“Queridos amigos e adeptos do nosso clube: temos uma guerra na Ucrânia. Tomámos a difícil mas segura decisão de dissolver as nossas equipas e deixar de competir na Liga dos Campeões. A partir de agora, todo o nosso dinheiro e todos os nossos recursos serão destinados a defender a Ucrânia para apoiar as nossas Forças Armadas na defesa territorial. Estou certo de que vamos ganhar. Agora, a única coisa que importa é a Ucrânia. Tudo o resto pode esperar”.
Foi assim, sem grandes rodeios, que o presidente do Prometey anunciou que a equipa de basquetebol do clube iria parar. Parar por completo: encerrar o pavilhão, deixar a liga ucraniana, abandonar a Liga dos Campeões e desistir da FIBA Europe Cup. Num comunicado em que também definiu que a língua russa será totalmente erradicada dos corredores do emblema, onde só o ucraniano poderá ser ouvido, Volodymyr Dubynskyi indicou ainda que todos os jogadores que o pretendam poderão unir-se livremente às frentes militares e combater com as próprias mãos. Para além do basquetebol masculino, também o basquetebol feminino e o voleibol, masculino e feminino, vão parar de forma indefinida.
A decisão do Prometey de parar as operações e alocar todos os recursos do clube à resistência ucraniana à invasão russa está a ter um impacto significativo no basquetebol europeu, onde a equipa tem alguma preponderância. O Prometey é um clube recente, tendo sido fundado apenas em 2018, mas nos últimos quatro anos conseguiu catapultar-se para o topo do basquetebol da Ucrânia e dar os primeiros passos nas principais competições europeias. Com origem na localidade de Kamianské, perto de Dnipro, o clube começou por competir na Higher League, a segunda divisão ucraniana, e terminou a temporada de estreia com 26 vitórias em 28 jogos, garantindo o primeiro lugar e a presença no playoff onde acabaram por assegurar a subida ao escalão principal.
Em 2021, com apenas três anos de história, o Prometey tornou-se campeão nacional, apurando-se para a Liga dos Campeões e para a FIBA Europe Cup que estava agora a disputar. Esta época ia pelo mesmo caminho: estavam na liderança da liga ucraniana com 25 vitórias em 26 jogos, no primeiro lugar do grupo da FIBA Europe Cup com três vitórias em três jogos e na luta pelo apuramento para os quartos de final da Liga dos Campeões. Agora, os objetivos desportivos passaram para último plano.
A decisão de abandonar todas as competições e encerrar operações surgiu depois de dias de verdadeiro pânico para a equipa de basquetebol do Prometey. Há cerca de três semanas, uma antes de a invasão russa arrancar oficialmente, o clube decidiu levar jogadores, equipa técnica e staff para a República Checa, numa espécie de exílio não oficial que pretendia escudar a preparação para os jogos europeus de toda a tensão e instabilidade que já se vivia na Ucrânia. Ou seja, a equipa do Prometey estava em Praga quando os conflitos armados começaram — sem poder regressar, sem saber dos familiares e amigos que estavam em território ucraniano e sem conhecer os próximos passos.
A larga maioria dos jogadores do plantel do Prometey tem nacionalidade ucraniana, ainda que a equipa também conte com quatro norte-americanos — incluindo o ala Chris Dowe, que jogou em Portugal, no Sampaense — e um croata. Atualmente, ainda que não exista confirmação oficial, a imprensa ucraniana diz que grande parte dos jogadores ucranianos voltaram ao país para combater, enquanto que os estrangeiros regressaram aos Estados Unidos e à Croácia. Ainda antes de a invasão começar, quando tudo parecia não passar de um estágio na República Checa, o norte-americano Sean Evans falou sobre o estado de espírito da equipa.
“O nosso treinador [o israelita Ronen Ginzburg, que também tem nacionalidade checa] tem ligações aqui, o que nos ajudou a ter acesso ao pavilhão, ao ginásio, à estadia, às refeições. Por isso, a transição acabou por ser mais fácil para nós. Acordamos, tomamos o pequeno-almoço, almoçamos, temos uns tempos mortos e depois preparamo-nos para o treino. Acho que podemos dizer que é bastante normal. As condições são boas, na verdade. O nosso presidente toma conta de nós. Estamos a ficar num aparthotel. A organização do clube é de topo, desde o presidente o diretor-geral, a equipa técnica, tudo é gerido de forma fantástica”, contou o jogador de 33 anos ao BasketNews, numa altura em que ainda não imaginava que iria regressar aos Estados Unidos porque o clube decidiu parar por completo.