Enviado especial do Observador à Rússia (em Moscovo)
Uma vaquinha, duas vaquinhas, outras tantas bandeiras brasileiras. Faltava ainda uma hora e meia para o início do segundo jogo do grupo H, que começara com uma surpreendente vitória do Japão frente à Colômbia (com menos um desde os cinco minutos), mas havia festa com fartura nos arredores da Otkritie Arena. Os adeptos polacos esmagavam, senegaleses poucos ou nenhuns, e foi então que começámos a perceber a quantidade de adeptos do conjunto de Tite que estão em Moscovo, onde a canarinha fecha a fase de grupos no dia 27, quarta-feira, frente à Sérvia, atual líder do grupo após vencer a Costa Rica por 1-0. “Estamos à espera aí da nossa turminha, somos oito e viemos de São Paulo vestidos assim como se fosse o Carnaval, pela festa. Como temos bilhete para o jogo do Brasil, aproveitamos e viemos também ver este, todos os jogos no Mundial são bons”, contam-nos Guilherme e Rodrigo, certamente dois dos adeptos que mais deram nas vistas esta tarde. E tinham mesmo razão. Aliás, mal imaginavam como o Brasil estaria indiretamente ligado ao resultado do jogo…
Rodrigo e Guilherme, a turma da vaquinha que veio de São Paulo e aproveita para ver o Polónia-Senegal pic.twitter.com/9KQJYOlxy3
— Bruno Pinto Roseiro (@BrunoPRoseiro) June 19, 2018
Olhando à volta, mais parecia termos voltado aos jogos na Polónia durante o Campeonato da Europa de 2012, tamanha era a falange de apoio do conjunto comandado por Adam Nawalka. Um topo deles, outro topo deles, a bancada oposta à central também… Mas onde andam os senegaleses? Não era muitos, mas bastaram cinco minutos para começarem a aparecer como só eles sabem, de reco reco, batuque e outros irmãos instrumentais na mão enquanto dançam em coreografias que sem serem ensaiadas roçam a perfeição simétrica. Afinal, tratando-se de um braço-de-ferro entre dois estilos quase antagónicos a nível de construção ofensiva, por exemplo, os africanos conseguiram entrar melhor no encontro. Sendo que, e antes de entrarmos no jogo, foram tão bem recebidos que os polacos estiveram a aplaudir o seu hino. O Mundial (também) é isto.
A Polónia, como era de esperar, entrou com mais posse e maior domínio territorial, mas não demorou até que perdesse o peito feito no assumir de jogo após dois lançamentos em profundidade das unidades mais avançadas dos senegaleses, Mbaye Niang e Biram Diouf, sempre tendo em vista também a grande referência da equipa, Sadio Mané. Na hora mais importante, a do último toque, havia sempre qualquer coisa que desafinava, mas o barulho dos instrumentos ia aumentando porque se percebia a capacidade da formação de Aliou Cissé, confortável e a gerir ritmos de jogo consoante as necessidades.
Não se pode falar propriamente em oportunidades flagrantes para nenhum dos lados, a não ser uns cruzamentos rasteiros e umas tentativas de remate que ainda conseguiram colocar o público de pé durante uns segundos. Mas havia uma grande diferença. Ou melhor, duas. No meio-campo, com Zielinski sempre a fugir ao jogo no corredor central, Krychowiak, um pequeno grande craque com a bola nos pés (jogou este ano emprestado pelo PSG no West Bromwich Albion, depois de brilhar no Sevilha), esteve sempre demasiado lento nas variações de flanco e ataque organizado; em contrapartida, Gueye, do Everton, tomou conta por completo daquele espaço, ou a rodar o centro de jogo ou a lançar em profundidade. No ataque, Sadio Mané foi conseguindo ser a muleta de Niang e Diouf quando jogava por dentro, ao passo que nem Błaszczykowski nem Grosicki, abertos nas laterais para jogar em campo grande, conseguiam servir Milik (primeira parte desastrada) e Lewansdowski.
POL-SEN, faltam 0'
Zero golos sofridos pela Polónia vs selecções africanas
1978????????1-0
1982????????0-0
1986????????0-0— Rui Miguel Tovar (@ruimtovar) June 19, 2018
Até que chegou o golo que faria o resultado ao intervalo, neste caso o primeiro sofrido pela Polónia contra conjuntos africanos em fases finais de Mundiais: variação de jogo com muito espaço entre setores, movimento interior de Mané a descobrir Gueye em boa posição para rematar, tentativa fraca mas desvio infeliz de Cionek para a própria baliza. E quem é este central (que falta faz o melhor Glik, central do Mónaco que teve problemas físicos e ficou no banco)? Essa é que é a história!
????????Senegal beneficiou do primeiro autogolo em ????Campeonatos do Mundo; é o 4.º golo na própria baliza na 1.ª jornada da fase de grupos:
????????Aziz Bouhaddouz
????????Aziz Behich
????????Peter Etebo
????????Thiago Cionek pic.twitter.com/8tA1QO8wW0— Playmaker (@playmaker_PT) June 19, 2018
Nascido em Curitiba, Thiago Cionek começou no Vila Hauer e passou para o Cuiabá antes de ter uma experiência na Europa, mais concretamente em Portugal, quando jogou no Bragança durante seis meses, antes de voltar para a América do Sul e representar o Clube Regatas do Brasil. Daí foi para a Polónia (os seus bisavôs são polacos), onde jogou quatro anos no Jagiellonia Białystok e obteve nacionalidade polaca em 2011, antes de rumar a Itália (Pádua, Modena, Palermo e SPAL). Esta semana, a Globoesporte fez uma reportagem com a família do central na sua cidade natal.
Os jornalistas senegaleses, grande parte com o mesmo polo azul escuro, estavam em delírio com o que se estava a passar, sobretudo o único que em vez de ter “Presse Senegal” nas costas tinha “Persse Senegal”, que saltava que nem um adepto ou um jogador. O intervalo chegava com a favorita Polónia a perder, de forma justa, por tudo aquilo que não fez e deixou fazer. Por isso, Nawalka não perdeu tempo e, perante as dificuldades físicas de Błaszczykowski, tirou o ala do Wolfsburgo, lançou Bednarek e desenhou uma linha de três defesas que pudesse dar outra largura ao jogo dos laterais Piszczek e Rybus.
⏰ 45’ | ???????? Polónia 0 – 1 Senegal ????????
Africanos em vantagem após 1ª parte sem remates à baliza, beneficiando do infortúnio do Ex-Desportivo de Bragança Cionek#POLSEN #laczynaspilka #GoGaindé #WorldCup #Mundial2018 pic.twitter.com/rJErM3TUNy
— GoalPoint (@_Goalpoint) June 19, 2018
Lewandowski, de livre direto, obrigou Khadim Ndiaye a defesa apertada para canto. Pouco depois, Piszczek, após cruzamento da esquerda, foi à área tentar fazer a diferença mas o desvio saiu por cima. Havia mais Polónia perante um Senegal que era incapaz de esticar jogo mas que acabou por aumentar a vantagem num golo caricato (60′): Krychowiak fez um atraso longo para Szczesny sem perceber que Niang já estava em campo (o avançado tinha saído para ser assistido e houve muitos protestos, alegando que o número 19 não recebeu ordem para reentrar), o guarda-redes teve uma saída precipitada da baliza e o dianteiro do Torino só teve de desviar, seguir em frente e empurrar para o 2-0 já mais celebrado por todos aqueles que… não eram da Polónia.
????????M´Baye Niang estreou-se a marcar na seleção do ????????Senegal (8 jogos); é a 2.ª máxima diferença de golos dos africanos num Mundial:
+3 golos vs ????????Uruguai [2002]
+2 golos vs ????????Polónia [2018] pic.twitter.com/qnQS69hobP— Playmaker (@playmaker_PT) June 19, 2018
Começaram as danças das substituições, as tentativas mal disfarças dos senegaleses perderem tempo mas parecia que tudo estava decidido, até porque não havia propriamente uma reação forte e com muitas oportunidades dos polacos para inverterem o resultado. No entanto, a quatro minutos do fim, um livre em posição frontal a meio-campo acabou por reduzir a desvantagem, com Krychowiak a aparecer da melhor forma ao segundo poste a desviar de cabeça sem hipóteses para Ndiaye. Os jogadores pediram o apoio do público, não se conseguia ouvir nada com a pressão que foi feita mas a mesma acabou por ser mais forte do que dentro delas. O encontro acabou, a primeira ronda do grupo H ficou fechada e, quando muitos pensavam que Colômbia e Polónia estariam na frente, é o Japão e o Senegal que lideram. E com futebol para chegar pelo menos aos oitavos.
⚠️44 anos ou 6 mundiais depois, a ????????Polónia volta a marcar num jogo de estreia num ????Campeonato do Mundo:
2018 ????????Krychowiak
1974 ????????Grzegorz Lato e Szarmach pic.twitter.com/qZcUy5PSqk— Playmaker (@playmaker_PT) June 19, 2018