José Mourinho já foi um treinador mais agarrado aos números. Numa primeira fase como forma de motivar os jogadores, num segundo momento de maneira a estudar melhor equipas e adversários, agora sobretudo para recordar os que têm memória curta sobre os feitos que alcançou ao longo de duas décadas no futebol internacional. Sobre o número de jogos na carreira, foi o próprio a admitir que só quando lhe disseram que se encontrava a oito ou nove dos 1.000 é que começou a seguir com mais atenção. Este domingo era o dia.
Mourinho diz que os jogos mais marcantes “foram aqueles que deram títulos”
“1.000 jogos são 90.000 minutos, mais descontos e prolongamentos… É muita coisa! Não mudou nada em mim, na minha essência como pessoa ou treinador. Tudo o que acontece tem um sentimento de déjá vu, parece que tudo me aconteceu e nada me surpreende. No fundo, o valor da experiência, um capital que muitos tendem a desvalorizar, mas que, tanto no futebol como na vida, tem um valor muito grande. Mais marcante? O próximo jogo, e o próximo, e o próximo e sempre o próximo… até ao ultimo. O que me falta ganhar? O próximo jogo porque títulos seria sempre repetir o que já ganhei. Quero ganhar ao próximo, quero levar os meus jogadores, o meu clube e os adeptos do meu clube a serem felizes, a experimentarem sensações desconhecidas para eles, de acordo com o nosso potencial enquanto clube”, comentou à agência Lusa.
Tudo começou em 2000, logo com uma pesada derrota pelo Benfica diante do Boavista, passou pela União de Leiria, arrancou a nível de títulos no FC Porto e logo com duas épocas de sonho em que além de ser campeão ganhou uma Liga dos Campeões e uma Taça UEFA. Daí para a frente, entre Chelsea, Inter, Real Madrid, uma nova passagem pelo Chelsea, Manchester United e Tottenham, voltou a ser campeão europeu, ganhou mais troféus nacionais e só mesmo nos spurs não fez qualquer festa entre um total de 25 títulos que ainda assim não refletem a marca deixada pelo técnico português no futebol, dentro e fora de campo.
"I was lying to myself, I was lying to everyone – this was a really special game for me. And I am sure I will remember it for the rest of my life."
#ASRoma #RomaSassuolo— AS Roma English (@ASRomaEN) September 12, 2021
“Alcançar esta marca como treinador é uma conquista notável para José Mourinho, especialmente ao destacar-se e ganhar títulos em quatro ligas europeias e, claro, ganhar dois troféus da Liga dos Campeões ao longo do caminho. As conquistas dele sempre garantirão que ele seja reconhecido como um dos grandes treinadores”, destacou Alex Ferguson, uma das lendas dos bancos que está também na restrita liga dos 33 técnicos que conseguiram alcançar esta marca. No entanto, o momento era de festa mas tinha um jogo pelo meio, talvez o mais complicado que a Roma teve até agora neste arranque de temporada contra um Sassuolo que acabou as duas últimas épocas no oitavo lugar da Serie A e é uma das equipas que melhor futebol joga em Itália. E o jogo, fabuloso sobretudo na segunda parte com um sem número de oportunidades junto das duas balizas, acabou com a vitória 639 de Mourinho, que correu pela linha como em Old Trafford.
José Mourinho celebrating after a 92nd minute winner from El Shaarawy… on his 1000th game as professional manager. ???????????? #Mourinho
1️⃣0️⃣0️⃣0️⃣ games
6️⃣3️⃣9️⃣????wins
2️⃣5️⃣???? trophieshttps://t.co/ZQFTUKosEJ— Fabrizio Romano (@FabrizioRomano) September 12, 2021
Os romanos tentaram entrar por cima do jogo, explorando não só a profundidade de Tammy Abraham mas também a construção por dentro com Pellegrini e as diagonais de Zaniolo e Mkhitaryan. No entanto, e como seria de esperar de um Sassuolo que pode ter trocado de treinador após a saída de Roberto De Zerbi para o Shakhtar e a entrada de Alessio Dionisi mas continua com o mesmo futebol atrativo das duas últimas épocas, o encontro teve tudo menos facilidades, sendo que a partir do momento em que os visitantes estabilizaram o meio-campo veio ao de cima a qualidade ofensiva de Berardi, Jérémie Boga e Raspadori. O Sassuolo, entre algumas aproximações perigosas, chegou mesmo a marcar mas o golo de Berardi foi anulado (26′).
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A confirmação da decisão pelo VAR foi quase uma segunda vida para a Roma, que respirou fundo para uma partida que estava mais complicada do que já seria à partida. Abraham, um reforço que parece ter assentado que nem uma luva no modelo 4x2x3x1 que Mourinho adotou neste regresso a Itália, teve depois aquela que foi a primeira real oportunidades dos visitados, desviando pouco ao lado da baliza de Consigli um passe de Karsdorp (34′), antes do golo inaugural numa jogada de laboratório: Pellegrini viu a defesa do Sassuolo mais subida num livre lateral, assistiu para a entrada de Cristante e o internacional italiano fez o 1-0 (37′). Se os 1.000 jogos de Mourinho começaram no Benfica, o primeiro golo do milésimo foi de um ex-Benfica.
[Clique nas imagens para ver os golos do Roma-Sassuolo em vídeo]
No segundo tempo, e em mais uma mostra da qualidade do plantel do Sassuolo, Dionisi trocou Raspadori pelo também internacional Scamacca e subiu linhas em busca do empate, com o avançado a obrigar pouco depois Rui Patrício a uma defesa apertada para canto antes de outro antigo jogador do Benfica, o médio ofensivo Djuricic, fazer o 1-1 após uma grande jogada ofensiva entre Berardi e Scamacca (57′). O jogo ficava relançado e foi nesse momento de adversidade que apareceu a melhor Roma, com Abraham a acertar no poste após grande defesa de Consigli – sendo que na resposta foi Rui Patrício a brilhar, evitando os golos de Berardi e Boga isolados na área. O encontro estava eletrizante, com Pellegrini a falhar por pouco o 2-1 após grande jogada e Traoré a acertar no poste, e o melhor estava guardado para o fim com um fantástico golo de El Shaarawy aos 90+2′ a fazer o 2-1 e um golo anulado a Scamacca aos 90+4′ por fora de jogo.
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