Rui Rio entende que o “pior que poderia haver agora era uma crise política”. Mesmo perante a “bagunça” nas vacinas e os erros cometidos na resposta à crise sanitária, o líder do PSD garante que nem lhe passa pela cabeça exigir a demissão do primeiro-ministro e a queda do Governo. Sobre o Chega, Rio volta a não descartar um acordo com André Ventura desde que os termos desse entendimento não firam os princípios do PSD. E vai desvalorizando o fenómeno: enquanto Ventura tiver esta “bazófia”, não representa riscos para o sistema político.

Em entrevista a Miguel Sousa Tavares, na TVI, o presidente do PSD diz que tem de haver “sentido crítico” e que o “Governo deve fazer melhor”. “Temos os piores números do mundo e se temos os piores números do mundo fizemos coisas piores do que os outros países do mundo”, disse.

Confrontado com as críticas que o Governo faz ao PSD, por oposição ao PCP, que tem votado sistematicamente contra a renovação do estado de emergência, Rio falou em “ingratidão” e numa “tática política errada”. “Mas na posição em que estou não posso ter estados de alma.”

“Como partido alternativo de poder, se os portugueses não quiserem o PS, só há o PSD. Tenho de ter esse sentido de responsabilidade. Não posso ter estados de alma por mais que entenda que o PS se porta mal”, disse. “Tenho consciência de que, no momento em que vivemos, se começar a insultar o Governo, acabo por fazer aquilo que a maior parte das pessoas quer que eu faça que é gritar contra o Governo. Não devo aproveitar essa onda para criar um caos ainda maior.”

Sobre as falhas concretas do Executivo socialista, Rio não tem dúvidas: “Este Governo peca fortemente por falta de planeamento. Nas vacinas não há planeamento. Como é possível esta bagunça? Como é que sobram vacinas?”, questionou. “É uma aselhice de todo o tamanho.”

Desafiado a dizer se teria ou não demitido Marta Temido, Rio fez uma primeira paragem: “Como primeiro-ministro não tenho dúvidas que teria demitido a ministra da Justiça”. “Não entendo como a senhora continua em funções.”

Sobre a saída da titular da pasta da Saúde, o líder social-democrata não respondeu diretamente, mas criticou aquilo que diz ser o preconceito ideológico de Temido contra os privados, que permite que haja hospitais privados vazios enquanto o país tem hospitais públicos a rebentar pelas costuras. “Mais depressa ia embora por causa disso do que por causa das falhas.”

Quanto à vacinação dos detentores de cargos políticos, Rio criticou o critério usado por Eduardo Ferro Rodrigues em relação aos deputados, mas assumiu que se houver uma revisão desses mesmos critérios e em que se chegue a um grupo minimalista e “vital” para o funcionamento da Assembleia da República estará disposto a ser vacinado.

“Bazófia” de Ventura não assusta Rio

Confrontado com as declarações de André Ventura na noite eleitoral das presidenciais, quando o líder do Chega disse “PSD, ouve bem, não haverá Governo de direita sem o Chega”, Rio desvalorizou. “Enquanto for assim com essas bazófias nós, os portugueses, estamos bem com a extrema-direita“, disse.

Rui Rio lembrou, a esse propósito, os exemplos dos partidos de extrema-direita consolidados em Espanha, França ou Alemanha para mostrar a diferença face ao Chega de Ventura. “Eles não andam com essas bazófias nem vivem com esses clichés. A probabilidade de conquistarem eleitorado firme é grande”, notou.

O Chega não tem um pensamento estruturado, nem de longe, nem de perto. É uma federação de descontentes. Ninguém consegue ser um partido forte quando é pela negativa. A partir de agora ou se firma como um partido pela positiva, com ideias e recursos humanos, ou vai esvaziar”, defendeu.

Sobre eventuais acordos com o Chega, Rio foi taxativo: “Se alguma coisa nos for pedido que vá ferir os nossos princípios a resposta é ‘não’.”

O líder do PSD deu um exemplo prático: um eventual Governo social-democrata terá um conjunto de prioridades e que, num possível acordo com o Chega, só admitirá ceder na ordem de prioridades, nunca alterar a matriz do programa do PSD. “Não aceitamos nada que fira os nossos princípios.”

Já quanto ao dilema em que vivem os sociais-democratas — como convencer a direita sem destapar o centro e vice-versa –, Rio disse acreditar que os portugueses acabarão por olhar para o PSD como alternativa. “Se me mantiver no meu sítio, com um discurso mais moderado, a conquista ao centro pelo lado do PS aparecerá naturalmente face ao descalabro da governação do PS.”

Uma nota ainda sobre as presidenciais e sobre o segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa. Para Rio, o Presidente da República tem de ser “um pouco mais crítico e mais exigente com o Governo”. “Quando há esta falta de planeamento, este ziguezaguear do Governo, o Presidente tem de vir a terreiro. Tem de ser mais exigente com o Governo e ajudar o país.”