a sua principal missão, se quiser manter o PS como um grande partido nacional, é refundar o partido nomeadamente ao nível da formação de quadros, o que leva o seu tempo. Há por aí algumas propostas, poucas, de como isso poderia ser feito.
O PSD também não está particularmente preparado. Fez o seu longo caminho de oposição, criou e pôs a funcionar um conselho estratégico nacional, liderado por Miranda Sarmento. Porém, no PSD também não há formação de quadros. Esta, tenho-o dito várias vezes, é indispensável ao exercício, com qualidade, de funções políticas ou administrativas de relevo. Para Luís Montenegro, estas eleições serão, caso as ganhe, sobretudo uma oportunidade de remodelação governamental e uma tentativa de apagar através do voto aquilo que são atos exclusivamente seus e, no mínimo, eticamente reprováveis.
Nestas eleições não me parece que vá haver grandes surpresas. Com elevada probabilidade PSD/CDS ganharão e com maior margem do que nas anteriores, pois isso é o corolário lógico das pessoas não quererem nem eleições, nem micro ciclos políticos. Haverá, provavelmente, uma maioria de direita parlamentar, se incluirmos a Iniciativa Liberal e o Chega. Dada a manutenção do “não é não”, de Montenegro, as condições de (in)governabilidade do país não se alterarão. Há, porém, algumas incertezas. À direita, a dimensão da votação na Iniciativa Liberal e a provável descida do Chega. Será que depois de todos os escândalos com políticos deste partido, desde o caso patológico do roubo de malas à pedofilia, os eleitores seus eleitores continuam a acreditar que André Ventura é o salvador da Pátria? Será que não percebem que não há partidos de um homem só? À esquerda, as incertezas são quais os partidos que vão capitalizar algum descontentamento de eleitores de PS e PSD e mesmo do Chega, bem como os que não são sensíveis ao “voto útil” no PS.
Há, porém, um essencial paradoxo nesta campanha eleitoral. Todos os partidos exacerbam as suas divergências com os restantes, mesmo quando são menores, para cativar os eleitores, como se pudessem impor sozinhos as suas propostas. Porém, como nenhum terá uma maioria absoluta, o que interessa não são as divergências mas as possíveis convergências. É inevitável a negociação pós-eleitoral entre governo e oposições. Assim, o que verdadeiramente deveria ser perguntado aos líderes partidários são duas coisas. O que farão na presença de um governo minoritário caso percam as eleições? Em que áreas – justiça, habitação, saúde, sistema eleitoral, etc. – estarão dispostos a dialogar com os restantes partidos para efetivar verdadeiras reformas? Estas são as perguntas que mereceriam ser feitas, embora duvide que algum lhes responda.