Exportações de petróleo, banca e transportes navais. As sanções mais duras de sempre impostas ao Irão entram esta segunda-feira em vigor e afetam setores fulcrais da economia de Teerão. O Presidente iraniano, Hassan Rohani, disse esta segunda-feira que o seu país “derrotará orgulhosamente” as sanções dos Estados Unidos, que descreveu como “ilegais, injustas e contrárias ao direito internacional”. Nas ruas da capital iraniana, os protestos ganharam forma no domingo, frente à antiga embaixada norte-americana, para marcar também a data em que a representação diplomática foi invadida em 1979. Mais de 50 cidadãos norte-americanos foram detidos durante 444 dias e as relações diplomáticas entre os dois países sofreram um rude golpe desde então.
“Abaixo os Estados Unidos” e “Morte à América” eram os gritos mais ouvidos entre a multidão de milhares de iranianos no domingo, escreve a CNN e a AlJazeera, enquanto alguns jovens, cobertos de tinta prateada, montavam um pequeno teatro encenando a tomada de reféns de 1979.
Nas redes sociais, uma hashtag ganhava força e somava mais de 19 mil tweets: #Sorry_US_Embassy_Siege. O pedido de desculpa ao cerco da embaixada era lançado por iranianos frustrados com o regime, escreve a BBC. “Nos últimos 40 anos, o regime islâmico do Irão tentou apresentar os Estados Unidos e Israel como inimigos do Irão. Mas os iranianos não pensam como os mullah. Amamos todas as nações e todas as pessoas do mundo”, escrevia um internauta.

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Num outro tweet lia-se: “A América não é nossa inimiga, os nossos inimigos fizeram de nós reféns no nosso próprio país.”
Nas ruas, o discurso era oposto ao das redes sociais. “Acho que o Donald Trump é louco, mas ele não nos pode fazer nada porque temos o Imam Khamenei, e ele é a melhor pessoa que já vi na minha vida”, diz Mobina Jari, de 15 anos, à CNN referindo-se ao líder supremo do país, Ali Khamenei.
“As pessoas estão aqui reunidas para confrontar a América”, diz o mullah Mohammed, um clérigo que prefere não dar o seu nome completo por questões de segurança, também à televisão norte-americana. “Os americanos são diferentes do Estado. O Grande Satã é o governo. É verdade que as sanções vão criar pressão sobre iranianos inocentes, mas o nosso povo é resistente e vai superar estas dificuldades.”
https://twitter.com/Coollouse/status/1059014789295423489
The deportation of relatives and agents of the occupation of the US embassy is the basis of the United States' honesty in the fight against Iranian state terrorism.#Sorry_US_Embassy_siege pic.twitter.com/YZqiVdpRT8
— Patriot???????? (@patriott__) November 4, 2018
As mais duras sanções de sempre não convencem todos os aliados
“As sanções ao Irão são muito fortes. São as sanções mais fortes que já impusemos. Vamos ver o que acontece com o Irão, mas eles não estão a ir muito bem”, disse Donald Trump, na semana passada.
As sanções surgem porque os Estados Unidos consideram que o Irão não tem respeitado o acordo nuclear de 2015 e o objetivo de Donald Trump é reduzir a zero as importações de petróleo àquele país. O presidente dos EUA pediu solidariedade internacional, mas nem todos entraram no barco. Alemanha, Reino Unido e França — que fazem parte dos signatários do acordo nuclear — estão contra as sanções e garantem apoio a toda as empresas europeias que estabeleçam negócios legítimos com o Irão.
Apesar da intenção de levar todos os país a reduzir a zero as importações de petróleo do Irão, os Estados Unidos criaram algumas exceções à regra. Itália, Índia, Japão, Coreia do Sul, Turquia e China não serão penalizados pela administração Trump se continuarem a fazer negócios com Teerão já que, explicou Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, “fizeram reduções significativas às suas exportações de petróleo” e precisam de mais tempo para atingir o zero.

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Teerão diz que sanções são inúteis
O Presidente iraniano, Hassan Rohani, disse esta segunda-feira que o seu país “derrotará orgulhosamente” as sanções “ilegais, injustas e contrárias ao direito internacional”. Num discurso durante uma reunião com funcionários do Ministério da Economia, transmitido pela televisão, Rohaní qualificou a atual situação como uma “guerra económica” e denunciou as políticas dos EUA, sublinhando que procuram “simplesmente pressionar a população”.
No entanto, insistiu que os EUA hoje estão “isolados”, já que a maioria dos países do mundo rejeita sanções e apoia o acordo nuclear de 2015. “Não somos os únicos que estão zangados com as políticas dos EUA, até empresas e governos europeus estão com raiva deles”, acrescentou.
No encontro, Rohaní disse que “entre os setores económicos do país, o Ministério da Economia está na vanguarda dessa resistência e luta contra as conspirações dos Estados Unidos”. O presidente pediu para encorajar o setor privado e “transferir parte das responsabilidades dos bancos para o mercado de capitais” nesta época de sanções, de acordo com um comunicado da presidência.
“O mercado de capitais pode desempenhar um papel importante durante o período das sanções, uma vez que estará ativo enquanto os bancos estão limitados”, acrescentou. Considerou igualmente que, neste período, a população beneficiará se for possível aumentar “a distância entre a economia e o setor público”.
“Com a ajuda e a unidade do povo, devemos fazer os americanos entenderem que não podem falar com a grande nação iraniana com a linguagem de pressão e sanções, eles têm que ser punidos pela história”, afirmou.
Também o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, admitiu terça-feira passada que as sanções vão afetar economicamente o país, mas acrescentou que elas não vão mudar as políticas iranianas, considerando-as “inúteis e fúteis”, em declarações a um programa da estação de televisão norte-americana CBS.
“Os Estados Unidos estão viciados em sanções e acreditam que elas são uma panaceia que resolve todos os problemas. Não resolvem. Na realidade, magoam pessoas e, enquanto governo, temos a obrigação de minimizar o seu impacto. Mas as sanções nunca mudarão as políticas”, afirmou o responsável da diplomacia de Teerão.
O Irão garante que tem cumprido com o acordo nuclear que estabeleceu com os Estados Unidos, no mandato de Barack Obama, e apela à Agência Internacional de Energia Atómica para confirmar o seu compromisso.
O país já tem vindo a reduzir as vendas de petróleo, com quebras de cerca de 800 mil barris diários, comparativamente aos números do início do corrente ano.