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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Ideologia e ensino técnico

29 mar, 2016 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Em 1975, o ministro Rui Grácio acabou com os cursos técnicos ministrados nas escolas comerciais e industriais, argumentando que reforçavam a “dualidade dominante-dominado”. Cedo se percebeu que esta decisão ideológica prejudicava toda a gente.

O secretário de Estado da Educação, João Costa, quer extinguir os cursos vocacionais para o ensino básico, frequentados por 25 mil alunos. O governante acusa estes cursos, criados há quatro anos, de serem uma forma de “segregação precoce” entre os alunos que seguirão para o ensino superior e os que ficam por uma formação técnica.

Em 1975, o ministro Rui Grácio acabou com os cursos técnicos ministrados nas escolas comerciais e industriais, argumentando que reforçavam a “dualidade dominante-dominado”. Cedo se percebeu que esta decisão ideológica prejudicava toda a gente, desde os alunos sem aptidões nem vontade para prosseguirem os estudos até às empresas que necessitavam de operários especializados.

Num artigo no Público, membros do “Grupo Pensar a Educação”, nomeadamente Manuela Silva e Maria do Rosário Carneiro, apelaram há dias a que se evite “uma enorme leviandade” no começo do ano escolar, sem que sejam encontradas alternativas nem que se aperfeiçoem os “cursos vocacionais”.

Seria, digo eu, a repetição do mesmo tipo de erro, 41 anos depois, pelo mesmo motivo - pura ideologia.

Comentários
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  • Henrique Soares dos
    01 abr, 2016 Lisboa 11:35
    Obrigado pelo artigo lúcido. Há leitores deste texto que dizem que tanto é ideológica a decisão de extinguir o ensino técnico como a decisão de o manter. Dizem isto, alheios à realidade. A decisão de manter o ensino técnico vem suprir uma necessidade real do país em técnicos qualificados nessas áreas. A decisão de o extinguir esse ensino é ideológica porque é ditada por preconceitos ideológicos e não atende e vai contra essa necessidade prática da sociedade.
  • JP
    31 mar, 2016 Faro 19:55
    Sr Cabral estou 100% de acordo com a sua opinião sobre o terem acabado com os cursos técnicos. Aliás eu sou dos que tiraram uma licenciatura oriundo da escola industrial Afonso Domingues. Mas sr Cabral digamos em abono da verdade que o acesso ao ensino superior de um aluno vindo da escola técnica e outro do liceu era muito mais facilitado até nas áreas das engenharias . Um aluno da escola técnica fazia a 4 classe depois admissão ao liceu ou à escola técnica ou os dois em simultâneo, depois 2 anos escola preparatória, mais 3 anos curso técnico e finalmente 2 anos das chamadas secções preparatórias antes de fazer a admissão ao ensino superior onde podia ir para uma licenciatura ou bacharelato que antigamente tina no caso das engenharias o nome de agente técnico. Mais estes alunos faziam o dobro dos exames a que estava sujeito um aluno oriundo do liceu mais, ambos os alunos tinham os mesmos anos de escolaridade. A nenhum aluno oriundo do liceu era exigido conhecimentos na área da engenharia como por ex saber ler um desenho ou fazer o desenho de um componente mecânico. Eu penso que a intenção do legislador na altura era corrigir esta descriminação que levou o dito a cometer o erro de acabar com os cursos técnicos. Foi um erro é verdade. Espero que apareça outro Veiga Simão mas que veja os alunos como iguais sem estigmas de classe como antigamente em que o filho do médico tinha que ser forçosamente médico.
  • João Carlos Almeida
    29 mar, 2016 Porto 21:41
    Gosto e normalmente concordo com os comentários sempre muito bem argumentados e muito inteligentes pelo Sr. Francisco Sarsfield Cabral. Que continue!
  • António Menino
    29 mar, 2016 Oeiras 11:14
    O Sarsfield (nome inglês?) pela idade, um pouco mais velho do que eu, licenciou-se. Quer dizer que pertence à minoria de quem se podia formar e frequentou o liceu. Ora no seu comentário explica porque se acabou com os cursos técnicos. É que quem ia para os cursos técnicos, ia por uma questão de capacidade económica e não por razões vocacionais. E já eram uns "previligiados" porque a maioria ia trabalhar mal saía ou do ensino básico ou da 6ª classe. Muitos iam para o seminário, porque era um acesso para s camadas pobres. E ficamos por aqui. Aliás cheguei a escrever uma carta aberta no Jornal do Fundão ao presidente da Câmara da Covilhã, Carlos Pinto, também ele oriundo dos liceus.Nessa altura até as escolas eram diferenciadas.
  • Sena Magalhães
    29 mar, 2016 Porto 11:07
    Franciscquinho, devo dizer-lhe desde já que acho que a intenção do sr. João Costa é um disparate. Todavia, a sua argumentação é algo pateta. A decisão tem base ideológica? Pois tem. A minha opinião e a sua também têm base ideológica. Isso é normal. O argumento válido é aquele que é aflorado no artigo do Público - mas aquela gente deu-se a esse trabalho. O Francisquinho, tá queto... Sempre a saltitar pela espuma dos dias...
  • Albertina
    29 mar, 2016 Coimbra 09:57
    Ó sr. cabral, podemos saber qual a sua formação base? Apenas para saber-mos se tem ou não capacidades para opinar e julgar na praça pública tudo e todos aqueles que têm opinião diferente da sua!
  • António Costa
    29 mar, 2016 Cacém 09:06
    A partir do momento em que um individuo "dá um chuto numa bola" e um ganha milhões e outros ganham para comer e mal que existe "dualidade dominante-dominado". Depois de 1975, no final do Séc. XX, tive conhecimento do seguinte. Um conhecido meu tinha dado aulas de "ensino profissional" numa escola pública. No caso era só Contabilidade, intenso seguido de um ano de estágio sem compromisso numa empresa. As alunas eram cerca de 12, que o meu conhecido classificou como "muito fracas" do ponto de vista académico. As empresas contratadas para a realização do estágio, aceitaram as alunas sem compromisso. Surpresa, das 12 alunas, 11 ficaram todas empregadas, porque estas sabiam e conheciam o trabalho a realizar e não generalidades. O ano intensivo de Contabilidade deu os seus frutos. EUA à vista: Cursos superiores PAGOS para quem pode, e que garantem emprego aos "filhos dos politicos". Cursos "superiores" para os outros ficarem no desemprego.