Começa a ficar quentinha a corrida à Câmara Municipal de Lisboa. Com Fernando Medina sob fogo, a ter de lidar com um embaraço chamado Manuel Salgado e o sensível dossiê que envolve os festejos do Sporting, Carlos Moedas lançou uma campanha de cartazes contra aquilo que diz serem as promessas falhadas do adversário.
Já depois de ter dito que “as promessas na boca de Medina não valem nada”, Moedas apostou num conjunto de outdoors que deixam pouca margem para segundas interpretações. O social-democrata pintou alguns dos pontos centrais da cidade com frases como “Prometi mais habitação acessível mas deu barraca. Menos de 350 casas entregues em 6.000 prometidas” ou “Prometi 14 centros de saúde. Já consegui fazer um”.
O objetivo da campanha de Carlos Moedas é intensificar esta estratégia nas próximas semanas e meses. Para o social-democrata, o programa eleitoral com que Moedas se candidatou em 2017 e as escolhas que fez entretanto — como a construção de ciclovias em artérias muito movimentadas da cidade — transformaram-se no maior calcanhar de Aquiles do socialista.
Aos olhos da equipa de Moedas, de resto, não faltam exemplos de promessas por cumprir. A começar pelas tais 6 mil casas em renda acessível que Medina tinha prometido em 2017: até ao momento, segundo dados da própria autarquia, a Câmara disponibilizou apenas 921 fogos nestas condições (391 casas com renda acessível, mais 530 famílias apoiadas pelo Subsídio Municipal de Arrendamento).
Ainda antes do ataque de Moedas, fonte do gabinete do autarca explicava ao Observador que, afinal, esse objetivo será atingido até 2026 — ou seja, não estará sequer concluído no próximo mandato (2021-2025), mas no seguinte.

Também os 14 novos centros de saúde com que se tinha comprometido Medina estão longe de ser uma realidade. Neste momento, apenas um está em funcionamento (o do Areeiro) e existem outros oito em obra (Alta de Lisboa, São Domingos de Benfica, Marvila, Ajuda, Restelo, Benfica, Beato e Alcântara).
Destes oito que estão em obra, a autarquia espera que quatro estejam prontos até outubro. Dos restantes, foram lançados concursos públicos para três (Parque das Nações, Sapadores e Campo de Ourique) e dois ainda estão em fase final de projeto (Ribeira Nova e Telheiras).
Em 2017, a Câmara de Lisboa assinou o protocolo “Lisboa, SNS Mais Próximo”, que previa a construção de 14 novos centros de saúde até 2020. Já em março de 2019, o então vereador Manuel Salgado lamentava o atraso nas obras, mas justificava-o com o aumento dos preços na construção civil e garantia que 11 dos 14 centros de saúde estariam prontos até 2020. No melhor dos cenários, apenas cinco estarão prontos em outubro de 2021.
A candidatura do social-democrata alega ainda que Medina também não cumpriu a promessa de garantir “mais 650 camas de cuidados continuados, em especial ao nível das Unidades de Longa Duração e Manutenção”. Na verdade, olhando para o programa eleitoral do socialista, Medina apenas se comprometia a defender junto do Governo o aumento da resposta numa área em que a cidade de Lisboa era “extremamente deficitária”.

Os sociais-democratas apontam também outra falha: quando assinaram o acordo de coligação, PS e Bloco de Esquerda comprometeram-se a construir oito centros intergeracionais, com assistência sénior e cuidados de infância. De facto, em 2018, autarquia e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa assinaram um protocolo que prevê a construção, até 2026, destas oito estruturas. Mas nenhum destes espaços começou ainda a ser construído.
Os trunfos que a equipa de Moedas tem esgrimido não se esgotam aqui. O social-democrata já acusou o adversário de ter esquecido a promessa de construir 4320 novos lugares em parques dissuasores. Não está, mais uma vez, longe da verdade: desses, a autarquia apenas garantiu 1071. A autarquia prevê lançar os concursos públicos para construir outros 2.200 lugares nas próximas semanas, ficando, ainda assim, aquém dos compromissos assumidos.