– Podemos fazer um ponto?
– Claro que sim.
Leonid tinha o sonho de visitar a Academia Rafael Nadal, em Maiorca, e aproveitou um Campeonato do Mundo de Super Seniores em Espanha para realizar esse desejo. Lá, quis mais. Ou melhor, tentou mais. E quando o jogador espanhol conheceu a sua história, fez questão de brindar o tenista mais velho do mundo com um ponto que durou 30 segundos, como se estivéssemos num qualquer Grand Slam dos 20 que até aí tinha ganho (hoje 21). Depois desse momento, partilhado nas redes sociais pela Academia onde o jogador de 97 anos alinhava de t-shirt amarela e calções azuis como a bandeira do seu país, só ficava por sobrar mais uma vontade no plano desportivo: defrontar por um ponto Roger Federer. Até que a sua vida mudou.
“We need this war to stop. I want to play tennis”
Having lived through World War II, Ukrainian tennis legend Leonid Stanislavskyi continues to display bravery and defiance
Stay safe, Leonid ????????
— ITF (@ITFTennis) March 4, 2022
Em vez de andar a treinar e a disputar Europeus e Mundiais da sua categoria, está fechado na sua casa em Kharkiv. Por opção própria. Correndo riscos numa das cidades mais fustigadas pela ofensiva russa. À espera que tudo passe, que acabe a guerra, que a paz chegue para voltar a uma vida normal dentro do possível. Para voltar a ver a família que entretanto passou a fronteira para a Polónia. Para voltar a jogar ténis. “É um estilo de desporto elegante, que é um bom exercício físico e um jogo lindo. E tem mais uma coisa boa que é também muito importante – pode ser jogado por alguém de qualquer idade”, acrescentou sobre a escolha que surgiu por conselho de um antigo companheiro de exército… que era campeão nacional de ginástica.
Quando era mais novo, Leonid Stanislavskyi, que trabalhava como engenheiro na construção dos aviões soviéticos que combatiam os nazis, sobreviveu à Segunda Guerra Mundial. Hoje, liga a televisão e vê aquilo que achava ser impensável. “Nunca pensei que tivesse de viver mais uma vez isto, uma guerra ainda mais assustadora em que pessoas dos dois lados estão a morrer. Há mães a perderem as suas crianças, há mulheres que perdemos seus filhos e os seus maridos. O que é isto? No século XXI não pode haver guerra. É preciso travar esta guerra, têm de chegar a um acordo”, comentou em declarações à Reuters.
Leonid Stanislavskyi is the world’s oldest tennis player, and he’s decided to stay in Ukraine while Russia invades his home. After surviving WWII, he’s hoping to survive another war and play his favorite sport again. pic.twitter.com/e5MgHvfYxI
— CBS News (@CBSNews) March 6, 2022
O interesse pelo ténis chegou tarde mas a tempo, quando tinha já 30 anos e gostava sobretudo de natação que ainda hoje faz. Ou fazia. “A guerra começou no dia 24 e daí para cá praticamente não saí de casa. Vou ficando em casa… Tenho mantimentos, o frigorífico está cheio. Estou sentado em casa, sem poder fazer nada a não ser ver o que se passa… A minha filha Tanya está na Polónia e quer levar-me para lá mas decidi que ia ficar aqui. Como ouço mal consigo dormir à noite, não ouço nada. Ainda na última noite houve outra vez bombardeamentos e de manhã ouviram-se as sirenes”, explicou sobre a atual situação.
É o tenista mais velho do mundo mas agora não pode fazer mais nada a não ser esperar que nenhum desses bombardeamentos atinja a sua residência. No entanto, e mesmo não podendo fazer nenhum dos três treinos semanais que tinha como rotina há muitos anos, sabe bem aquilo que mais deseja além do fim do conflito: poder ainda marcar presença nos próximos Mundiais, que se realizam em abril na Flórida, EUA.
Leonid Stanislavskyi, un tenista de nacionalidad ucraniana, tiene 97 años y lleva más de la mitad de su vida jugando al tenis. Ostenta el récord Guinness como el tenista más anciano del mundo pic.twitter.com/86HyEa9weQ
— EL ESPAÑOL (@elespanolcom) March 7, 2022
“O ténis é a minha vida, o meu destino. Comecei a jogar ténis a nível competitivo quando tinha 90 anos. Já joguei no estrangeiro, já estive em Mundiais e Europeus. Medo? Não tenho medo de nada… Só espero que esta guerra chegue ao fim para poder voltar a jogar. Sei que se tivesse ido para a Polónia poderia estar lá a jogar mas preferi ficar em casa enquanto a guerra chega ao fim”, explicou o ucraniano de 97 anos, que foi o grande responsável por passar a haver torneios para pessoas acima dos 90 anos organizados pela Federação Internacional de Ténis depois de ter escrito uma carta à organização queixando-se da falta de competições.