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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Tentar perceber

O PSD e a social-democracia

07 out, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


É um mito a ideia que o PSD era social-democrata e depois se tornou neoliberal.

Nos últimos 43 anos muitas vezes tive que explicar a estrangeiros, sobretudo jornalistas, que PSD - Partido Social Democrata não queria dizer, em Portugal, que se tratasse de algo semelhante ao Partido Social Democrata alemão ou a vários partidos socialistas europeus. Tinha de chamar a atenção para que o PSD se poderia classificar de centro-direita e que o partido de centro-esquerda, socialista democrático, era o PS.

O PSD foi fundado na semana seguinte ao 25 de Abril. E com o nome PPD – Partido Popular Democrático, porque já havia um partido (mais um, pois na altura surgiam dezenas) com a designação Partido Cristão Social-Democrata. Este partido cedo se extinguiu, sem se ter sequer legalizado, tendo os três fundadores do PPD – Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota, todos antigos deputados da ala liberal do partido único do regime então derrubado – registado a “marca” PSD.

Viragem do país à esquerda

Importa ter em conta que, após a revolução de Abril e ao longo de vários anos, o centro político no país se deslocara muito para a esquerda. O próprio CDS, cujo líder e fundador era Diogo Freitas do Amaral, se apresentava como centrista, sendo o seu nome Partido de Centro Social Democrático. Mesmo assim, era frequentemente atacado como “fascista” e concorreu com várias limitações às primeiras eleições livres (25 de Abril de 1975, para escolher os deputados da Assembleia Constituinte, que iriam redigir a Constituição).

Ainda sob a liderança de Sá Carneiro, o PSD tentou entrar na Internacional Socialista. Mário Soares, que tinha excelentes ligações com destacadas figuras dessa organização, bloqueou tal entrada.

O PPD-PSD desses tempos conturbados até dizia defender uma sociedade sem classes. E o PS de Mário Soares afirmava-se “partido marxista”. Eram manobras de fachada para sobreviver num clima dominado pelo PCP e pela extrema-esquerda, e respectivos apoios militares.

Contra o colectivismo

O PSD tinha uma inspiração católica-social, bem como social-liberal e ainda uma linha tecnocrática-social. Sá Carneiro lutou sobretudo contra a tutela militar do sistema político e contra o partido comunista – o qual, aliás, promoveu uma vasta campanha de difamação de Sá Carneiro no final da década de 70.

Mais tarde, entre 1985 e 1995, Cavaco Silva, líder do PSD, foi primeiro-ministro. Procurou travar a estatização da economia, conseguindo – só em 1989! – que o PS aceitasse mudar a Constituição, acabando com a irreversibilidade das nacionalizações. E beneficiou de um período de expansão económica após a entrada de Portugal na então CEE, no início de 1986.

O segundo líder do PSD mais duradouro, depois de Cavaco Silva, foi Passos Coelho. Tentou reduzir a secular dependência da sociedade portuguesa em relação ao Estado, por isso lhe chamaram neoliberal. Mas a sua principal – e dificílima – tarefa foi enfrentar um resgate financeiro da UE, BCE e FMI. O empréstimo que estas instituições concederam ao Estado português vinha com duras condições.

Passos logrou que o país saísse do severo programa de ajustamento. Mas as medidas impopulares que teve a coragem de tomar valeram-lhe a hostilidade de muita gente, que o associa à austeridade. Nem sempre esta foi bem aplicada, mas globalmente era indispensável para que Portugal conseguisse atenuar os desequilíbrios das contas públicas e das contas externas, os quais tinham resultado do despesismo do último governo socialista de Sócrates.

A eleição de um novo líder do PSD deveria dar oportunidade a um sério debate ideológico. Mas duvido que tal aconteça: a ideologia desvaneceu-se nos partidos portugueses, tirando os de extrema-esquerda (que vivem dela). São agora, sobretudo, máquinas de dar empregos. No PSD a social-democracia vai encher discursos inflamados, mas pouco mais.

Comentários
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  • Jorge
    26 fev, 2018 Porto 19:06
    Interessante ler alguns comentários. De facto, esta choldra merece ter o Socialismo como referência política. É a ideologia dos pobres de espírito, dos invejosos, trauliteiros, incapazes e impostores. Somos e seremos sempre uma sociedade assente no pequeno favor, na chico-espertice e na dependência crónica do papá “Estado”. Por isso, não é de estranhar o autêntico ódio que determinadas classes sociais sentem por Passos Coelho, o único primeiro-ministro que afrontou o status-quo e alguns privilégios pornográficos que subsistem na sociedade portuguesa. Exemplo? Pensões de reforma superiores a 3 mil euros líquidos, num sistema de segurança social virtualmente falido. Outro exemplo? Rendas vergonhosas no sector da energia (já agora, criadas no consulado do cretino Sócrates) que o Governo de Passos atacou, criando um imposto especial. Passos não se limitou a tirar o país da bancarrota. Ele mostrou que o caminho que devíamos seguir era outro. A tralha socialista, marxista e trotskista, que quanto mais dependentes do Estado criar, mais votos compra, não lhe ia perdoar.
  • Justus
    08 out, 2017 Espinho 19:36
    Querer atribuir ao PSD uma ideologia, como o faz S. Cabral, é não perceber nada de política e sociologia. O PSD, a partir de Sá Carneiro, sempre foi um partido sem ideias, sem rumo e sem norte. Por isso, não tem e nunca teve, intelectuais e gente culta. Prossegue o poder pelo poder, para distribuir pelos correlegionários e amigos "tachos" e "benesses". Esta é a sua ideologia e apenas esta. Tirem-lhe o poder durante dez anos e o partido acaba. Não é por acaso que anda sempre à procura de um chefe, alguém que reparta com ele os louros das vitórias, porque só estas é que contam. A ideologia não conta para nada se não trouxer poder e "tachos" de imediato. Sem chefe com este cariz, o PSD é o eterno "órfão" do nosso sistema político.
  • Alexandre
    08 out, 2017 Lisboa 19:03
    Nova crónica de um autor apagado e muito parcial, em relação ao tema. A fraqueza literária e crítica de Sarsfield Cabral já deveria ter sido resolvida pela regime vivido na «Renascença». Infelizmente, por pura teimosia, a «Renascença» aposta na fraqueza literária e na parcialidade política aqui mais uma vez manifestada.
  • ALETO
    08 out, 2017 Lisboa 13:37
    Novo (ou velho) texto de Sarsfield Cabral sobre o seu partido político de eleição. Não nos esqueçamos que Sarsfield Cabral foi convidado por Aníbal Cavaco Silva para integrar o seu governo (de muito má memória), entre 1987 e 1995. Não nos esqueçamos, também, a forma como Aníbal Cavaco Silva se escapou do mesmo governo, deixando Nogueira de Brito arrecadar a derrota (o que prova a grande amizade e solidariedade que existe neste partido). O problema do PPD ou PSD é a forma como olha para a sociedade. É tudo feito e realizado para o individual e nada para o colectivo.
  • Carlos
    08 out, 2017 Lx 08:52
    Passos Coelho assusta muita gente desde o PCP a sectores do PSD, porque tem uma visão para o nosso país diferente daquela que foi construída desde a década de 1980. Passos Coelho considera que o crescimento económico não pode estar assente na acumulação de dívidas nem na predominância do Estado na economia mas sim numa economia competitiva e produtiva. Privilegia as exportações ao endividamento privado para alimentar o consumo. Os cortes em salários feitos por Passos são "neo-liberais", os mesmos cortes ou cativações feitos por um governo socialista são prova de "responsabilidade".
  • joao123
    08 out, 2017 lisboa 06:35
    A grande diferença entre PS e PSD é este último ter devolvido a terra aos seus donos idem para os prédios, compensado a perda de ações e criado de novo uma bolsa de valores , ter avançado ainda mais com as rádios privadas , ter avançado com a tv privada, com a banca privada e muito mais. Se não existisse PSD ainda só tinha-mos 2 canais e 10 rádios... à e muitos " meios de produção" e habitações ainda eram " colectivos"...
  • F. Almeida
    08 out, 2017 Porto 03:43
    Eu ouvi da boca de Francisco Sa' Carneiro: "PPD partido social democrata- PARTIDO DE ESQUERDA". Tenho admiração pelos bem intencionados da ALA LIBERAL. O Estado Novo ja' estava completamente desfasado da realidade e dos anseios do pai's. A ala liberal tentou a mudança, mas desconhecia o pai's real. Amuou e desistiu.Os militares por força da guerra do ultramar conheciam o pai's profundo e perante a inoperancia do governo arriscaram o 25 de Abril.Tal como no fim da Monarquia o pai's estava farto.Ninguém defendeu o regime. O PPD nasceu à pressa sem ideologia definida.Ninguém é insubstituivel, mas com a morte de Sa' Carneiro, ainda não conseguiu definir-se.Tem sido tudo o que os seus fundadores menos desejavam....
  • Ângela Veloso
    07 out, 2017 Lisboa 22:05
    O PCP promoveu uma vasta campanha de difamação contra Sá Carneiro até ao final dos anos 70? Refere-se ao roubo dos 33 mil da banca, o qual até ficou provado? Pelo seu texto, dá ideia que Sá Carneiro era um santo. Por acaso, estará recordado do que foi o seu governo «AD», entre 1979 e 1980? A sua crónica é a maior prova de fidelidade ao PSD que há memória. É, igualmente, uma vergonha para a memória de muitos portugueses que sofreram com a passagem dos governos de Sá Carneiro, Cavaco Silva e Passos Coelho.
  • Marco Visan
    07 out, 2017 Lisboa 17:14
    É muito falso da parte de Francisco Sarsfield Cabral vir aqui dizer que Pedro Passos Coelho logrou que o país saísse do severo programa de ajustamento. Quando decorreram as eleições legislativas de 2015, ainda o país estava em programa de ajustamento e Passos Coelho a fazer promessas falsas ao povo português na campanha eleitoral desse mesmo ano. É estranho como Sarsfield Cabral ainda se mantém num tema que pouco o dignifica. Basta ler as más críticas que alguns comentadores fizeram ao seu texto sobre Pedro Passos Coelho.
  • AH! SIM?
    07 out, 2017 lx 16:55
    Então só têm um caminho! Mudar o nome do partido e retirar-lhe a social democracia do nome!