Primeiro, foi o papel higiénico, que desencadeou uma caça mais viral que o próprio vírus. Depois, com os ânimos mais serenados e a resignação face ao confinamento, assistimos a nova febre — que mais uma vez não era sintoma de Covid-19: chegara a vez dos padeiros domésticos mostrarem o que valem, com as manobras a terminarem no forno e com os stocks de farinha e fermento esgotados em muitas prateleiras de supermercado. Agora, aquela que ficou cunhada como “pãodemia” assume um novo grau de dificuldade e dedicação, que entretanto pintou o Instagram de todas as cores.
É por aqui que vão florescendo os resultados da confeção de #gardenfocaccia, neste caso focaccias que mais parecem verdadeiros jardins ou telas ilustradas, uma tendência que começou a ganhar força durante o mês de abril, como narrava o The New York Times, apelando aos dotes de decoração da cada cozinheiro, mas que na verdade firmou raízes ainda em fevereiro.

Terry Culletto, ou Vineyard Baker, trabalha a partir de Massachusetts © vineyardbaker
Quando dizemos que alguns destas variedades de pão concorrem com quadros famosos, a comparação é mais que justa. Afinal, há mesmo quem pisque o olho aos girassóis de Van Gogh ou outros motivos à altura desta “foccacia art”, como também lhe chamam todos aqueles para quem a simples versão com azeite e alecrim é demasiado minimalista para brilhar online ou à mesa.
Para seguir as receitas e a impressionante perícia da padeira Teri Culletto, pode acompanhar as suas criações no seu Vineyard Baker, mas prevenimos que a missão é tão cirúrgica que poderá ser necessário o recurso a pinças, entre um festim de ervas frescas, alcaparras, azeitonas, milho e outros elementos que exigem precisão.
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Se os olhos saboreiam antes da boca, não há como não dar atenção ao detalhe que cada um destes exemplares exibe. De resto, o interesse de Culletto é bem anterior a quarentenas: foi em 2018 que começou a estudar as origens da foccacia. Uma inspiradora visita ao Museum of Fine Arts de Boston fez o resto. Mas por estes dias, não falta quem tente seguir as pisadas. Ah, e se prefere Miró ao génio holandês, nada tema. Basta conferir o vídeo em cima para mais uma ilustrada dentada em breadart–ou pelo menos ficar de boca aberta com a imagem final. A assinatura pertence a Eleonora, especialista em #breadart e consultora de vinhos.
Se o seu prato prefere o pão de forma, sobretudo tostado e ao pequeno-almoço, uma designer japonesa, Manami Sasaki, também pensou no seu caso. Falta saber se terá coragem de devorar o repasto depois de olhar bem para elas.

A italiana Ivonne, aka fiabe_di_frolla, mostra o que vale a contar histórias que vão ao forno © Instagram fiabe_di_frolla
Não aprecia a jardinagem? E que tal saltar diretamente para os contos infantis? Não demora muito até percebermos que moda conhece uma série de ramificações possíveis, com as investidas sobre o pão a passarem até, imagine-se, pela recriação da saga do Capuchinho Vermelho e do Lobo Mau. A partir daqui, podemos considerar que o pão é mesmo o limite. Tudo o que precisa é de uma receita básica e uma imagem para replicar, se o seu desejo de replicação chegar a esse pormenor. Caso não, use a abuse da sua imaginação.

© Instagram Alexandra Palla
Para uma versão mais monocromática e clean, espreite o que a food blogger Alexandra Palla anda a fazer, que também não demorou a responder ao desafio estimulado pelo The New York Times. Um pouco por todo o mundo, a pergunta é inevitável e a resposta parece relativamente fácil: serão estas foccacias ajardinadas os novos banana bread, outro passatempo doméstico que encheu as redes nas últimas semanas? Fama pelo menos têm, proveito esperamos que também.