“Boa noite, senhoras e senhores, the night of the silver bullet começará dentro de dez minutos” anuncia a voz retumbante que enche o espaço do Clube União Banheirense “O Chinquilho”, na Baixa da Banheira, ainda com pouco público nas cadeiras de plástico. Fundado a 11 de maio de 1949, “O Chinquilho” é o segundo clube mais antigo da localidade e aqui praticam-se modalidades como o kickboxing, o karaté e as violentas danças de salão. As paredes estão decoradas com painéis de inspiração soviética ou não estivéssemos no centro nevrálgico do enclave comunista da Margem Sul. Mas, hoje, é a ideologia universal do wrestling que impera.

▲ As paredes do Clube União Banheirense estão decoradas com painéis de inspiração soviética @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Lá fora, no café, o ambiente está animado. Sócios e clientes vêem a bola, bebem minis, taças de tinto, petiscam queijinhos, presunto e pataniscas. Não se mostram muito interessados no evento prestes a começar. É a terceira vez que o Centro de Treinos de Wrestling, sediado na Academia Recreativa da Ajuda, traz o espectáculo à Baixa da Banheira. A logística é complicada e só é possível montar tudo graças ao auxílio de familiares e amigos, como Rúben Lemos, empresário, que está de serviço na banca onde se vendem máscaras de wrestling, porta-chaves, chocolates, pipocas, t-shirts e pudins.
Foi o filho de 10 anos, um dos alunos do CTW, que o convenceu a assistir a um espectáculo. Desde então, ajuda sempre que pode. Pensa que a modalidade precisa de apoios do Estado (como é que o liberalismo há-de pegar em Portugal?) e de uma maior cobertura dos media, que só se interessam “pelo que se faz lá fora”. É da opinião que o nível dos lutadores portugueses é bastante razoável. Tiago Milheiro, a.k.a. Red Eagle, acabou de regressar dos EUA, onde participou num torneio, e é presença regular em eventos por toda a Europa, o que prova a qualidade do grande impulsionador da modalidade em Portugal nos últimos anos. Rúben considera que o wrestling está a crescer em Portugal e que o difícil é fazer com que as pessoas venham a primeira vez. Quando vêm, gostam e regressam: “Começamos a encontrar muitas caras conhecidas”.

▲ Banca de merchandising @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Uma dessas caras é a de outro Rúben, 24 anos, acompanhado pelo pai, Rui, e que já assistiu ao espectáculo em Março. Nota-se que está ansioso pelo toque da sineta para ver os seus heróis e também os vilões: “Gosto quando eles se metem com o público, mandam bocas, provocam.” Realça o carisma de Red Eagle, mas o seu preferido é “aquele que vai ali com a camisola do Benfica”. Trata-se de Maddog Maxx, lutador inglês de meia-idade, cabelo comprido de motard e ar de frequentador assíduo de pubs. “É um alucinado”, diz Rúben, “da outra vez gozámos com o adversário dele, gritávamos ‘chicka, chicka’, que é galinha”, esclarece o adepto que também gostou muito do combate entre duas raparigas, Talia e Cláudia Bradstone. “Parecia mesmo a sério, foi muito intenso”, afirma. Apesar de ter consciência de se tratar de uma encenação, acha que os atletas correm riscos reais. “É uma brincadeira, mas podem-se aleijar”, corrobora o pai, “com uma queda ou um golpe mal dado”. Concordam que a modalidade precisa de mais apoios, pois ainda não se compara com o que se faz lá fora. “Da outra vez até estava mais gente”, mas com o Verão a estender-se até outubro e a selecção a enfrentar essa potência futebolística que é Andorra, o wrestling é divertimento secundário.

▲ Cláudia Bradstone é uma das lutadoras da tarde @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Chegam mais alguns espectadores, mas ao todo não ultrapassam as três dezenas. No ringue, sobre uma mesa verde de plástico, está o cinturão destinado ao vencedor do Torneio Mário Milheiro, cuja primeira ronda se disputa hoje. Três anos depois do primeiro espectáculo de wrestling profissional do CTW, é a primeira vez que a companhia organiza um torneio para encontrar o campeão. Entre atletas portugueses e internacionais, são dezasseis os competidores em busca da glória suprema.
Pela sala passeia-se um homem grisalho, de fato e laço, com papéis na mão. É o “announcer”, ou apresentador, um inglês de nome David Curle e que parece um mordomo de uma série britânica de prestígio. Há três anos a colaborar com o CTW, tem uma vasta experiência internacional a apresentar combates em Inglaterra, Hong Kong, Singapura e Dubai, depois de uma vida a trabalhar para o governo inglês: “Se lhe disser o que fazia vou ter de o matar”, o que me leva a crer que terá tido uma longa carreira numa qualquer repartição de finanças do Surrey. Não sabe porque é que regressa sempre a Portugal, “talvez seja por causa dos pastéis de nata”, e acha que é preciso trabalhar no duro para que a modalidade cresça. A culpa, segundo David é, em parte, da WWE, a empresa norte-americana de entretenimento que popularizou o wrestling em todo o mundo: “Em todos os países em que a WWE teve sucesso, a popularidade do wrestling local baixou. Aconteceu em Inglaterra também. A WWE matou o wrestling britânico.”

▲ É o “announcer”, ou apresentador, um inglês de nome David Curle e que parece um mordomo de uma série britânica de prestígio @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Em Portugal, houve uma geração que cresceu a ver os heróis da WWE na televisão, aos sábados à tarde: Bret Hart, Ted DiBiase, Tatanka, Papa Shango, IRS, entre muitos outros. As gerações seguintes conheceram outros heróis nas transmissões da SIC Radical e é inevitável que, em comparação com os padrões de produção hollywoodescos dos norte-americanos, o wrestling local pareça pobrezinho. David acaba de beber a sua Coca-Cola e de rever os papéis e dirige-se para o palco. Está na hora do espetáculo.
Com a palidez de Bela Lugosi, o apresentador cumprimenta os espectadores e pergunta-lhes se estão prontos para ver wrestling. Da plateia vem um tímido “yes” que obriga Mr. Curle a puxar pelas cordas vocais: “ARE YOU READY TO SEE SOME WRESTLING?” A resposta é agora mais convincente e o apresentador enuncia as regras do torneio, que terá a grande final no dia 11 de novembro, na Ajuda. Adianta que qualquer comportamento irresponsável por parte dos atletas acarretará a sua expulsão automática. São chamados ao ringue os árbitros, Afonso Coutinho e Luís Manuel.

▲ O primeiro combate opõe o “Pai Grande” Leo Rossi a Vítor Amaro @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
O primeiro combate opõe o “Pai Grande” Leo Rossi, 91 quilos de lutador da Margem Sul, a Vítor Amaro. A folha do espectáculo informa que esta não é a primeira vez que se enfrentam. Em setembro, no Fight Your Demons, lutaram pelo título nacional da APW e Amaro, com a intervenção de Red Eagle, foi o vencedor. Porém, hoje está impedido de combater devido a uma lesão no pé, contraída quando tentava executar uma variante de crossbody. No seu lugar estará Gabriel DeRose, presumível sul-africano com físico de cozinheiro de penitenciária. Leo Rossi é recebido com muitos apupos e alguns aplausos envergonhados. Alterna o discurso entre a primeira e a terceira pessoa, o que denota uma personalidade instável: “Eis que o Pai Grande vem. Sou a estrela e metem o Pai Grande no primeiro combate?”. Aparentemente, o primeiro combate é uma espécie de aperitivo para o prato principal. O Pai Grande não gosta da falta de respeito da organização, mas é difícil respeitar quem se apresenta em cuecas pretas com o nome Ro$$i estampado a letras douradas na parte de trás. Amaro olha para o Pai Grande e diz-lhe: “És tosco!”.
Os preliminares são intermináveis e quando o apresentador pede para tocarem a sineta o público finalmente reage. Pai Grande castiga o adversário até que este, com um golpe inesperado, atira-o para fora do ringue. O atleta da Margem Sul (aposto que é do Laranjeiro) nem parece estar a combater em casa. Pontapeia cadeiras e, de volta ao ringue, aplica uma série de patadas que deixam o sul-africano com dificuldades respiratórias. “E agora quem é tosco?”, pergunta o Pai Grande em tom de desafio. “És um tosco”, responde-lhe o público em perfeito uníssono. O árbitro procura acalmá-lo mas só consegue escapar in extremis a uma tentativa de agressão. Por fim, após nova série de golpes e voos acrobáticos, Pai Grande vence o combate, para tristeza dos espectadores, preocupados com as queixas lombares de Gabriel DeRose. Vítor Amaro, a coxear, despede-se do caloroso público banheirense.

▲ Leo Rossi não gostou de ser o primeiro a entrar no ringue @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
O segundo combate é duplamente misto, uma luta entre a auto-denominada ‘Rainha do CTW’, Talia, acusada de vir de Benfica, e Symbiote, que chega de Metropolis, acompanhado de Little J., seu manager. Talia é uma autêntica Wonderwoman de cabelo lilás, top vermelho e azul e botas brancas. Symbiote é uma fraca figura de 65 quilos, que a máscara verde e o boneco do Super Mário que lhe serve de amuleto não tornam mais ameaçadora. Talia, ciente dos sentimentos do adversário pelo boneco de peluche, rouba-lho, atira-o para o chão e pisoteia-o aos gritos. Está dado o mote para o confronto. Symbiote reage ao insulto estrafegando a adversária à boa maneira do Cais do Sodré. A rapariga reage com dois pontapés no estômago e um nas costas. Consegue imobilizá-lo no chão. O árbitro conta até dois, mas antes de chegar aos três Symbiote liberta-se, o que irrita bastante Talia: “Conta como deve ser!”, berra a lutadora na cara do árbitro. O “metropolitano” aproveita a distracção e aplica um knee drop na cara da oponente. De onde nos encontramos, o golpe parece bastante real. Symbiote é declarado vencedor e Talia abandona o ringue a cambalear.

▲ O segundo combate é duplamente misto, uma luta entre a auto-denominada ‘Rainha do CTW’, Talia, acusada de vir de Benfica, e Symbiote, que chega de Metropolis @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
O terceiro combate é uma autêntica luta de David contra Golias. João Milão, apelidado de ‘Guerreiro do Arco-Íris’, entra em palco com um casaco flamejante do qual pendem fitas coloridas. Os seus modestos 75 quilos parecem não ser suficientes para causar mossa a A-Buck, um congolês de 2 metros de altura e 105 quilos. Ninguém avisa o ‘Guerreiro do Arco-Íris’ de que já não estamos no Kansas. Apesar dos incentivos do público, é dominado com facilidade insultuosa pelo adversário, que se diverte a atirá-lo ao ar, a ameaçar golpes que não concretiza e, no cúmulo da infâmia, a humilhá-lo com chapadas. Por motivos insondáveis, Milão levanta-se sempre, quando o bom senso aconselharia a que se fingisse de morto. É todo ele uma minoria étnica em luta pela sobrevivência. Agora é encaixado no colo de A-Buck e nesta tarde não veremos uma mais perfeita simulação de violação.

▲ O terceiro combate é uma autêntica luta de David contra Golias @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Da plateia, uma criança quase em lágrimas pede ao jovem português para não desistir. Nesse momento, o lutador recupera milagrosamente as forças, sobe às cordas, salta num voo de Nureyev e, no que fontes próximas do wrestling chamam um Big Splash, aterra com estrondo sobre A-Buck. É provável que o barulho seja das costelas de Milão. A-Buck aperta-lhe o pescoço, insensível aos apelos humanitários do árbitro: “Don’t choke him!” Incomodado com o massacre, um honesto cidadão da Baixa da Banheira faz-se ouvir: “You suck!” O que acontece a seguir exige a mais absoluta suspensão da descrença, mesmo que, tratando-se de wrestling, uma parte da descrença tenha ficado à entrada: João Milão domina o adversário e, com toda a violência de borboleta assassina de que é capaz, derrota-o sem misericórdia.

▲ João Milão faz um Big Splash e aterra com estrondo sobre A-Buck @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Intervalo. Falamos com o miúdo que não se cansou de puxar por João Milão. Chama-se Diogo, tem sete anos e não tem dúvidas: “João Milão é o maior!”. Também gostou da Talia e do Gabriel. Gosta “dos que falam em português”. A mãe de Diogo sorri: “É isso, filho, temos de puxar pelos nossos.” Ainda penso em dizer-lhe que Gabriel DeRose veio da África do Sul, mas que direito tenho eu de aniquilar o nascente patriotismo deste petiz? Ali ao lado está outro Gabriel, de 14 anos, que veio com a avó, Fernanda. Já se imaginou a subir a um ringue mas ainda não ganhou coragem, nem sabe se tem vocação. O seu lutador preferido também é João Milão, que conhece há algum tempo, porque “tem amor àquilo que faz”. A avó gosta do Red Eagle pelas mesmas razões, “vê-se que tem paixão”.
E, depois da pausa, é mesmo a vez de Red Eagle entrar ao som de “All Night Flying”, dos Ibéria, mítica banda da… Baixa da Banheira. Esta é uma luta entre aluno e mestre. O “águia vermelha” foi treinador e mentor de Jay Knox na Academia de Wrestling de Al Snow, na Inglaterra. “Let’s get ready to rumble!”, diz Mr. Curle. Veremos se o discípulo conseguirá derrotar o mestre. Jay Knox trouxe de Portsmouth, de onde é originário, um bastão extensível que manobra com pouca destreza. O combate é um tanto desigual e o “Lutador que leva o Benfica no coração” arrasa Knox. Desde os tempos de Maxi Pereira que não se via um benfiquista a distribuir tanta fruta. Knox ainda reage, mas Red Eagle recupera e o combate termina com uma sensação de anti-clímax.

▲ É mesmo a vez de Red Eagle entrar ao som de “All Night Flying”, dos Ibéria @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
As emoções regressam com o quinto combate e a subida ao ringue do francês Hellmer, o “bearded french bully” vindo diretamente do pays réel maurrassiano e com vontade de pegar fogo aos banlieues portugueses. Recebe com agrado a animosidade do público e, antes de se ouvir a sineta, já está a aviar no adversário, outro lutador extravagante de fato dourado camp e o nome mitológico de “Golden Phoenix” (que também ficaria bem numa daquelas produtoras cinematográficas dos anos 80 que faziam os filmes do Van Damme). Não contente em impedir o renascimento da Fénix, o brigão francês espanca os árbitros. A organização desqualifica-o e atribui a vitória ao “Golden Phoenix” que se retira rapidamente para festejar nas urgências do Hospital Distrital do Barreiro. Mr. Curle expressa a desilusão pelo comportamento de Hellmer. Afinal, este é um espectáculo para toda a família e os mais novos deveriam ser poupados a manifestações de violência que só o professor Boaventura e a sua equipa seriam capazes de explicar de um ponto de vista sociológico.

▲ As emoções regressam com o 5º combate e a subida ao ringue do francês Hellmer, o “bearded french bully” @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
O sexto e penúltimo combate também é internacional. De Woodstock, chega o psicadélico Andy Hendrix para lutar contra o muito aclamado Maddog Maxx, cuja indumentária oficial – sobrecasaca e boina – faz dele um cruzamento entre um pinguim e um veterano da Primeira Guerra Mundial. O certo é que, como nenhum outro, puxa pelos espectadores, limpa o rabo à camisa de Hendrix, cacareja a gozar com o adversário (Rúben não resiste e levanta-se da cadeira aos urros: “Chicka-chicka! Chicka-chicka!”) e bebe uma cerveja de um trago. (Diga-se que nenhum dos contendores aparenta passar tempo desnecessário no ginásio.) É o momento alto de toda a tarde. Quando Hendrix se prepara para atacar Maddog à falsa fé, uma criança ao meu lado grita para o ringue: “Cuidado! Está atrás de ti!”. Talvez por não perceber português, Maddog é atingido na cabeça. O público, rendido ao inglês, não gosta e invectiva o agressor: “You’re still chicken! You’re still chicken!”. Maddog é derrotado, mas os espectadores retribuem-lhe a actuação com elogios e declarações de fidelidade. O momento pede um discurso: “Portugal é o meu país preferido, as pessoas são muito amáveis. Peço desculpa por não ter estado a 100%, mas vou voltar.” O público compreende e garante-lhe que ele ainda está aí para as curvas: “You still got it! You still got it!”.

▲ O sexto e penúltimo combate também é internacional @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Antes do derradeiro combate, é chamado ao palco o senhor Eugénio, dono do restaurante Horizon Motivation, principal patrocinador da prova, e que dedica umas palavras à equipa do CTW, pede mais apoios para a modalidade e elogia “esta nossa juventude.” Palmas. O espectáculo já vai quase em três horas e, por essa razão ou por falta de química, o combate entre “superkid” Nelson Pereira e Cláudia Bradstone fica aquém das expectativas. Segundo a organização, Nelson e Cláudia são amigos de longa data, mas a sua relação atravessa um “período menos agradável.”

▲ O espectáculo já vai quase em três horas e, por essa razão ou por falta de química, o combate entre “superkid” Nelson Pereira e Cláudia Bradstone fica aquém das expectativas @Henrique Casinhas
HENRIQUE CASINHAS / OBSERVADOR
Miss Bradstone sobe ao ringue com uma grande camada de nervos e desafia o “superkid” a mostrar o que tem, numa clara alusão sexual. Depois de um tête-à-tête que quase acaba num beijo, desatam à pancada. A rapariga sofre um bocado, mas quando se vinga é com extrema violência que deixa atordoado o oponente. Uma feminista banheirense grita “Bem feita!”. Após nova troca rotineira de agressões, outro crítico da plateia exprime o sentimento geral: “Está morno!”. E está. O “superkid” ganha sem convicção e guarda as últimas energias para um discurso comovente: “Queria dizer que não podia ter tido melhor adversária. Tivemos um desentendimento, mas somos família e as famílias desentendem-se”, diz com gravidade tolstoiana, para rematar: “Mas eu adoro-te, Cláudia Bradstone!” E selam o momento com um abraço prolongado e fraternal.
Parece ser o final possível, um tanto açucarado, para uma longa tarde de wrestling à portuguesa. No entanto, assim que o “superkid” se ausenta e enquanto Cláudia se despede do público, Talia, a lutadora de Benfica, sobe ao ringue e atinge a rival com uma cadeira. E é assim, com toda a beleza manhosa de um golpe à traição, que termina a noite da bala de prata. Não com um queixume, mas com o bang de uma cadeira nas costas de uma senhora.