“Obrigado, família e amigos”. A frase, simples mas cheia de significado, podia ler-se na camisola que Carlos Xistra tinha vestida esta segunda-feira, por debaixo da oficial com que arbitrou o FC Porto-Moreirense. Um FC Porto-Moreirense que foi o último jogo da carreira de 28 anos do árbitro de Castelo Branco, 20 deles na Primeira Liga. Ao fim de quase mil partidas, em lágrimas e tombado no centro do relvado do Dragão, Xistra apitou pela última vez.
“É um misto de sensações, muita nostalgia de 28 anos de carreira mas ao mesmo tempo uma sensação de dever cumprido. Dei sempre o meu melhor e tentei acertar todas as decisões. Evidentemente que nem sempre foi assim, queria acertar muitas mais. O problema é que nós quando erramos é sempre em benefício de uns, enquanto os jogadores só erram contra si”, disse o árbitro já depois do final da partida, acrescentando que “é importante que as pessoas percebam” que as equipas de arbitragem tentam sempre dar “o melhor”. “Nenhum árbitro é masoquista e maquiavélico ao ponto de querer ser notícia, porque isso só acontece quando corre mal. Queremos ser ainda melhores, mais competentes, ajudar o futebol português a evoluir, mas erramos como os jogadores erram”, concluiu Carlos Xistra, que deixou subentendido que irá provavelmente abraçar um novo desafio a nível institucional, sem dar mais pormenores.
Em jogo de consagração e antes de levantar o troféu de campeão nacional, o FC Porto goleou o Moreirense, marcou cinco vezes na segunda parte e não deu qualquer hipótese de reação à equipa de Ricardo Soares. Sérgio Conceição lançou Diogo Costa, Diogo Leite e Fábio Vieira no onze inicial, colocou Vítor Ferreira ao longo do jogo mas ofereceu minutos principalmente a um jogador: Mouhamed Mbaye, o guarda-redes senegalês de 22 anos que trabalhou com a equipa desde o primeiro dia da pré-época, atrás de Marchesín e Diogo Costa na lista de opções, e que se tornou esta segunda-feira campeão ao cumprir os 15 minutos finais da penúltima jornada da Liga.
Na flash interview, Sérgio Conceição abordou não só a entrada de Mbaye como a titularidade de Diogo Costa. “Tínhamos este jogo para preparar e preparei assim, dando minutos ao Diogo Costa, porque tem trabalhado na sombra. Os mais utilizados para estarem a grande nível precisam de um grande trabalho dos menos utilizados. Dou tanta ou mais importância a estes do que aos que jogam, porque os que jogam não precisam de moral, não precisam de palavras do treinador. Um grupo competitivo tem a ver com esse respeito relativamente às escolhas que o treinador faz durante o ano”, disse o técnico dos dragões, que acrescentou depois que recebeu várias mensagens de felicitações por parte de outros treinadores da Primeira Liga.
⌚️Apito final: FCP 6-1 MOR
Há quase três anos que o ????FC Porto não marcava 6+ golos numa partida da ????????Liga Portuguesa (Paços Ferreira no Dragão).
⚠️A contar para todas as competições, o ◾️SC Vila Real tinha sido a última equipa a sofrer 6+ golos dos dragões em 2018/19 pic.twitter.com/kysArWMoSS
— Playmaker (@playmaker_PT) July 20, 2020
“Recebi muitas mensagens de treinadores da Primeira Liga. A do Nélson Veríssimo também, mas muitos outros mandaram mensagens a felicitar pelo título. Agradeço a todos eles e a todas as pessoas que me felicitaram. Foi um título que deu muito trabalho e é merecido”, terminou Conceição, que garantiu que o FC Porto goleou o Moreirense porque se apresentou “com o espírito que teve contra o Sporting”. Com este jogo, o FC Porto igualou as maiores goleadas da temporada (5-0 ao Belenenses SAD e ao Coimbrões) e marcou seis golos num único jogo do Campeonato pela primeira vez nos últimos três anos.