Francisco Rodrigues dos Santos resiste na liderança do CDS-PP. O líder dos centristas, eleito há um ano, foi a votos no Conselho Nacional do partido após o desafio de Adolfo Mesquita Nunes — que pedia a marcação de um Congresso eletivo — e a liderança foi sufragada: a moção de confiança do líder foi aprovada por 54% dos votos.
A moção do líder foi aprovada com 144 votos a favor (54,3%), 113 votos contra (42,6%) e 8 abstenções (3%), tendo sido votada por 265 conselheiros do partido. O resultado é uma vitória do líder do CDS, que resiste após um desafio lançado internamente por Adolfo Mesquita Nunes a que se seguiu uma horda de demissões na cúpula do CDS de “Chicão”. Mas é também um sinal de divisão do partido, que alimenta as dúvidas sobre a união em torno do sucessor de Assunção Cristas.
[“CDS irrelevante? A melhor resposta”: a reportagem em áudio para ouvir aqui:]
“Chicão” apela à união e pede “finalmente alguma paz interna”
No final da reunião, Francisco Rodrigues dos Santos notou que “o país esteve de olhos postos no nosso CDS” este sábado e reconheceu que “muito há para melhorar”. Apelou também à união interna: “Que saibamos todos contribuir para consolidar a alternativa política do CDS. Portugal precisa de uma alternativa de centro-direita, reformista, que só com o contributo do CDS é que poderá ser alcançado. Que o nosso partido possa finalmente beneficiar de alguma paz interna, sem nos desviarmos em querelas internas”.
Em declarações posteriores aos jornalistas, Francisco Rodrigues dos Santos dizia sair do Conselho Nacional do partido “legitimado”: “A clarificação está dada. Saio daqui presidente de todos os militantes do partido”, disse. Mas recusou o desafio lançado por Adolfo Mesquita Nunes para se candidatar a Lisboa, um desafio possivelmente “envenenado” dado o resultado histórico da anterior líder Assunção Cristas — a que “Chicão” sucedeu e com cuja liderança quis romper — para a mesma câmara nas autárquicas de 2017: “O CDS não é um partido de um homem só”.
Estou disponível para travar as disputas internas que sejam necessárias. Mas acho que esse assunto ficou clarificado. O importante aqui era ver confirmada a minha legitimidade”, apontou ainda o líder.
Adolfo aceita resultado mas nota: “Diziam que era impossível”
Já Adolfo Mesquita Nunes, cujas críticas à liderança e pedidos para uma mudança na direção do CDS (que pretendia corporizar) motivaram a marcação do Conselho Nacional, garantiu na rede social Facebook que vai respeitar “o resultado, assim como a avaliação positiva que o Conselho Nacional faz desta direção e da sua estratégia”.
Mas Adolfo Mesquita Nunes não deixou de analisar um resultado relevante e “que tantos diziam impossível”, que lhe dá capital político neste novo CDS de Francisco Rodrigues dos Santos e que legitima as críticas a um rumo recente que divide os centristas: “Soube desde o começo que o Conselho Nacional era, por natureza e pela sua presente exiguidade, o mais difícil órgão para apresentar uma proposta de marcação de Congresso. Mas foi aquele que escolhi para poder respeitar as regras estatutárias. Quero agradecer a todos os que acreditaram na mudança e que ela seria possível. O nosso resultado, que tantos diziam impossível por conta das inerências, fica a dever-lhes muito”.
Não tenho palavras para agradecer a motivação, o empenho e esperança que me emprestaram, e que explicam tanto do meu dever de militância. Agora há eleições autárquicas e nelas estarei empenhado, na minha terra”, apontou.
O antigo vicepresidente de Assunção Cristas mostra-se assim disponível para ir a jogo nas eleições autárquicas, sabendo de antemão que as autárquicas foram colocadas por Francisco Rodrigues dos Santos como um momento importante para avaliar a sua liderança: o líder do CDS admitiu a hipótese de marcar um Congresso e ir a votos pela liderança do partido mas só “após as autárquicas”.
Apoiantes de Mesquita Nunes galvanizados e de olho no pós-autárquicas. Deputados em xeque
Os resultados dessas eleições, que acontecerão daqui a cerca de seis meses, poderão definir o futuro próximo de “Chicão” e Adolfo no CDS. Mas também o eurodeputado Nuno Melo chegou a mostrar-se disponível, há poucas semanas, para concorrer à liderança do partido no próximo ano, caso se abra uma disputa interna e caso a liderança de Francisco Rodrigues dos Santos continue a dividir os centristas.