A morte de uma estrela por ‘esparguetificação’ (já lhe explico o que é isto) é rara e difícil de estudar, mas desta vez os investigadores sabiam onde poderia ter acontecido e viraram os telescópios nessa direção para estudar o fenómeno. Os resultados foram publicados esta segunda-feira na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

‘Esparguetificação’ quer dizer exatamente aquilo que parece. Imagine um fio de esparguete nos lábios e sugue-o até ele desaparecer dentro da boca. Basicamente foi isto que o buraco negro fez à estrela e os telescópicos do Observatório Astronómico do Sul (ESO), o Very Large Telescope (VLT) e o New Technology Telescope (NTT), estavam de lentes postas na situação.

Este fenómeno de esparguetificação — um evento de perturbação de marés — acontece quando um buraco negro supermassivo está suficientemente próximo de uma estrela para a sugar. Ou seja, para lhe arrancar finas correntes de matéria enquanto a devora. À medida que o buraco negro “engole” estes fios de matéria vai libertando clarões de energia que podem ser detetados pelos astrónomos.

Quando uma estrela infeliz se aproxima demasiado de um buraco negro supermassivo situado no centro de uma galáxia, a extrema atração gravitacional exercida pelo buraco negro desfaz a estrela em finas correntes de matéria,” explica Thomas Wevers, autor do estudo e bolseiro do ESO em Santiago do Chile, em comunicado de imprensa.

A estrela AT2019qiz, estava localizada num galáxia em espiral na constelação de Erídano, a cerca de 215 milhões de anos-luz da Terra. A estrela tinha uma massa equivalente à do nosso Sol, mas ficou reduzida a metade depois do encontro com o buraco negro que tinha mais de um milhão de vez a massa da estrela.

Santiago Gonzalez, investigador no Centro de Astrofísica e  Gravitação (Centra) do Instituto Superior Técnico, fez parte deste trabalho e lembrou que o prémio Nobel da Física 2020 foi exatamente sobre a predição teórica e a descoberta dos buracos negros.

É impressionante ver que as predições teóricas se comprovam cada vez com mais detalhe e que conseguimos explorar e perceber a riqueza da natureza”, diz Santiago Gonzalez, numa nota enviada ao Observador.

A chave para identificar este fenómeno tão raro foi descobri-lo precocemente e conseguir observá-lo antes que tudo ficasse coberto por uma nuvem de poeiras resultantes da degradação da estrela. “Com observações óticas, ultravioletas e de raios X, a nossa equipa conseguiu observar com muita precisão este espetáculo desde o começo”, diz Santiago Gonzalez.