François Villeroy de Galhau, governador do Banco de França, que é visto como um dos principais candidatos à presidência do BCE, está em Lisboa e, numa conferência ao lado de Carlos Costa, elogiou as reformas “ambiciosas” que foram feitas na economia portuguesa, garantindo que a economia mundial está num momento de “clara desaceleração” mas “não estamos a caminhar para uma recessão”. Questionado pelo Observador sobre se é candidato à presidência do BCE, Villeroy de Galhau não excluiu essa possibilidade, asseverando que “vivemos em democracia, com líderes políticos, portanto não cabe a nós decidir” quem será o sucessor de Mario Draghi.

A conferência desta sexta-feira, na sede do Banco de Portugal em Lisboa, o candidato à sucessão a Mario Draghi — que termina o segundo mandato este ano — baseou-se na previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que a economia mundial irá crescer 3,5% em 2019, depois dos 3,7% do ano passado. “A principal explicação para este abrandamento é o aumento da incerteza geral devido aos riscos geopolíticos, começando pelas tensões comerciais iniciadas pela administração norte-americana e, também, na Europa, com o risco de um “Hard Brexit” (uma saída do Reino Unido da União Europeia sem um acordo) — este é um cenário “muito danoso mas, infelizmente, cada vez menos implausível”.

A incerteza está a deprimir a confiança empresarial e, possivelmente, o investimento, incentivando um atitude de “esperar para ver”.

Ainda assim, o francês acredita que estes fatores e outros, como a desaceleração na indústria alemã e o impacto dos protestos dos “coletes amarelos”, o cenário é animador. “Se estes condicionalismos desvanecerem, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) poderá voltar a acelerar já na primavera ou no verão”, admitiu Villeroy de Galhau, reconhecendo o risco de que a desaceleração se prolongue mais do que o previsto — “um cenário menos plausível mas que não podemos excluir — temos de estar prontos para adaptar a nossa política monetária”.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Como governador do Banco de França, e numa altura em que se acredita que a presidência do Banco Central Europeu (BCE) irá para um francês, Villeroy de Galhau aparece como um dos principais candidatos — apesar de haver outro francês na cúpula do BCE, Benoit Coeuré, que também é visto como um candidato possível.

Sentado ao lado de Carlos Costa, Villeroy de Galhau aproveitou a conferência, também, para elogiar as “reformas ambiciosas” e os “esforços corajosos de ajustamento” que foram feitos em Portugal — “demonstrando que, na Europa, fazer reformas é algo que tem um impacto positivo”.

O Observador aproveitou a conferência de imprensa, também, para perguntar a Villeroy de Galhau sobre a resolução do BES e até que ponto a contribuição dupla que os outros bancos do sistema têm de fazer por causa dessa resolução (e da do Banif) é justa. Esta foi uma pergunta a que de Galhau não quis responder, considerando ser um assunto interno, passando a palavra a Carlos Costa — que voltou a defender as razões por que a resolução do BES foi feita nos moldes em que foi e argumentou que, a longo prazo, o fardo para os bancos não será tão grande quanto alguns descrevem.