Opinião
Camilo Lourenço: Nós é que temos de mudar; não os outros!!!
Há seis datas-chave na História da III República portuguesa: 1978, 1983, 1986, 1992, 1999 e 2011.
A primeira (1978) foi o primeiro choque da Esquerda revolucionária (whatever that means) com a realidade: confrontado com um grave desequilíbrio das contas externas, o governo (chefiado por Mário Soares) teve de chamar o Fundo Monetário Internacional.
A segunda data (1983) foi novo choque com a realidade: políticas económicas erradas (seguidas por um governo de direita – Pinto Balsemão) conduziram a novo pedido de ajuda externa. Quem pegou o toiro pelos cornos foi novamente Mário Soares.
A terceira data (1986) foi a adesão à então Comunidade Europeia. Com acesso a novos mercados, afluxo de investimento estrangeiro e entrada de fundos estruturais o país embalou para um crescimento sustentado. De repente parecia que Portugal rompera com os erros anteriores e entrara no caminho do desenvolvimento…
A quarta data (1992) foi novo grande avanço – o país abandonava a miserável desvalorização da moeda, que estimulava o empobrecimento, para adotar câmbios fixos (mais ajustáveis). A partir daqui o cenário de entrada no futuro clube da Moeda Única tornava-se mais credível.
A quinta data (2000) foi a conclusão de um esforço hercúleo, iniciado nos anos 80: a entrada no Euro. O problema é que as nuvens já se adensavam no horizonte: desde 1996 Portugal iniciara um processo de aumento acentuado da despesa pública (à media de 3,8 mil milhões de euros por ano, no período 1996-2000).
Resultado: sem flexibilidade cambial, com aumento da despesa pública e privada, só sobrava um instrumento para incentivar o crescimento económico – a produtividade. Como esta estagnou, o PIB estagnou também: crescimento médio de 0,5% entre 2001 e 2014.
A 6ª data (2011) foi um novo choque com a realidade: um brutal desequilíbrio das contas externas (média de 10% do PIB de 2000 a 2010) ditou nova perda de financiamento dos mercados. E lá regressámos à tradição dos anos 70 e 80: os resgates externos. Com um violento aperto de cinto, muito para além do que havia sucedido em 1978 e 1983.
Depois deste breve excurso histórico sobra uma pergunta: qual é o problema português? A resposta é óbvia: falta de disciplina financeira, que injeta liquidez na economia, canalizada para consumo de produtos e serviços externos (por falta de oferta interna). Ou seja, aquilo a que chamamos a criação de riqueza não o é: quando alguém gasta o que não é seu, não fica mais rico por isso (sobretudo quando essa despesa é canalizada para atividades não reprodutivas…). E quando chega o momento de apertar o cinto (como sucedeu depois de 2011), não está a empobrecer. Está a regressar a um nível de desenvolvimento consentâneo com a sua produtividade!
A generalidade dos portugueses (direita e esquerda) não percebe isto. E quando confrontado com o inevitável ajustamento (três vezes desde 1974), recusa responsabilidades e atira as culpas para cima de outros: quantas vezes não ouviu a que a culpa da nossa dívida é de quem nos emprestou dinheiro?
É este aspeto da nossa personalidade coletiva que nos deve preocupar: quem passa a vida a atirar a culpa dos seus males para cima de outros é porque não quer mudar. Certo?
É possível fugir a esta sina? É. Mas precisamos de perceber três coisas: a única determinante da riqueza de um país é a produtividade. Ora isso não depende dos outros, depende das reformas (dolorosas) que queiramos fazer. A segunda é que a ideia de que se pode crescer à custa de estímulos financeiros (défice e dívida) é uma estupidez. A terceira é que para fugir a este ciclo vicioso só há uma solução: pormo-nos de acordo em relação a questões fundamentais de regime. O mesmo é dizer que Portugal nunca sairá deste ciclo de euforia-depressão (boom and bust em jargão económico) sem que PS, PSD e CDS votem conjuntamente um programa de reformas. Exatamente o contrário do que se passa neste momento…
Há outra solução? Há. Ficarmos amarrados a uma solução federalista, na Europa, que nos retire o poder de decisão. Como a função de emitir moeda já desapareceu, sobra a função orçamental. Quanto mais cedo no-la retirarem, melhor. Deixaremos de depender da sorte…
Jornalista
A segunda data (1983) foi novo choque com a realidade: políticas económicas erradas (seguidas por um governo de direita – Pinto Balsemão) conduziram a novo pedido de ajuda externa. Quem pegou o toiro pelos cornos foi novamente Mário Soares.
A quarta data (1992) foi novo grande avanço – o país abandonava a miserável desvalorização da moeda, que estimulava o empobrecimento, para adotar câmbios fixos (mais ajustáveis). A partir daqui o cenário de entrada no futuro clube da Moeda Única tornava-se mais credível.
A quinta data (2000) foi a conclusão de um esforço hercúleo, iniciado nos anos 80: a entrada no Euro. O problema é que as nuvens já se adensavam no horizonte: desde 1996 Portugal iniciara um processo de aumento acentuado da despesa pública (à media de 3,8 mil milhões de euros por ano, no período 1996-2000).
Resultado: sem flexibilidade cambial, com aumento da despesa pública e privada, só sobrava um instrumento para incentivar o crescimento económico – a produtividade. Como esta estagnou, o PIB estagnou também: crescimento médio de 0,5% entre 2001 e 2014.
A 6ª data (2011) foi um novo choque com a realidade: um brutal desequilíbrio das contas externas (média de 10% do PIB de 2000 a 2010) ditou nova perda de financiamento dos mercados. E lá regressámos à tradição dos anos 70 e 80: os resgates externos. Com um violento aperto de cinto, muito para além do que havia sucedido em 1978 e 1983.
Depois deste breve excurso histórico sobra uma pergunta: qual é o problema português? A resposta é óbvia: falta de disciplina financeira, que injeta liquidez na economia, canalizada para consumo de produtos e serviços externos (por falta de oferta interna). Ou seja, aquilo a que chamamos a criação de riqueza não o é: quando alguém gasta o que não é seu, não fica mais rico por isso (sobretudo quando essa despesa é canalizada para atividades não reprodutivas…). E quando chega o momento de apertar o cinto (como sucedeu depois de 2011), não está a empobrecer. Está a regressar a um nível de desenvolvimento consentâneo com a sua produtividade!
A generalidade dos portugueses (direita e esquerda) não percebe isto. E quando confrontado com o inevitável ajustamento (três vezes desde 1974), recusa responsabilidades e atira as culpas para cima de outros: quantas vezes não ouviu a que a culpa da nossa dívida é de quem nos emprestou dinheiro?
É este aspeto da nossa personalidade coletiva que nos deve preocupar: quem passa a vida a atirar a culpa dos seus males para cima de outros é porque não quer mudar. Certo?
É possível fugir a esta sina? É. Mas precisamos de perceber três coisas: a única determinante da riqueza de um país é a produtividade. Ora isso não depende dos outros, depende das reformas (dolorosas) que queiramos fazer. A segunda é que a ideia de que se pode crescer à custa de estímulos financeiros (défice e dívida) é uma estupidez. A terceira é que para fugir a este ciclo vicioso só há uma solução: pormo-nos de acordo em relação a questões fundamentais de regime. O mesmo é dizer que Portugal nunca sairá deste ciclo de euforia-depressão (boom and bust em jargão económico) sem que PS, PSD e CDS votem conjuntamente um programa de reformas. Exatamente o contrário do que se passa neste momento…
Há outra solução? Há. Ficarmos amarrados a uma solução federalista, na Europa, que nos retire o poder de decisão. Como a função de emitir moeda já desapareceu, sobra a função orçamental. Quanto mais cedo no-la retirarem, melhor. Deixaremos de depender da sorte…
Jornalista
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