Alguns lenços brancos no Jamor, muitos lenços brancos na Luz com o Moreirense, tantos ou mais lenços brancos na receção ao Ajax. Rui Vitória atravessava a fase mais negativa desde que chegou ao Benfica, com a contestação a subir de tom em paralelo com o avolumar de maus resultados dos encarnados. À chegada a Tondela, eram quatro encontros consecutivos sem vencer – a pior série desde que chegou do V. Guimarães para substituir Jorge Jesus em 2015. E se nos primeiros jogos aquelas informações que saíam na imprensa desportiva de que havia total confiança na retoma ainda iam pegando, agora levavam até os mais crentes a torcer o nariz. Afinal, desde o triunfo por 3-0 em Coimbra com o Sertanense que não havia triunfos.
https://observador.pt/2018/11/11/tondela-benfica-encarnados-tentam-quebrar-serie-de-quatro-jogos-seguidos-sem-vitorias/
Durante a semana, e depois das declarações que teve no final da derrota caseira frente ao Moreirense, Grimaldo ainda recebeu críticas através das redes sociais mas é no técnico das águias que recai o grande foco de contestação. Com seis títulos conseguidos nas primeiras três temporadas, vários comentadores questionam: será vítima ou culpado pelo momento? As justificações, mais do que muitas como é habitual nestas ocasiões, podem fazer pender a resposta para um ou outro lado mas, na parte que diz apenas respeito ao futebol, a verdade é que o Benfica candidato ao título tem falhado sempre em qualquer coisa. Seja no ataque, com uma percentagem de finalização baixíssima que levou aos desaires nos últimos dois jogos da Liga; seja no meio-campo, sem o fulgor do arranque de época que se contagia aos restantes setores; seja na defesa, com vários golos sofridos em transições.
Os resultados são sempre o principal barómetro para equacionar a possível saída de um treinador mas existem outros indícios mais ou menos percetíveis que são facilmente detetáveis por quem dirige e já andou lá dentro. Nomeadamente, ou à cabeça, a atitude, a vontade e a entrega dos jogadores a um encontro. Uma equipa que atravessa uma série negativa pode perder mais um jogo e optar corretamente por manter o técnico ou quebrar esse registo e ainda assim prescindir do treinador. Tudo porque uma boa decisão tem sempre mais do que um fator isolado em ponderação. “Se os jogadores estão comigo? Isso para mim é claro como água”, assegurou o técnico na conferência de imprensa de antevisão ao jogo em Tondela.

Jonas empatou o encontro ainda nos primeiros dez minutos, Seferovic entrou para consumar a reviravolta a meio da segunda parte
“Temos um grupo muitíssimo unido e com a noção clara de que temos de estar todos unidos. Se não estivermos unidos do ponto de vista externo, temos de estar unidos internamente. Estamos todos envolvidos nesta mesma ideia. Os jogadores e todos nós temos essa consciência. É uma garantia muito grande que eu tenho, porque, de facto, a forma como nós trabalhámos e a mensagem que transmitimos durante o jogo do Ajax dão-me indicações de que vamos para Tondela para ganhar. Pressão? É igual à que tinha quando cá cheguei e têm de acreditar que é assim a forma que eu vivo. Estou entusiasmado pelo meu trabalho, represento um grande clube e vai ser assim até ao último dia. Já tive muitos momentos bons e de sucesso, isto é a vida no futebol”, acrescentou numa conversa antes da partida rumo ao estágio em Tondela, que marcou o fim dessa série negativa.
Mais de 1 mês depois, o Benfica volta a ganhar na Liga ???????? pic.twitter.com/oiU9h3vq3P
— Playmaker (@playmaker_PT) November 11, 2018
Ficha de jogo
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Tondela-Benfica, 1-3
10.ª jornada da Primeira Liga
Estádio João Cardoso, em Tondela
Árbitro: João Pinheiro (AF Braga)
Tondela: Cláudio Ramos; David, Ricardo Costa, Ícaro Silva, Joãozinho; Murillo (Delgado, 69′), Bruno Monteiro, Hélder Tavares, Xavier (João Reis, 85′); Tomané e Peña (Jorge Fernandes, 56′)
Suplentes não utilizados: Pedro Silva, Jaquité, Patrick e João Mendes
Treinador: Pepa
Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Conti, Grimaldo; Fejsa (Samaris, 85′), Gabriel, Pizzi (Zivkovic, 77′); Rafa, Cervi (Seferovic, 59′) e Jonas
Suplentes não utilizados: Svilar, Krovinovic, João Félix e Gedson Fernandes
Treinador: Rui Vitória
Golos: Conti (1′, p.b.), Jonas (9′), Seferovic (64′) e Rafa (75′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a Rafa (17′), Cervi (22′), Xavier (23′), Tomané (38′), David Bruno (51′ e 54′) e Fejsa (62′); cartão vermelho por acumulação a David Bruno (54′) e direto a Ícaro Silva (84′)
Sem o castigado Jardel e o lesionado Salvio, Rui Vitória não teve outra alternativa e mexeu na equipa inicial como tem acontecido há dois meses. E mudou mais do que era obrigado: com Conti a fazer dupla com Rúben Dias e Rafa na direita do ataque, Pizzi recuperou um lugar que provavelmente não deveria ter deixado de ser seu no meio-campo, deixando Gedson Fernandes (e não Gabriel) no banco. Além disso, estava confirmada a recuperação total de Jonas – e que jeito continua a fazer. Sobretudo depois de uma entrada desastrosa com um autogolo ainda dentro do primeiro minuto (mais concretamente, 41 segundos de jogo…) que deixou Rui Vitória de ar incrédulo, mão na cara e a abanar a cabeça no seu banco de suplentes.
Tudo o que fosse sofrer primeiro um golo nesta deslocação a Tondela seria mau; tudo o que fosse sofrer no primeiro quarto de hora seria muito mau; tudo o que fosse sofrer no primeiro minuto seria… impensável. Mas aconteceu mesmo, com grande mérito de Murillo que recebeu na direita colado à linha, conseguiu ganhar em velocidade a Grimaldo sempre de bola colada no pé e cruzou para a entrada de Xavier que pressionou Conti para um corte defeituoso para a própria baliza (1′). Vlachodimos ainda não tinha tocado na bola e já tinha sofrido mas Cláudio Ramos, o homólogo do Tondela, também não se ficaria a rir: ainda dentro dos primeiros dez minutos, André Almeida teve mais uma subida pelo flanco direito (e sempre que isso aconteceu, houve perigo) e cruzou para o cabeceamento certeiro de Jonas, o terror do Tondela – marcou em todos os jogos – que empatou na primeira investida dos encarnados à baliza contrária (9′). Voltava tudo à estaca zero. Ou um.
O encontro teve um início eletrizante mas acabaria por acalmar. Que mais não seja, para que os dois conjuntos se conhecessem e percebessem como iriam abordar o encontro. Quando entenderam, soltaram as suas armas, exploraram as debilidades contrárias e colocaram as duas balizas em perigo constante pouco antes da meia hora: Rafa, ganhando de novo em velocidade a Joãozinho na direita do ataque, entrou na área sabendo que não podia ser tocado e rematou cruzado ao poste (28′); depois foi Ricardo Costa, aproveitando mais um erro da marcação à zona dos encarnados nas bolas paradas, a surgir ao segundo poste mas a desviar muito por cima (29′); a seguir foi de novo Rafa, lançado em profundidade de mota quando o adversário direto andava de triciclo, a falhar na hora do remate (que saiu muito, muito desenquadrado, 31′); por fim, David Bruno deixou Grimaldo no chão com uma finta, cruzou largo, Murillo fez o chapéu a Vlachodimos e Conti tirou em cima da linha (37′).
⏰ 45’ | Tondela 1 – 1 Benfica
1ª parte com arranque frenético, com os guarda-redes a sofrerem golos antes mesmo de tocarem na bola pela 1ª vez#LigaNOS #CDTSLB #SempreTondela #Reconquista pic.twitter.com/jdsNs2rkzF
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O Benfica tinha 45 minutos para estancar o período de crise, atravessar a paragem para compromissos das seleções com uma maior estabilidade para corrigir o que está mal (e existem coisas que continuam a falhar e que antigamente não falhavam) e ter uma palavra de afirmação. E essa manifestação acabou por chegar pelos pés dos dois jogadores que foram “riscados” ao intervalo do jogo com o Moreirense: André Almeida e Pizzi. Sobretudo o primeiro, que esta noite teve a braçadeira de capitão, corporizou a revolta dos encarnados e encarnou aquele conceito do amor à camisola de quem sofre como um adepto nos maus momentos. É isso que se pode esperar do lateral-médio-trinco-ala: pode não ser o jogador mais virtuoso do mundo, que não é, mas deixa tudo o que tem em campo e consegue contagiar de forma positiva todos os que estão à sua volta.
⚽ Tondela ???? Benfica
Excelente jogo de André Almeida, que esteve nos 2 golos da reviravolta ⭐#LigaNOS #CDTSLB #SempreTondela #Reconquista #RatersGonnaRate pic.twitter.com/vItKW2dxGq
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No primeiro sinal de perigo, André Almeida foi lá à frente combinar com Pizzi para remate a rasar o poste do médio (50′). Havia um Benfica mais pressionante e apostado em conseguir a reviravolta logo a abrir, algo que ficaria ainda mais facilitado quando David Bruno viu dois cartões amarelos em apenas quatro minutos e deixou o Tondela reduzido a dez, tendo Pepa de abdicar de uma das unidades que colocava o jogo à frente para voltar a ter uma linha de quatro defesas (55′). No entanto, como não existem soluções instantâneas neste tipo de mudanças durante o encontro e como Xavier viu Vlachodimos a fazer uma enorme defesa numa das poucas oportunidades dos beirões no segundo tempo (59′), Seferovic entrou e, numa das primeiras vezes em que tocou na bola, apontou o 2-1, encostando na pequena área após nova assistência do inevitável André Almeida (64′).
Em vantagem e com mais uma unidade em campo, o Benfica tinha todas as condições para fazer o que não fazia desde o jogo para a Taça de Portugal com o Sertanense, em Coimbra: controlar, ter posse, circular, marcar os tempos de jogo. Mais tarde viria a conseguir isso mas não se livrou de mais um susto, capaz de destapar a instabilidade anímica que a equipa atravessa depois de uma fase com resultados menos conseguidos – Xavier, isolado em frente a Vlachodimos só com a baliza pela frente, tentou desviar tanto, tanto que a bola saiu mesmo ao lado, naquele que seria o último fôlego do conjunto de Pepa (72′). Pouco depois, Rafa sentenciou o vencedor: grande passe de Pizzi em zona central a isolar o avançado que, em linha, só teve de escolher o lado para bater Cláudio Ramos num golo que esperou a coinfirmação do VAR para ser celebrado (75′). A tarefa do Tondela ficava a partir daí quase impossível e pior ficou quando Ícaro, com uma entrada imprudente, foi expulso (84′).
⚽ Tondela ???? Benfica
“Auriverdes” entram a vencer mas as “águias” dão a volta e regressam às vitórias
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