Num discurso feito à porta fechada para funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, o novo secretário-geral disse que não é “nenhum milagreiro” e que aquela organização “não deve tomar nada por adquirido”.
“É importante dizer que não há milagres e eu tenho a certeza de que não sou nenhum milagreiro”, disse perante um extenso grupo de funcionários da ONU. “A única maneira de conseguirmos atingir os nossos objetivos é trabalharmos juntos como uma equipa e sermos merecedores dos princípios nobres que estão representados na carta de princípios das Nações Unidas e que são os valores que unem a Humanidade.”
Naquele que foi o primeiro discurso de António Guterres nas suas novas funções — oficialmente, passou a ocupar o cargo mais elevado da ONU a 1 de janeiro, mas o primeiro dia de trabalho foi esta terça-feira —, o ex-primeiro-ministro expressou a sua alegria por voltar a ser um “funcionário das Nações Unidas”. “Este é um dia muito emotivo para mim, sinto-me lisonjeado e estou feliz por estar aqui convosco”, disse. “Depois de um ano sabático, é para mim um grande privilégio e motivo de grande felicidade poder chamar-vos meus colegas e eu estou muito feliz por ser vosso colega”, disse, para depois ser aplaudido.
Sobre os desafios que tem pela frente, que vão desde a guerra na Síria, até ao aquecimento global, passando ainda pela proliferação do terrorismo, António Guterres foi direto: “Não devemos ter quaisquer ilusões, nós estamos perante tempos muito desafiantes”.
“Vivemos num mundo onde os problemas se tornaram globais e onde não há maneira de resolvê-los de país em país”, referiu. “Por isso, neste momento nós temos de reforçar o valor do multilateralismo e reconhecer que só as soluções globais servem para tratar dos problemas globais.”
Houve ainda ocasião para alguma autocrítica das Nações Unidas, que António Guterres diz ser necessária. “Muitas pessoas sofreram muito menos por causa da nossa existência”, começou por dizer, para depois dizer que na ONU é preciso “reconhecer os nossos fracassos”.
“Temos de saber responder às ansiedades, preocupações e aspirações de toda a gente em todo o mundo. E, sejamos honestos, nós ainda não estamos prontos para fazer isso corretamente. Por isso, temos de nos comprometer fortemente com uma mudança”, disse. Uma dessas alterações, conforme já tem sublinhado em intervenções anteriores, é a burocracia daquela organização sedeada em Nova Iorque. “Temos de nos libertar deste casaco de forças da burocracia que dificulta tanto as nossas vidas”, disse.