Sugerir a ingestão de desinfetante para manter afastado o novo coronavírus é perigoso e não é recomendação a seguir, já vieram explicar vários cientistas depois de o presidente dos EUA ter falado nisso. Mas foi episódio suficiente para afastar Donald Trump das aparições diárias nas conferências de imprensa na Casa Branca para atualizações sobre a pandemia no país. Eram momentos de alto risco — como se verificou na quinta-feira passada — identificados pela assessoria de Trump que conseguiu tirá-lo de cena. Reverso da medalha: investidas várias no Twitter contra tudo e todos.
“Não vale a pena”. O desabafo justificativo de Trump depois de uma escorregadela que deixou o seu gabinete a tentar enquadrar e justificar por vários dias declarações que deixaram visivelmente incomodada, mesmo ali ao lado, a especialista e coordenadora do combate ao coronavírus Deborah Birx. Na sexta-feira, o presidente teve uma curta participação no briefing diário e este fim-de-semana não apareceu. No sábado, publicou um tweet a lamentar que só se escrevam “mentiras” sobre as suas conferências de imprensa onde só surgem “perguntas hostis”. Domingo, foi ao palco dessa rede social que se cingiu.
Here is Dr. Birx's reaction when President Trump asks his science advisor to study using UV light on the human body and injecting disinfectant to fight the coronavirus. pic.twitter.com/MVno5X7JMA
— Daniel Lewis (@Daniel_Lewis3) April 24, 2020
Os briefings diários pretendiam dar uma atualização sobre a evolução da Covid-19 no país, mas a presença de Trump rapidamente fez com que se tornasse antes palco de louvores à sua administração no combate à pandemia e também num campo de batalha público com os jornalistas presentes, com o presidente norte-americano a responder a perguntas com frases como “eu é que sou o presidente e você é fake news”. A sua equipa de assessores argumentou que aquela exposição diária estava a fragilizá-lo na batalha eleitoral contra Joe Biden. Um dos seu assesores contou, citado pelo Axios, afirma que disse ao presidente que aquelas conferências de imprensa “nao estavam a ajudá-lo” e que os mais idosos “estavam assustados. E o espetáuclo dele a combater a imprensa não é o que as pessoas querem ver” nesta altura.
No entanto, esse combate só mudou de palco, com Trump a passar este domingo entregue ao Twitter. Desde parabéns à mulher, Melania Trump, a reclamar para si o título de “presidente mais duro” da história dos EUA, passando por vários ataques a imprensa, tudo aconteceu na rede social a que o presidente norte americano recorre frequentemente.
Este foi um dia em que esteve especialmente ativo, começando o dia com uma reflexão sobre o seu próprio trabalho: “As pessoas que me conhecem e à história do nosso país dizem que sou o presidente mais trabalhador da história. Não sei, mas sou um trabalhador e provavelmente já fiz mais nestes três anos e meio do que qualquer presidente na história. As fake news detestam isso!.
The people that know me and know the history of our Country say that I am the hardest working President in history. I don’t know about that, but I am a hard worker and have probably gotten more done in the first 3 1/2 years than any President in history. The Fake News hates it!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) April 26, 2020
Depois disparou — numa série de tweets que acabou por deixar clara a razão da primeira reflexão — contra um artigo do The New York Times sobre a sua rotina por estes dias. Porque o jornalista “não sabe nada” sobre ele, porque “trabalha de manhã cedo até tarde” na Sala Oval e tantas vezes acaba a comer “um hambúrguer e uma Coca Cola Diet” no seu quarto à noite. Acabou a queixar-se de estarem sempre a tentar “humilhá-lo”.
Continuou, por largos tweets, a sua luta com a imprensa, comentando comentadores, atirando ao Washington Post, “um dos piores no setor das notícias”, e até partilhou um vídeo da cantora Kaya Jones (que participou na sua campanha eleitoral) e retweetou um gif de Biden. E fechou o dia a citar-se a si mesmo, num tweet de sábado em que aconselhava a que os americanos não se esquecesse que a “cura podia ser pior que o problema em si. Tenham cuidado e mantenham-se seguros, usem o bom senso”. Uma frase que muitos dos especialistas aplicaram ao mesmo presidente depois de o ouvirem falar no púlpito da Casa Branca daquela que seria uma “boa ideia”: o uso de raios ultravioletas e a injeção de desinfetantes para limpar o vírus do organismo.
So true! https://t.co/fyJgDBuKzM
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) April 27, 2020