5 de março de 2016. Este sábado, o governo do PS — cujo programa foi viabilizado pelo Bloco de Esquerda, PCP e “Os Verdes” — completa 100 dias. Sendo este um casamento político que ninguém sabe se vai ou não durar, fomos perguntar a três psicólogas clínicas quais os problemas mais comuns que os casais atravessam e quais as suas soluções. Para ler com atenção por António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa.
Filipa Jardim Silva, Rita Fonseca de Castro, da Oficina de Psicologia, e Cláudia Morais, aceitaram o desafio para explicar aqueles que garantem ser os principais obstáculos à saúde de uma relação, seja ela mais ou menos longa. Desde a fraca partilha de interesses comuns (entenda-se individualismo) ao erro grave de dar uma relação por garantida, fique a par do pode pôr em causa (ou salvar) uma relação. Neste caso, o que pode pôr em causa dos acordos bilaterais que o PS celebrou com cada partido de esquerda.
1. Individualismo
É importante que os casais procurem cultivar interesses, valores e objetivos comuns, começa por dizer Filipa Silva Jardim. A ideia é também suportada pela terapeuta familiar Rita Fonseca de Castro, que defende que não raras vezes os casais esquecem-se de investir em interesses comuns. É ela quem traz para a conversa uma equação que automaticamente entra em vigor quando a vida se faz a dois: “Muitas vezes dizemos que uma relação de casal corresponde ao 1+1=3”, argumenta, referindo-se ao espaço individual de cada um e ao espaço que a relação, em si, ocupa.
Cláudia Morais, por sua vez, afirma que de um modo geral as pessoas não são individualistas, ainda que o possam ser a partir do momento em que acreditam que quem está ao seu lado já não se preocupa mais — com ela ou com os seus interesses. A solução passa, pois, por “começar a olhar para o nosso próprio comportamento”.
Tem que haver compreensão e cedências, o que já vimos, por exemplo, na aprovação do Orçamento para 2016.
2. Não expressar o que se sente
“Muitos casais comunicam não comunicando”, assegura Filipa Jardim Silva. Em causa está a falta de uma comunicação eficaz e honesta, pelo que o mais importante é colocar por palavras aquilo que verdadeiramente se sente — isso implica verbalizar o que há de bom na relação, mas também as expectativas que ficaram defraudadas ou os defeitos que custam mais a tolerar.
“Eu sinto que…”, “Na minha ótica…” são expressões que podem tornar o diálogo mais aberto sem que a outra parte se sinta atacada. Mas mais do que formas boas ou más de falar, cada um terá o seu estilo de comunicar, garante Filipa Silva Jardim, que insiste na ideia de se tentar construir um estilo de comunicação partilhado.
“Muitas vezes convencemo-nos de que aquilo que precisamos é óbvio e que a pessoa que está ao nosso lado só não o faz porque não quer“, defende ainda Cláudia Morais. “Eu tenho de ser capaz de expressar com clareza e honestidade aquilo de que preciso.”
Deve ter sido isso que Catarina Martins pensou quando lançou para cima da mesa o debate sobre a renegociação da dívida, não escondendo a posição de princípio nesta matéria do BE.
3. Não olhar nos olhos
A proximidade física, isto é, o comportamento não-verbal é capaz de dizer muita coisa ao outro. “É muito importante conseguir olhar nos olhos de quem gostamos, até porque isso vai aumentar a confiança entre casal, bem como a tolerância em momentos de crise”, salienta Filipa Jardim.
Já Rita Fonseca de Castro recorda que muitas subtilezas do discurso são manifestadas através do olhar — não é por acaso que o senso comum insiste em dizer que os olhos são o espelho da alma. “É importante que os casais não se deixem de olhar nos olhos e que não se percam na tentação de se focarem mais nos estímulos exteriores. O olhar é um elemento muito potenciador da transparência e da comunicação empática”, assegura.
Lembra-se do aperto de mão de António Costa e Catarina Martins depois de aprovado o OE?
4. Dar a relação por garantida
“Na medida em que deixamos de prestar atenção ao que a outra pessoa precisa, corremos o risco de dar a relação por garantida. A última coisa de que cada um de nós precisa é sentir que a pessoa que está ao nosso lado já não quer saber”, diz a psicóloga Cláudia Morais. É que uma relação de casal, por melhor que se conheça a outra pessoa, deve ser continuamente alimentada, isto é, os membros do casal devem manter o interesse genuíno um no outro ao longo do tempo.
“Muitas vezes há esta perceção de que, passados 100, 200 ou 300 dias juntos, já existe uma base construída”, diz Filipa Silva Jardim, que lembra que quando a paixão acalma, um erro comum é precisamente dar a relação por garantida. “Daí a necessidade de, mesmo decorridos alguns meses, continuar a investir na relação. Investir ativamente.”
O PCP segue esta máxima. Nunca dá por adquirida as diferentes fases da união. Para os comunistas, este acordo é um longo caminho que se faz todos os dias com cautela e também muitos avisos à navegação (é o caso da CGTP).
Por enquanto, todos parecem tirar partido destes conselhos. Sinal de lua-de-mel? Veremos os próximos capítulos.