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Attla: Uma volta ao mundo depois, André e Rita voltam a casa para nos dar de comer

Este artigo tem mais de 5 anos

Depois de navegarem por Costa Rica, Tailândia, França e Polinésia Francesa, o chef André Fernandes e a sua companheira/chefe de sala, Rita Chantre, voltaram a Lisboa para abrir um bistrot.

4 fotos

O que interessa saber

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Nome: Attla
Abriu em: Dezembro de 2018
Onde fica: Rua Gilberto Rola, 65, Lisboa
O que é: O primeiro restaurante “a solo” do chef André Fernandes, que regressou a Portugal com a sua companheira, Rita Chantre, e abriram este espaço em conjunto — ele na cozinha e ela na sala
Quem manda: O casal André Fernandes e Rita Chantre
Quanto custa: Entre 25 e 30€ por pessoa
Uma dica: Estando longe de se assumir como restaurante vegan/vegetariano, este Attla tende a apresentar uma extensa oferta de pratos sem carne vermelha. Pode ser uma boa solução para quem explorar este tipo de dietas.
Contacto: 932 509 887
Horário: Das 19h às 00h, fecha às segundas e terças-feiras.
Links importantes: Facebook, Instagram

A História

Cozinhar é muitas vezes um ato de amor (ou pelo menos devia ser), seja pelo simples ato de alimentar os outros, de respeitar uma cultura/tradição ou realizar um sonho tantas vezes quase impossível. Em alguns casos, porém, esta frase que já é quase “cliché” assume proporções mais palpáveis: a história de André Fernandes e Rita Chantre é um exemplo disso.

“Nós conhecemo-nos em Portugal mas acabámos por ir parar à Tailândia. Eu já tinha tudo acordado para ir trabalhar para o grupo Ritz-Carlton e a Rita, por coincidência, também tinha de ir para lá por causa de um trabalho fotográfico que estava a fazer. Trabalhei umas semanas, mas depois tive de sair.. Estava apaixonado, não é…” É desta forma quase enternecedora que o chef André, começa por explicar a história que o levou a ele e à sua companheira, a tal Rita, a abrir o recente Attla, restaurante que inaugurou há pouco tempo na zona de Alcântara.

Quase não existem mapas suficientes para explicar o percurso desta casal após a primeira aventura na Tailândia (passaram pelo Vietname, Laos, Camboja, América Central, etc…) por isso podemos fazer fast forward até ao último poiso por onde passaram antes de regressar a casa. “Depois dessas voltas todas acabámos por assentar na Costa Rica, onde vivemos três anos”, explica André depois de se juntar à mesa onde o Observador pôde provar alguns dos pratos deste novo espaço. Foi nesse país da América Latina que o casal desenvolveu uma empresa de “chef privado” onde André ia cozinhar a casa dos clientes e Rita fotografava tudo. Como tantas vezes acontece, a saudade começou a falar mais alto e foi isso que motivou o regresso a uma Lisboa “completamente diferente” da que conheciam.

Rita Chantre (na esq.) é a chefe de sala e fotógrafa do Attla. André Fernandes (dir.)  trata da comida. © Rita Chantre

O Espaço

“O início foi complicado, não tivemos de procurar um imóvel mas sim dois: A nossa casa e o restaurante que queríamos abrir”, explica Rita sempre de sorriso na cara. A sorte acabou por bater à porta e foi assim que descobriram uma antiga padaria que “já estava desativada há algum tempo”, junto à estação de comboio de Alcântara, a poucos passos do Tejo. À primeira vista, a escolha desta zona como base para um sofisticado e descontraído bistro de comida criativa pode não parecer muito óbvia, mas era o que André e Rita procuravam. Por considerarem que zonas como o Chiado, por exemplo, já estão “saturadas” e cheias de “sítios muito bons”, decidiram afastar-se um pouco desse centro mais óbvio — até porque para quem passou vários anos a viver “quase na selva”, saltar para o centro de uma cidade “podia ser um bocado demais”, explicam os dois antes de soltar uma gargalhada.

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Ora aquilo que vai encontrar, mal atravesse as portas envidraçadas deste Attla, é um espaço aberto onde predominam os tons creme, e uma zona ligeiramente rebaixada onde mora o bar e a entrada para a cozinha. O minimalismo domina toda a envolvência que é pautada por um ou outro pormenor decorativo tão simples como ramos de árvore secos ou tábuas também em madeira. O pormenor interessante no meio disto é o facto de tudo ter sido feito pelo casal.

“Não tivemos arquitetos nem nada disso, fomos nós os dois que estivemos sempre aqui, tanto a acompanhar as obras como a tratar da decoração”, explica André antes de reforçar, de sorriso na cara, que a parte da decoração ficou totalmente entregue a Rita, que já tinha tido alguma “experiência” no assunto: “Na Costa Rica não tínhamos muita coisa para decorar a casa por isso fomos nós fazendo tudo. Encontrávamos madeiras interessantes na praia, por exemplo, e trazíamo-las para casa para servir de peça decorativa.”

O interior do Attla é pautado pelo minimalismo da sua decoração. © Rita Chantre

A Comida

Ao longo dos últimos anos, André e Rita estiveram sempre juntos a “saltitar” pelo mundo fora. Contudo, antes do casal se juntar André já tinha umas boas milhas acumuladas. “Não dava para a escola por isso decidir meter-me na cozinha”, relata o agora cozinheiro do Attla. À semelhança de muitíssimos outros chefs, a vida passou a fazer mais sentido no corre-corre das cozinhas… De França. Com 14 anos atirou-se para a região da Bretanha e começou logo a trabalhar — mesmo não tendo qualquer tipo de contacto ou família. “Comecei numa creperia mas não fiquei lá muito tempo. Cheguei na época alta e foi um stress maluco”, conta o próprio. Decidiu apontar mais alto e foi para o único “Michelin” das redondezas, o La Mare Aux Oiseaux, tendo-se inscrito na escola de hotelaria St Nazère logo depois.

Entre voltas e reviravoltas, acabou por ir parar ao grandioso Plaza Athenée, do histórico chef Alain Ducasse. Depois de uma estadia de “um ano e pouco” e de mais “umas voltas” por restaurantes de topo gauleses (como a La Maison Blanche, dos irmãos Pourcell, por exemplo) André entra num périplo nómada impressionante: Caraíbas, Barcelona, Bora-Bora e Rio de Janeiro foram algumas das suas paragens antes do primeiro regresso a Portugal (antes deste mais recente), da experiência com o chef Nuno Bergonse e… Do início da relação que até hoje mantém com Rita Chantre.

É um pouco de tudo isto que encontramos nos pratos que pode provar no Attla: uma grande base de cozinha francesa que se nota na riqueza de molhos como o absolutamente delicioso sabayon (de origem italiana) de cerveja preta que acompanha o prato de batata doce ao sal e wasabina (derivado da mostarda) — 14€ –; uma apetência pelo exotismo do picante, que aparece de todas as formas e feitios em pratos como o polvo grelhado com batata fumada, cinza de chili e alho francês assado (19€), por exemplo; e finalmente tudo isto conjugado com uma criatividade simplista patente em pratos como o excelente conglioni (variedade de massa) com alheira de caça, chalotas grelhadas, satay de abóbora e crumble de broa (9€).

O conglioni com alheira de caça, chalotas grelhadas, satay de abóbora e crumble de broa. © Rita Chantre

A comida servida neste Attla dá especial atenção a critérios de sazonabilidade e sustentabilidade e isso, para André, é algo que justifica a pouca utilização de carnes vermelhas: “Não me sinto bem em comprar só partes de um animal. Para o servir e cozinhar prefiro comprá-lo inteiro e aproveitar tudo. Neste momento ainda não o consigo fazer por isso vamos apostando pouco em carne. Quando o fazemos costuma ser de aves — como são mais pequenas consigo utilizá-las ao máximo.” Este é apenas um dos exemplos que comprovam a dedicação à cozinha “responsável”. Quando o Observador visitou o restaurante, por exemplo, André tinha acabado de regressar do Lugar do Olhar Feliz, famoso produtor de citrinos. “Eles têm coisas incríveis e perdi um pouco a cabeça. Ainda por cima, como estamos na época dos citrinos, decidi introduzi-los em vários pratos”, aponta. Um deles é a entrada de ostra do Sado, cebola avinagrada, caldo de urtigas, codium (tipo de alga) e mão de buda (um citrino) — 13€.

Regressar a casa, por muito que seja um consolo, também é um reaprender. Muito mudou desde que André e Rita saíram de Portugal (especialmente no mundo da restauração) e este não deixa de ser o primeiro restaurante dos dois em conjunto. Apesar das dores de crescimento inerentes a tudo isto, o Attla é uma boa adição à onda de novos “bistrots” onde a comida de autor criativa vale por si só, sem qualquer necessidade dos embrulhos formais em toalha branca e talher de prata.

“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos restaurantes.

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