Enviado especial do Observador à Rússia (em Moscovo)
Zona de entrega de bilhetes, identificação, envelope, bilhete para a bancada, nada de zona mista, check. Lista de pedidos extra para as zonas mistas que sobrarem uma hora antes do início do jogo, 20.º lugar na lista às 11h da manhã para um encontro que ia apenas começar às 21 horas, check. Fila de espera para as zonas mistas que sobram a partir das 19h30, check. Estávamos a fazer tudo by the book mas acesso à zona mista do Sérvia-Brasil é que nada. Fim do jogo, crónica publicada, uma passagem pela galera do Brasil para recolher algumas impressões da vitória por 2-0, última tentativa à espera da entrada naquela zona que temos bem consciência de que estará cheia mas que também joga muito com a paciência dos jornalistas. Quem não tem, abre vaga.
Não foi a coisa mais fácil do mundo chegarmos ao espaço delimitado com umas barreiras que ficam pela zona da cintura e que vão zieguezagueando num espaço um pouco mais exíguo no Spartak Stadium do que por exemplo na Arena Mordóvia, em Saransk mas ainda foi mais do que a tempo para apanhar todos os jogadores brasileiros (aliás, daria até tempo para irmos também nós jantar como eles costuma ficar a fazer após cada jogo) e uma cara bem conhecida dos portugueses: Vladimir Stojkovic, antigo guarda-redes do Sporting que agora, aos 34 anos, continua titular da Sérvia e do Partizan Belgrado. Isso mesmo, o Partizan que é rival do Estrela Vermelha, onde fez grande parte da formação. E esta opção já lhe rendeu problemas sem fim…

Stojkovic defrontou Portugal na qualificação para o Campeonato da Europa de 2016, em França (Srdjan Stevanovic/Getty Images)
Filho de guarda-redes (e de uma mãe que também era atleta, neste caso do lançamento do disco), sobrinho de guarda-redes (Vladan, o gigante que se destacou em Portugal no Leça e por cá ficou) e tio de guarda-redes (Vladimir Stojkovic, que fez quase toda a formação no Sporting e subiu depois à equipa B), também ele não poderia fugir ao destino de ocupar um lugar entre os postes. Começou no Loznica, clube da cidade onde nasceu, mas não demorou a chegar ao Estrela Vermelha, onde se estrearia como sénior. Mas seria também aqui sofreria a primeira contrariedade da carreira: após deixar de ser opção inicial, foi cedido ao Zemun mas rescindiu por salários em atraso, ficou uns meses sem jogar, passou depois pelo Zemun e voltou à casa mãe.
Cruzou-se em 2005 com o técnico italiano e também guarda-redes Walter Zenga, naquela que foi uma das melhores temporadas da carreira antes de ser vendido ao Nantes, não se adaptar ao clube, ser emprestado aos holandeses do Vitesse e assinar com o Sporting no Verão de 2007, depois da saída de Ricardo para o Betis. E já antes estava referenciado, após as boas exibições no Campeonato da Europa Sub-21 que se realizou em Portugal, onde a Sérvia chegou com uma super equipa onde se destacavam ainda Ivanovic, Stepanov, Krasic, Basta ou Vucinic (Vukcevic e Purovic, que também estavam nessa equipa, também acabaram por rumar a Alvalade). No entanto, a boa entrada, assumindo a titularidade e ganhando a Supertaça ao FC Porto, acabou por não ter continuidade: uma lesão tirou-o da equipa, questões disciplinares mantiveram-no afastado e entretanto Rui Patrício foi agarrando a posição, numa era pelos leões que iria durar até esta temporada de 2017/18. “Sou o melhor guarda-redes da Europa, não percebo o porquê de não jogar”, chegou a dizer no aeroporto no regresso da seleção. “Parece uma campanha contra um criminoso de guerra como Radovan Karadzic”, lamentou o tio Vladan, após notícias de uma recusa do Everton.

Depois de ter perdido a titularidade em Alvalade, Stojkovic representou a Sérvia nos Jogos Olímpicos de 2008 (Shaun Botterill/Getty Images)
Esteve emprestado ao Getafe (Espanha) e ao Wigan (Inglaterra), antes de aceitar a cedência ao Partizan, onde ficaria depois até 2013 a título definitivo. E foi aí que sofreu algumas das piores experiências por parte de adeptos do Estrela Vermelha, que nunca lhe perdoaram a troca, tiraram a sua camisola do museu, quiseram expulsá-lo de sócio, fizeram ameaças de mortes e tentavam agredir com vários objetos em dias de dérbi. Teve ainda mais três experiências no estrangeiro, entre Grécia (Ergotelis), Israel (Maccabi Haifa) e Inglaterra (Nottingham Forest), antes de regressar para ficar no Partizan, em 2017.
Na zona mista, Matic já tinha passado, dizendo que gostava de ter passado à fase seguinte também para frustrar as ambições de José Mourinho (que queria que o seu jogador no Manchester United tivesse um período maior de férias para surgir mais “solto” para a próxima temporada), tal como Zivkovic e Jovic que fugiram aos jornalistas portugueses (Observador, Expresso e MaisFutebol). Kolarov seria o último mas pelo meio haveria ainda Vladimir Stojkovic, que percebe português, é capaz de dizer algumas coisas mas não praticava há algum tempo e estava como que “enferrujado”. A conversa acabou por ser num misto de português (com palavras como “não sei”, “sobrinho”, “irmão” etc.) e inglês, mas entendemos na mesma.

Stojkovic, de quando em vez com estilo mais de andebol, evitou por várias vezes o golo de Neymar (ALEXANDER NEMENOV/AFP/Getty Images)
O que é que achaste do jogo com o Brasil e da eliminação?
Brasil, Portugal?
Portugal. Entendes português?
Um bocadinho mas não falo há muito tempo… O Brasil é nesta altura uma das melhores equipas e pensamos sempre que conseguimos fazer alguma coisa mas a qualquer momento eles mostram como são fortes. É isso…
E agora, o futuro? Vais continuar no Partizan?
Não sei se vou continuar na Sérvia, vamos ver.
Saudades de Portugal, tens? Tens lá família ainda.
Sim, tenho lá o meu sobrinho que joga na equipa B do Sporting, irmão, mulher do meu irmão. Talvez lá vá de férias.
Como vai ser com o teu sobrinho?
Ainda não sei bem, sei que a situação não está muito boa. É uma boa equipa, um grande clube mas não sei como vai ser.
E sobre tudo isto que se tem passado no Sporting, o que achas?
O que me surpreende é que nos últimos dez anos estão sempre próximos de fazer alguma coisa e no final nada…
E sobre o Rui Patrício?
É um bom rapaz, um bom guarda-redes mas não estou lá para saber o que se passou, não sei sobre isso, os problemas…
Perguntava como guarda-redes, a tua opinião.
É um bom guarda-redes, com confiança, que esteve no Sporting nos últimos dez anos e agora desejo-lhe o melhor na Premier League.
Vais lá de férias a Lisboa este ano?
Sim, talvez vá a Lisboa ver o meu irmão e o meu sobrinho na próxima semana.
É normal ires a Portugal?
Sim, já estive por exemplo quando foi o dérbi do Sporting com o Benfica, que empataram 1-1 com um livre direto [Lindelöf] e acabaram por ganhar a Liga no final da época. Estava num centro comercial e adeptos do Sporting olharam para mim, parecia que conheciam mas não sabiam ao certo se era eu ou não. Já lá estive há muitos anos…