É a eterna batalha entre pessimistas e otimistas. Quando existe a probabilidade de algo correr mal, os primeiros focam-se em tudo aquilo que pode de facto correr mal, numa espécie de relação amor/ódio com a Lei de Murphy. Já os segundos, focam-se em tudo aquilo que pode acabar por correr bem, numa ligação muito próxima com a esperança. Esta quarta-feira, os adeptos pessimistas do Belenenses SAD olhavam com muita apreensão para a receção ao Tondela, enquanto que os otimistas viam a oportunidade perfeita para uma boa notícia. E o mesmo acontecia com os mesmos dois tipos de apoiantes da equipa beirã.
Ora, na Cidade do Futebol, encontravam-se duas equipas separadas por um único ponto nos dois lugares logo acima da zona de despromoção. O problema era o seguinte: o Portimonense venceu o Famalicão esta terça-feira, o que significava que uma escorregadela de qualquer um dos lados deixava os algarvios — que estão numa fase muito positiva — com uma esperança renovada quanto à manutenção. Perder, tanto para o Belenenses SAD como para o Tondela, queria dizer que deixava de existir qualquer margem de erro até ao final da temporada, já que o Portimonense tinha à entrada para o jogo menos três pontos do que os azuis e menos dois do que os beirões. Tudo isto numa altura em que tanto a equipa de Petit como a de Natxo González ainda vão encontrar FC Porto e Sp. Braga até ao final da temporada.
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Ambos vindos de uma derrota — o Belenenses SAD com o Sporting e o Tondela com o P. Ferreira –, os líderes dos dois conjuntos tinham uma opinião semelhante quando ao caráter importante da partida. Se Petit garantia que a pressão é “boa” e que o jogo não era “decisivo”, Natxo defendia que o pormenor fulcral seria “gerir o nível emocional”. Só o primeiro treinador, porém, tinha uma boa notícia na hora de preencher a ficha de jogo, já que podia finalmente contar com Silvestre Varela, que se lesionou na jornada inicial da retoma e só agora ficava disponível.
O Belenenses SAD começou melhor, assim como tinha acontecido contra o Sporting, e posicionou-se desde muito cedo numa zona adiantada do terreno. Ainda assim, foi o Tondela que acabou por abrir o marcador, ligeiramente contra a corrente do jogo e sem ainda ter chegado perto da baliza de André Moreira. Pepelu bateu um livre a descair na esquerda e Ronan David, mais alto do que a defensiva adversária, apareceu a cabecear para o fundo da baliza (9′). O lance esteve sob revisão do VAR durante alguns minutos, por dúvidas quanto à posição do avançado, mas acabou por ser validado por uns inéditos zero centímetros — ou seja, Ronan David estava totalmente em linha com o último jogador do Belenenses SAD. Com o cabeceamento do avançado, o Tondela chegou ao 22.º golo de bola parada nos 24 totais que marcou na Liga, o que deixa perceber que este é claramente o ponto forte da equipa de Natxo González.
Depois do golo sofrido, o Belenenses SAD procurou assumir a posse de bola e construir a partir da zona do meio-campo, beneficiando da pressão pouco acutilante do adversário. Ainda assim, o duplo pivô do Tondela à frente da defesa, formado por Pepelu e Jaquité, ia ocupando os caminhos rumo à baliza pela faixa central, o que obrigava a equipa de Petit a lateralizar grande parte das jogadas. Nesta fase, os azuis tentaram várias vezes o mesmo lance, sempre sem sucesso: bola no corredor direito, Licá a aparecer nas costas de Filipe Ferreira e a desenhar um passe atrasado para a grande área, à procura de um remate. O esquema falhou inúmeras vezes mas acabou por resultar, já perto do intervalo, quando Cassierra surgiu no sítio certo a responder à movimentação de Licá depois de um passe vertical na direita (39′).
Ao intervalo, Belenenses SAD e Tondela estavam empatados — um resultado que não interessava a nenhuma das equipas e só alegrava o Portimonense. A equipa de Natxo González sofreu uma enorme contrariedade ainda antes de estarem cumpridos 10 minutos do segundo tempo, com a expulsão de Jaquité, que viu dois cartões amarelos em dois minutos e deixou o Tondela reduzido a dez elementos com mais de meia-hora por jogar. Ainda assim, e até ao final, foram mesmo os beirões a construir as melhores oportunidades de golo — sempre assentes nas boas exibições de João Pedro e Richard –, esbarrando em diversas defesas de grande qualidade de André Moreira, que só foi titular devido ao castigo de Koffi.
Num jogo que ainda ficou marcado pelo regresso de Ricardo Ferreira à competição, já que o defesa central do Belenenses SAD não jogava desde que sofreu uma grave lesão em janeiro de 2018 ao serviço do Sp. Braga, nenhuma das duas equipas conseguiu desbloquear o empate e os pontos ficaram divididos. Com o único resultado que não interessava nem a Petit nem a Natxo González, acabaram por ser Paulo Sérgio e o Portimonense a sorrir no Algarve, cientes de que a boa fase da equipa pode ser suficiente para alcançar a manutenção.