1Dividir para conquistar (ou para reinar) é uma velha máxima da política desde tempos ancestrais. Já Maquiavel ensinava que o líder militar tem de dividir o inimigo promovendo a desconfiança entre as suas forças ou a separação dos seus homens. Só assim será possível enfraquecê-lo para o derrotar no final da batalha.
É precisamente essa estratégia que Costa está a aplicar sempre que faz questão de falar publicamente sobre a sua sucessão. Há dois anos avisou que ainda não tinha metido os papéis para a reforma mas desde então já lançou vários nomes para a sua sucessão. Se em 2019 só se falava de Pedro Nuno Santos e de Fernando Medina, hoje fala-se também de Ana Catarina Mendes e de Mariana Vieira da Silva. Sendo que o próprio António Costa lançou na entrevista que concedeu ao Observador mais outro nome: Marta Temido.
O aparecimento de tantos nomes — alguns deles pela voz do próprio líder — só pode ter uma explicação: Pedro Nuno Santos é, de longe, o que está mais bem posicionado para um dia conquistar o poder no PS e Costa não quer que isso aconteça. Devido à fraca influência interna dos restantes putativos candidatos — dos restantes, só Ana Catarina Mendes terá alguma influência (mesmo assim diminuta) no aparelho partidário por via dos seus anos como secretária-geral adjunta.
É por tudo isto que António Costa gosta de lançar sucessivos remoques nos últimos anos a Pedro Nuno Santos. No Congresso do PS chegou a dizer que o seu ministro da Infraestruturas ou “se tinha deixado dormir ou furou um pneu” para explicar o seu atraso. Florentino como sempre, uma ‘boca’ de Costa não é uma simples ‘boca’. É um remoque, é um pequena tentativa de enxovalhar para por em causa a credibilidade e a autoridade de quem ataca — no caso, Pedro Nuno Santos.
Marques Mendes tem razão: “Para António Costa o futuro líder do PS pode ser qualquer um menos Pedro Nuno Santos”.
2 É bastante provável que António Costa esteja a atingir o auge do seu poder como primeiro-ministro e como líder socialista. Reeleito secretário-geral do PS com uns norte-coreanos 94% dos votos, com um partido unido em redor da sua figura, com uma vantagem clara em todas as sondagens face ao PSD, tendo como rival um dos líderes da oposição mais incompetentes de sempre (que até se dá ao luxo de se armar em cigarra e passar o mês de agosto inteiro de férias na bela terra de Darque quando o primeiro-ministro trabalha durante os primeiros 15 dias de agosto) e com mais uma vitória clara e esmagadora à vista nas próximas eleições autárquicas de setembro (a sua quinta vitória consecutiva) — com tudo isto, Costa faz questão de agir como aqueles velhos monarcas no trono há muito tempo: diverte-se com as intrigas e com os jogos da corte e ainda inventa nomes de putativos sucessores para distrair as massas.
O país? Pouco interessa, a não ser as promessas a torto e a direito para tudo e para todos como se já estivesse na campanha para as legislativas de 2023.
Costa até se dá ao luxo de brincar com a sua sucessão no PS. Pior: mais do que brincar, António Costa gozou mesmo com todos os protocandidatos a sucessores quando, em entrevista ao Observador, apontou uma recém-militante, Marta Temido, com uma das suas prováveis sucessoras. Alguém que acabou de chegar ao partido e que, por isso mesmo, não é elegível neste momento para os órgãos nacionais. Se não fosse a máscara que lhe tapava o rosto, certamente que teríamos visto Costa a sorrir de orelha a orelha.
António Costa gosta de atirar areia para os olhos dos mais incautos para os distrair com fait divers que nada interessam face às reformas que o PS não promove em nome de um país mais competitivo que permita uma subida sustentada do poder de compra dos portugueses por via do aumento de riqueza promovida pelos agentes económicos. Para Costa, é o Estado que promove a riqueza, não é o setor privado.
3
O problema de António Costa é que ele não é um monarca — até é líder de um partido com fortes tradições republicanas. No PS, como Francisco Assis, recordou muito bem em entrevista ao Observador, “o conceito de ‘preparar a sucessão’ é inaplicável num partido democrático, não estamos numa lógica dinástica. (…) Nunca foi assim e quando é dá mau resultado”, disse o atual presidente Conselho Económico e Social. Sendo eu um republicano convicto, não poderia estar mais de acordo.
A postura de velho monarca, contudo, vem outra vez ao de cima quando até insiste em enviar um recado para o Presidente da República através da representante de Belém presente no Congresso e aconselha-o publicamente o Presidente da República a manter “as características que os portugueses tanto apreciaram no seu primeiro mandato”. Ou seja, não hostilizando nem obstaculizando o seu Governo.
De forma absolutamente extraordinária, o primeiro-ministro quer condicionar a ação do Chefe de Estado que foi eleito diretamente por mais de 2,5 milhões de votos (cerca de 60% dos votos). Aguardemos pela resposta de Marcelo.
Não menos surpreendentemente, é a insistência que António Costa faz na tese de milagre económico, manipulando de forma grosseira a comparação do desemprego do crise de 2011/2014 com os números do desemprego da crise pandémica Comparando, portanto, um momento de fortes restrições financeiras devido ao facto de o Governo do PS de José Sócrates ter chamado a troika em 2011 para evitar a bancarrota, com um momento em que o Governo de António Costa não só tem luz verde para gastar dinheiro sem olhar ao défice orçamental, com ainda recebe muitos milhares de milhões de euros de empréstimos da União Europeia para combater a crise pandémica.
Uma habilidade — mais uma! Como esta da sucessão do Rei Costa I. Pode ser que em Bruxelas também apreciem muito os seus truques e os seus colegas europeus o levem em 2023/2024 para um importante cargo europeu. Os súbditos portugueses agradeceriam.
Siga-me no Facebook (@factoserigor e @luis.rosa.7393), Twitter (@luisrosanews) e Instagram (@luis.rosa.7393)