Na primeira intervenção oficial que fez depois de serem conhecidos os resultados oficiais que lhe garantiram a vitória nas presidenciais brasileiras, Jair Bolsonaro apresentou-se como um “defensor da Constituição, da democracia e da liberdade” — depois de, na campanha eleitoral, ter repreendido o seu candidato a vice-presidente, que propôs uma revisão constitucional feita por “notáveis”. Mais: segundo Bolsonaro, a sua eleição é a “celebração de um país pela liberdade”. Agora, diz, tem a missão de “pacificar”.
O Presidente eleito prometeu colocar o “Brasil acima de tudo” no seu mandato e garantiu que as palavras de respeito pela Constituição, com que pontuaria o discurso, são uma “promessa” — não são a “palavra vã” de um homem, mas antes um “juramento” perante Deus.
Faço de vocês minhas testemunhas de que esse Governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa — não de um partido, não é a palavra vã de um homem. É um juramento a Deus”, disse Bolsonaro.
Foi como que uma inflexão retórica face ao percurso que trilhou nos últimos meses, na campanha que o colocou no Palácio do Planalto. Marcado por um discurso que, em vários momentos, deu sinais de colocar em causa direitos políticos e sociais, Bolsonaro garantiu agora que “a liberdade” será “um princípio fundamental” de um Governo “constitucional e democrático”.
A liberdade de “andar nas ruas”, de “empreender”, a liberdade “política e religiosa” — ele que, há dias, ameaçou os “marginais vermelhos” com o exílio ou com a prisão —, a liberdade de “informar e ter opinião” — depois de lançar sucessivos ataques a uma “certa media” brasileira — e a liberdade de “fazer escolhas e ser respeitado por elas”. O Brasil será, promete, um país de “diversas opiniões, cores e orientações”.
A primeira imagem de Bolsonaro como Presidente eleito ficará colada à figura de Magno Malta. De olhos cerrados, o senador e pastor evangélico liderou uma oração com agradecimentos a Deus pelo resultado obtido este domingo nas eleições presidenciais. O ex-capitão do Exército falou logo depois, sem que os olhos se desviassem do discurso que escreveu para o momento em que as televisões entrassem em direto — e já depois da intervenção mais amadora, feita através da sua conta no Facebook.
https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/videos/945681038957259/
Nas redes sociais, no discurso que fez antes da sua intervenção oficial, Bolsonaro apresentou-se como o candidato “sem um grande partido, sem fundo partidário, com a grande media criticando o tempo todo”, uma comunicação social que o colocou “numa situação vexatória”. Mesmo assim, disse, conseguiu liderar “um grande exército, que sabia para onde o Brasil estava marchando e clamava por mudanças”.
Não podíamos mais continuar flirtando com o socialismo, o comunismo, o populismo e o extremismo da esquerda”, disse Jair Bolsonaro.
Logo a seguir, Bolsonaro voltaria a garantir que será o líder de um Governo que “defenda as liberdades dos cidadãos”, um Governo “constitucional e democrático”.
“Pacificar” uma “nação livre e próspera”
Bolsonaro também não adiantou muito sobre a equipa que vai juntar para conduzir os destinos de um dos maiores países do mundo nos próximos quatro anos. Disse que será um Governo formado por “pessoas com o mesmo propósito”, o de “transformar o Brasil numa grande, livre e próspera nação”.
Para isso, o novo executivo vai dar “um passo atrás, reduzindo a estrutura e as burocracias” para “desamarrar o Brasil”. Para trabalhar por um país com “mais Brasil e menos Brasília”, em que as contas públicas apresentem défices mais baixos, dívidas em queda e crescimento a subir. As “reformas” que pretende introduzir vão servir “para criar um novo futuro para os brasileiros”. Para todos eles, insistiu, num discurso apostado na mensagem de união:
“Não existem brasileiros do sul e do norte, somos todos um só país, uma só nação, uma nação democrática.”
No início da campanha oficial, Jair Bolsonaro foi alvo de um ataque com uma faca que o deixou debilitado durante várias semanas. Agora, lembrou esse acontecimento, dizendo que, no dia em que saiu do hospital, “no momento mais difícil desta caminhada”, o agora presidente eleito ganhou, “por obra de Deus”, uma “nova certidão de nascimento”.
https://www.facebook.com/jairmessias.bolsonaro/videos/2076031999084232/
Esse pendor vincadamente religioso já tinha estado presente na intervenção que, minutos antes de entrar em direto nas televisões, Bolsonaro fez no Facebook (e a que juntaria uma terceira mensagem, de novo nas redes sociais). “A nossa campanha, o nosso slogan, fui buscar ao que muitos chamam a caixa de ferramenta para consertar o homem e mulher, a Bíblia sagrada. Fomos em João 8:32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”, disse. “Seguindo os ensinamentos de Deus, ao lado da Constituição, inspirado em grande líderes mundiais e com a boa assessoria, isenta de indicações políticas de praxe”, Bolsonaro diz querer trabalhar para colocar o “Brasil no lugar de destaque”.
É com essa mesma convicção que afirmo: ofereceremos a vocês um governo decente, que trabalhará verdadeiramente para todos os brasileiros. Somos um grande país e agora vamos juntos transformar esse país numa grande nação. Uma nação livre, democrática e próspera. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, disse o presidente eleito.
Eleito com 55% dos votos, a missão imediata de Jair Bolsonaro, segundo ele próprio, será a de “pacificar o Brasil e, sob a Constituição e as leis, construir grande nação”.
[Veja o vídeo: #EleConseguiu. A noite em que o Brasil virou]