Numa altura em que a Europa se vê a braços com uma iminente terceira vaga do novo coronavírus, dois países nórdicos ainda conseguem conjugar uma taxa de letalidade (a proporção de mortes em relação aos casos diagnosticados) baixa com medidas pouco restritivas. A Noruega e a Finlândia ainda não superaram os 1.000 casos diários desde o início da pandemia e os óbitos diários raramente passam os dez. Não existiu sequer uma segunda vaga da doença. Qual será então o segredo nórdico?
A abordagem pragmática da Finlândia
“Não há nada de mágico sobre como fazemos isto — apenas temos uma abordagem pragmática”. Quem o diz é Pekka Nuorti, epidemiologista finlandês, à CNN. O também professor da Universidade de Tampere aponta uma grande diferença em relação aos outros países: durante o verão, a Finlândia desenvolveu um conjunto de práticas “epidemiológicas testadas e comprovadas” que incluiam a testagem, o eficaz rastreamento e a possibilidade de fazer quarentena. O número diário de testes passou de 2.900 em maio para 23.000 em novembro.
De acordo com Mika Salminen, diretor da segurança sanitária no Instituto Finlandês da Saúde e do Bem-estar, há outro fator que ajudou a Finlândia a evitar uma nova vaga de Covid-19 no outono: a restrição de viagens internacionais durante o verão. Mas não foi só: o governo finlandês também providenciou apoios económicos a todos aqueles que necessitaram de fazer quarentena — um incentivo para que as pessoas tivessem ficado em casa isoladas, o que ajudou a diminuir a propagação do vírus.
Nuorti aponta ainda algumas variáveis que podem ter ditado o sucesso finlandês a lidar com o vírus, como a baixa densidade populacional e a elevada confiança no governo. A Finlândia continua a não obrigar o uso da máscara, a permitir o regime presencial no trabalho, as escolas continuam abertas e dentro do país não há limites de circulação.
Ainda esta segunda-feira, a Finlândia, com aproximadamente 5,5 milhões de habitantes, reportou 254 casos de Covid-19 e 17 mortes em 24 horas.
O exemplo norueguês
A Noruega foi o país nórdico que mais restrições colocou em março. O país esteve parado durante a primavera e conseguiu lidar com a crise económica devido à indústria petrolífera e de gás natural. Mas começou a surgir um problema: a saúde mental dos noruegueses, que se complicou devido às pesadas restrições.
Como resultado, a Noruega suavizou as medidas no verão. E, no final da estação, levou a cabo um inquérito epidemiológico, chegando à conclusão que 60% dos contágios de Covid-19 ocorriam entre migrantes. Para controlar os surtos, o governo norueguês gastou 770 mil dólares (cerca de 632 mil euros) numa campanha de consciencialização junto daquelas populações — e viu os casos diminuir, segundo o especialista Jonathan Tritter, professor de sociologia da Universidade de Aston.
E os números desta segunda-feira comprovam o baixo número de casos. O ministério da Saúde norueguês dá conta esta segunda-feira de 208 novos casos e uma morte em 24 horas no país de cerca de 5,3 milhões de habitantes.
A Dinamarca — de bom a mau aluno num mês
A Dinamarca seguia os exemplos dos seus parceiros nórdicos até finais de novembro: poucas restrições e apostava num tipo de comunicação eficaz com os cidadãos. Søren Brostrøm, diretor da Autoridade de Saúde da Dinamarca, disse mesmo à CNN que “lidar com uma pandemia tem tudo a ver com o comportamento humano”.
Mas o aumento súbito de contaminações no país ditaram o falhanço da estratégia. O governo dinamarquês anunciou, em meados deste mês, o encerramento de todo o comércio não-essencial e das escolas. A primeira-ministra dinamarquesa avisou que a “situação era muito grave”, dado que havia “transmissão comunitária em todo o país”: “A saúde está sob pressão”.
E especialistas ouvidos pela CNN apuraram que a confiança no governo de Mette Frederiksen também diminuiu, após o mediático caso da morte das martas.
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A Dinamarca, com cerca de 5,8 milhões de habitantes, registou um forte aumento de casos de Covid-19. O país reportou nas últimas 24 horas 3.198 casos de Covid-19 e 18 mortes resultantes da doença. Um novo máximo diário foi atingido na passada sexta-feira com 4.508 contágios reportados, que se afasta do aparente controlo que registara — até 26 de outubro, o país nunca tinha superado os mil casos.
E mesmo na Finlândia, em que a situação está aparentemente controlada, as autoridades sanitárias não descartam um confinamento nacional se a situação se agravar.