Com a liberdade com que aqui há quinze dias critiquei o Presidente da República por ter atrasado o anúncio da sua recandidatura, quero agora agradecer a Marcelo Rebelo de Sousa não só o anúncio, mas, sobretudo, a disponibilidade para assumir por mais cinco anos a chefia do Estado.

Como o próprio disse, os tempos não estão de feição. A era do Presidente Superstar já lá vai e o que aí vem, descreveu-o o próprio Marcelo, é “uma caminhada exigente e penosa “.

Sabemos todos que o político não ia resistir à tentação de uma segunda eleição, mas do que conheço do Presidente, também sei que o facto de ter já 71 anos e saber que o esperam mais cinco anos ainda com maior exigência não é um factor despiciendo, ainda por cima, tratando-se de uma pessoa reconhecidamente hipocondríaca. Faz sentido, portanto, que tenha colocado no texto da sua recandidatura os pratos da balança que pesaram na sua decisão final: “Não sobreponho o comodismo pessoal ou familiar de hoje à impopularidade e adversidades de amanhã.”

O centro direita em Portugal fica-lhe a dever um grande favor, numa época conturbada como se calhar não conhecemos desde os tempos pós-revolucionários e em que este espaço político está órfão de representação. Esta é, aliás, a principal razão para olharmos para a sua recandidatura como uma luz ao fundo do túnel, num país em crise económica, social e política. Agora, mais do que nunca, a sua permanência em Belém é vital.

Ao longo deste primeiro mandato, nem sempre concordei consigo, é natural, mas olhando retrospectivamente para estes cinco anos, não posso deixar de dizer que a sua presença atenta e activa no Palácio de Belém, nos quatro cantos do território nacional e junto da diáspora fizeram toda a diferença.

Politicamente, conseguiu um equilíbrio difícil sem desvios democráticos, sociais ou económicos. A sua influência pedagógica junto do Governo, os seus vetos, a divulgação da sua opinião sempre que isso foi determinante e a sua presença junto dos portugueses nos momentos mais difíceis, fez toda a diferença.

Só para dar alguns exemplos, devemos-lhe o facto de não ter sido aprovada uma lei de bases da saúde contrária aos princípios da liberdade de iniciativa, o travão na fúria regionalista que a esquerda se preparava para levar avante e, sobretudo, a sua presença, e consigo de todo o país, junto dos que mais sofrem na nossa sociedade.

Pareceu tudo fácil, mas não foi. O que fez, deveu-se à sua capacidade de análise, à sua habilidade política, à sua cultura e, não menos importante, à sua energia inesgotável.

Agora está no terreno para mais um combate político e já mostrou disponibilidade para debater com todos os seus adversários, como é digno de um verdadeiro democrata. É bom que o faça, para que os poucos que ainda não perceberam, percebam agora que têm na corrida o melhor Presidente e candidato ao lugar que o país já teve desde que se iniciou o regime republicano.

Como bom católico, sabe que os dons são para ser postos a render e a recompensa chegará multiplicada por cem, nesta vida ou na vida futura. É por tudo isto que lhe agradeço e lhe desejo o melhor para a campanha difícil que agora começa.