07 out, 2017
Nos últimos 43 anos muitas vezes tive que explicar a estrangeiros, sobretudo jornalistas, que PSD - Partido Social Democrata não queria dizer, em Portugal, que se tratasse de algo semelhante ao Partido Social Democrata alemão ou a vários partidos socialistas europeus. Tinha de chamar a atenção para que o PSD se poderia classificar de centro-direita e que o partido de centro-esquerda, socialista democrático, era o PS.
O PSD foi fundado na semana seguinte ao 25 de Abril. E com o nome PPD – Partido Popular Democrático, porque já havia um partido (mais um, pois na altura surgiam dezenas) com a designação Partido Cristão Social-Democrata. Este partido cedo se extinguiu, sem se ter sequer legalizado, tendo os três fundadores do PPD – Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota, todos antigos deputados da ala liberal do partido único do regime então derrubado – registado a “marca” PSD.
Viragem do país à esquerda
Importa ter em conta que, após a revolução de Abril e ao longo de vários anos, o centro político no país se deslocara muito para a esquerda. O próprio CDS, cujo líder e fundador era Diogo Freitas do Amaral, se apresentava como centrista, sendo o seu nome Partido de Centro Social Democrático. Mesmo assim, era frequentemente atacado como “fascista” e concorreu com várias limitações às primeiras eleições livres (25 de Abril de 1975, para escolher os deputados da Assembleia Constituinte, que iriam redigir a Constituição).
Ainda sob a liderança de Sá Carneiro, o PSD tentou entrar na Internacional Socialista. Mário Soares, que tinha excelentes ligações com destacadas figuras dessa organização, bloqueou tal entrada.
O PPD-PSD desses tempos conturbados até dizia defender uma sociedade sem classes. E o PS de Mário Soares afirmava-se “partido marxista”. Eram manobras de fachada para sobreviver num clima dominado pelo PCP e pela extrema-esquerda, e respectivos apoios militares.
Contra o colectivismo
O PSD tinha uma inspiração católica-social, bem como social-liberal e ainda uma linha tecnocrática-social. Sá Carneiro lutou sobretudo contra a tutela militar do sistema político e contra o partido comunista – o qual, aliás, promoveu uma vasta campanha de difamação de Sá Carneiro no final da década de 70.
Mais tarde, entre 1985 e 1995, Cavaco Silva, líder do PSD, foi primeiro-ministro. Procurou travar a estatização da economia, conseguindo – só em 1989! – que o PS aceitasse mudar a Constituição, acabando com a irreversibilidade das nacionalizações. E beneficiou de um período de expansão económica após a entrada de Portugal na então CEE, no início de 1986.
O segundo líder do PSD mais duradouro, depois de Cavaco Silva, foi Passos Coelho. Tentou reduzir a secular dependência da sociedade portuguesa em relação ao Estado, por isso lhe chamaram neoliberal. Mas a sua principal – e dificílima – tarefa foi enfrentar um resgate financeiro da UE, BCE e FMI. O empréstimo que estas instituições concederam ao Estado português vinha com duras condições.
Passos logrou que o país saísse do severo programa de ajustamento. Mas as medidas impopulares que teve a coragem de tomar valeram-lhe a hostilidade de muita gente, que o associa à austeridade. Nem sempre esta foi bem aplicada, mas globalmente era indispensável para que Portugal conseguisse atenuar os desequilíbrios das contas públicas e das contas externas, os quais tinham resultado do despesismo do último governo socialista de Sócrates.
A eleição de um novo líder do PSD deveria dar oportunidade a um sério debate ideológico. Mas duvido que tal aconteça: a ideologia desvaneceu-se nos partidos portugueses, tirando os de extrema-esquerda (que vivem dela). São agora, sobretudo, máquinas de dar empregos. No PSD a social-democracia vai encher discursos inflamados, mas pouco mais.