Diogo Pacheco Amorim não tem dúvidas: se o PSD se mantiver intransigente na recusa de integrar o Chega num futuro Governo de direita, o partido não deve viabilizar o Executivo social-democrata. No cenário limite, o grande ideólogo do Chega entende que o partido não deve ter medo de ir a votos.

Preferia ir a votos para clarificar. Claramente. O país precisa de clarificação. Estas águas mornas que andam de um lado para o outro, talvez seja assim mas depois é assado, não dá. O país chegou ao ponto a que chegou por causa dessas indefinições”, defende Pacheco Amorim.

Ouça aqui a entrevista na íntegra a Diogo Pacheco Amorim

“Governar com o PSD não é um sonho vago”

Em entrevista à Rádio Observador, o ‘vice’, que está de saída da direção do partido — decisão que Ventura já confirmou e que Pacheco abençoou e promoveu –, não deixa margem para grandes recuos: qualquer maioria de direita que venha a existir tem de contar com o Chega no Governo.

O Chega só admite estar no Governo. Obviamente quereremos estar no Governo, de uma forma clara, positiva e bem definida. E é fundamental que o programa desse Governo reflita claramente aquilo que consideramos essencial para uma reforma do sistema político. Não chegará para isso um acordo de incidência parlamentar.”

Esta ideia é defendida, precisamente, por André Ventura na moção estratégica que apresentou neste Congresso. O líder do Chega recusa ‘geringonça’ de direita e não está disponível para aplicar o modelo encontrado nos Açores à Assembleia da República. Pacheco Amorim concorda.

“Nos Açores era uma questão de vida ou morte. O PS estava há dezenas de anos. A nível nacional é diferente. Aqui joga-se o futuro de todos nós. Achamos que não podemos nem devemos prescindir daquilo que consideramos essencial para uma reforma do regime”, insiste.

Mesmo que isso signifique a perpetuação do PS no poder ou uma tentativa de apelo ao voto útil à direita por parte do PSD? Pacheco Amorim recusa toda e qualquer tipo de chantagem.

“Se formos confrontados com essa escolha, a decisão será: não cedemos a chantagens. Não aceitamos que nos digam: ‘Se vocês não entrarem no barco, o PS vai continuar a governar’. Isso é uma chantagem’. É uma chantagem a que não podemos ceder. Se precisam de nós, têm que nos ouvir. Isto teria de ser uma coligação.”

“O Chega no poder não é algo mírifico, não é um sonho vago”

Confrontado com a tendência consolidada nas sondagens — o Chega não tem conseguido passar dos 7, 8 ou 9% –, Pacheco Amorim desvaloriza e acredita que há uma percentagem de eleitores que não assume vontade de votar no Chega nestes estudos de opinião.

O futuro ex-vice-presidente acredita que o partido vai conseguir um resultado na ordem dos 10 a 15%, o que será determinante para que o Chega possa entrar num Governo liderado pelo PSD.

Resta saber se Rui Rio conseguirá liderar essa alternativa. “Se der um golpe de rins, se entender finalmente que o PS nunca entrará numa solução de bloco central…”, sugere, ainda que não esconda algum ceticismo: “O PSD tem vindo sempre a descer desde o princípio do consulado de Rui Rio. Tem de começar a fazer oposição a sério e então tem hipótese de subir”.

“Se o PSD tiver 30, 29 ou 28%, nós atiramos para os 12%… É um peso muito substancial. Aí, já se consegue uma maioria”, cenariza. “Não é mírifico, não é um sonho vago a ideia de poder governar à séria juntamente com o PSD. Sem o Chega não consegue governar.”

No discurso que marcou o arranque dos trabalhos do III Congresso do Chega, André Ventura voltou a atacar os críticos internos, sem nunca os nomear, que estarão a tentar empurrar o partido para o caminho da moderação.

Nesta entrevista à Rádio Observador, Pacheco Amorim também não concretiza o alvo. Mas insiste no mesmo recado. “Querem um Chega talvez igual ao PSD. Não há mais próximo nem menos próximo. O Chega ou é o que é, ou é o CDS ou o PSD. Acho muito bem que André Ventura não esteja disposto a seguir o caminho da moderação.”

Confusão na direção? “Há turbulências saudáveis”

Sobre a sua saída da direção do partido, Pacheco Amorim esclarece, mais uma vez, que a ideia foi sua e que está perfeitamente confortável com esta nova fase da participação na vida interna do partido.

“Pareceu-me que seria útil que o meu lugar ficasse à disposição para que pudesse haver uma rotação e para poder haver renovação. No partido podemos ser úteis de muitas formas e não necessariamente neste cargo”, diz.

Nem todos pensam da mesma forma. Nuno Afonso e José Dias também estão de saída da vice-presidência do partido e não terão lidado bem com a decisão de André Ventura. Pacheco Amorim não atribui grande importância ao mal-estar interno.

“É evidente que qualquer alteração ao statu quo é sempre fonte de alguma turbulência. Mas há turbulências saudáveis e turbulências pouco saudáveis. Esta parece-me saudável porque traz uma hipótese de renovação, de dar palco a outras pessoas. Há muita coisa para fazer no partido”, remata.