Cerca de duas semanas depois de Carlos Moedas ter apresentado a sua candidatura a Lisboa, surgiu o argumento de que ‘Moedas não tem ideias’. Parece que se exige a Moedas o que não se exige a qualquer outro candidato: um programa eleitoral duas semanas depois de ter apresentado a sua candidatura. Não deixa de ser um bom sinal. Significa o reconhecimento de tudo o que se espera de Moedas.
As propostas políticas consistentes devem demorar algum tempo a ser preparadas. Exigem um trabalho bem feito, profissional e competente. Nenhuma candidatura credível apresenta ideias ou propostas sem estarem bem trabalhadas. Há equipas de grande qualidade e competência a trabalhar nas ideias centrais da candidatura de Moedas. A seu tempo, serão apresentadas propostas específicas sobre temas como a habitação, os transportes públicos, a preparação para enfrentar pandemias no futuro, apoios à reconstrução económica do comércio e da restauração, o apoio à solidão de muitos cidadãos mais idosos, e o combate à pobreza nos bairros mais carentes. A esquerda deve estar preocupada com as ideias de Moedas, mas as direitas não devem andar nervosas. Vale muito mais um programa bem pensado e bem trabalhado, capaz de construir uma maioria entre o eleitorado, do que apresentar ideias avulso para alcançar a popularidade fácil e passageira. Não importa ter apenas ideias. Interessa sobretudo apresentar boas ideias. As boas ideias exigem tempo e trabalho.
Mas um conjunto de boas propostas políticas constitui apenas metade do caminho para uma vitória eleitoral. A outra metade chama-se luta política. A eleição em Lisboa será um combate político muito duro, no qual os socialistas usarão todas as armas ao seu dispor, como se viu nas últimas semanas. Já fizeram um vídeo com mentiras descaradas sobre o passado de Moedas. E esta semana, por proposta do PS, o Parlamento chamou Moedas para depor na comissão sobre o Novo Banco. A comissão parlamentar é sobre o Novo Banco, cuja venda coube ao governo socialista, mas as perguntas a Moedas serão sobre o antigo BES. Não haja qualquer dúvida: Se Moedas não fosse candidato a Lisboa, nunca seria chamado ao Parlamento. Chama-se a isto a instrumentalização da democracia parlamentar para fins eleitorais.
Esta farsa política mostra uma diferença fundamental entre as candidaturas de Moedas e de Medina. Moedas candidata-se para servir a cidade e melhorar a vida dos lisboetas. A candidatura de Medina faz parte da estratégia de poder do PS no país. Para os socialistas, a Câmara de Lisboa é um elemento central do seu poder politico. Não foi por acaso que o PM já apareceu a atacar a candidatura de Moedas. Com Medina, Lisboa continuará a ser um instrumento do poder do governo, como se vê pelo facto do Presidente da Câmara de Lisboa fazer comentário politico semanal onde defende o governo, o que aliás enfraquece a qualidade da nossa democracia – durante quanto mais tempo Medina continuará a fazer batota política?
Ninguém defende que a Câmara de Lisboa faça oposição ao governo – e como Comissário, Moedas mostrou que sabe separar as suas funções das relações políticas com o governo. Mas a qualidade da nossa democracia exige uma autonomia clara de Lisboa perante o governo central. Essa autonomia só será garantida com a eleição de Moedas.
A verdade é que Medina foi, é e será o número dois de António Costa. Foi nessa qualidade que chegou a Presidente da Câmara e é nessa qualidade que Costa o quer ver como o futuro líder do PS. Costa precisa de Medina em Lisboa para evitar que Pedro Nuno Santos chegue a líder do PS. Para os socialistas, Lisboa não é apenas parte da sua estratégia de poder no país, mas também das lutas pela liderança do partido. Os lisboetas devem ter cuidado. Podem estar a votar em Medina e acabar com outro Presidente em Lisboa, como aconteceu no passado com António Costa. Pelo contrário, Moedas não é o número dois de ninguém e se for eleito cumprirá o mandato até ao fim. Lisboa merece ser muito mais do que um instrumento do PS e do governo.
Para vencer a eleição para Lisboa, Moedas terá que unir o espaço não socialista, do centro até à direita. Ao contrário de todas as outras eleições, estas são eleições de um confronto entre dois. Ao contrário das eleições presidenciais, não há duas voltas. Por isso, não se pode unir mais tarde o que começou separado. Ao contrário das eleições legislativas ou na Madeira e nos Açores, não se podem fazer maiorias para afastar o candidato mais votado. Quem tiver mais um voto é eleito Presidente da Câmara. E só dois podem ganhar: Medina ou Moedas.
Os eleitores do centro e da direita, tentados a votar na Iniciativa Liberal e no Chega, devem pensar muito bem sobre a natureza da eleição de Lisboa. Se querem derrotar Medina, devem votar em Moedas. Se votarem noutros candidatos, estão a votar na vitória de Medina. Não há uma terceira verdade.
Entendo que a IL e o Chega coloquem a estratégia de consolidação partidária à frente do interesse dos eleitores não socialistas. Mas esses eleitores não o devem fazer. De resto, as propostas políticas de Moedas serão do agrado dos eleitores que se consideram mais liberais e também daqueles que estão desiludidos com a vida política e, sobretudo, com o poder socialista. Mais importante, as propostas de Moedas mostrarão as profundas diferenças em relação a Medina, destruindo o argumento da IL e do Chega sobre as semelhanças entre os dois.
Por fim, numa luta a dois — entre o socialismo e o centro direita — os candidatos e os líderes da IL e do Chega vão ter que dar explicações aos seus eleitorados. O candidato do Chega vai ter que explicar por que razão está a ajudar o PS a vencer na capital do país. O candidato e o líder da IL vão ter que explicar por que razão o liberalismo de Moedas não foi suficiente para ter o apoio do partido. Por exemplo, gostaria muito de saber por que razão Rui Moreira é suficientemente ‘liberal’ para receber o apoio da IL, ao contrário do que acontece em Lisboa? Bem sei que a IL gosta de se comportar como uma espécie de notário que passa certificados de liberalismo aos outros. Mas as propostas de Moedas vão mostrar que o liberalismo já existia antes da IL e existe fora dela. E a luta política de Moedas contra Medina vai demonstrar aos eleitores que, em Portugal e em Lisboa, o principal adversário do liberalismo é o socialismo.