A cinco minutos do intervalo, 0-0 teimoso, vou até à varanda. Lá fora, uma rapariga passeia um cão minúsculo pela trela. No outro lado do passeio, uma senhora de bata azul é arrastada por um cão bem mais corpulento do que o outro. No banco perto das árvores, um casal de adolescentes namora. Sai um carro de uma garagem. Uma rapariga passa em frente do café e um homem vem até à rua para a observar. Desta vez há poucas bandeiras nas janelas. Daqui, só vejo duas, na mesma casa. Da chaminé da churrasqueira não sai fumo. Hoje até aquele homem que dá impressão de nunca largar a grelha deve ter tirado folga. Ouve-se uma ambulância. Ouve-se alguém a gritar “Portugal! Portugal!” Espreito para a televisão. Tudo na mesma. Volto para dentro. Intervalo.

E agora? Olhar para as estatísticas ajuda a prever a segunda parte? País de Gales com mais posse de bola, mais eficaz no passe, blá, blá, blá. Nada disso interessa. O futuro é opaco. Então a que é que me posso agarrar? O jogo está como a nossa selecção gosta: soporífero. Será que eles planearam tudo? Era bom. Há também aquela história da sequência das presenças portuguesa em campeonatos da Europa desde 1996: quartos-de-final, meias-finais, final, quartos-de-final, meias-finais e… final? Num teste psicotécnico essa seria a resposta certa, mas isto é um jogo (ou será a vida real?), não há respostas antecipadamente certas. Não serve. Diz que o Ronaldo marca mais nas segundas partes. Bom sinal. Mas será que vai marcar nesta segunda parte? Isso é que eu queria saber. Já sei. Fernando Santos. Ele disse que só regressava a 11 de Julho. Eu achei que ele estava maluquinho. Agora acho que ele sabe qualquer coisa que nós não sabemos. Quero acreditar que sim. Teve um sonho. Uma visão. Um anjo visitou-o em Marcoussis e disse-lhe: “Fernando, nada temas. Só regressarás a Portugal no dia 11 de Julho, por volta das duas e tal, e à tua espera terás uma nação em festa.” Ou terá sido num bolinho da sorte? Ele é que sabe. É Fernando Santos a minha bola de cristal.

Começa a segunda parte. Seja o que Deus quiser.