Tudo começou com um artigo. “18 Things Highly Creative People Do Differently” (“18 coisas que pessoas altamente criativas fazem diferente”, em português) da jornalista Carolyn Gregoire foi publicado em 2014 no jornal Huffington Post, a partir do trabalho do psicólogo Scott Barry Kaufman. A peça abordava como a criatividade não é uma característica inata, mas um hábito adquirido a partir de algumas práticas e comportamentos que podem aguçar a intuição e aumentar a inspiração na hora de ter ideias.
O artigo tornou-se viral e em alguns dias já contava com cinco milhões de visualizações e 500 mil “likes” no Facebook. O seu sucesso levou Gregoire a sentar-se outra vez com Kaufman para transformar o artigo no livro Wired to Create, lançado em dezembro de 2015.
“Muita gente se sentiu atraída pelo artigo original, porque mostrava que as pessoas criativas são complexas e paradoxais. Muita gente sentiu-se identificada com esta descrição. Nos comentários havia muitas frases como ‘este sou eu, agora entendo-me melhor'”, conta em entrevista ao jornal El País.
Para a autora, a criatividade não é “algo exclusivo de um grupo seleto de génios, mas uma habilidade de todos os seres humanos”. “Todos temos a capacidade de expressar-nos de forma única, de pensar de forma diferente e de ‘conectar pontos’, por assim dizer, de forma diferente da que o mundo inteiro fez antes”.
Os 18 conselhos do artigo original transformaram-se em 10 capítulos dedicados aos hábitos e características próprias de pessoas criativas e a autora resumiu ao jornal El País a ideia principal de cada um deles. Um avanço: já temos tudo de que precisamos para ser criativos.
Jogar
Para Gregoire, o jogo não é apenas uma forma de diversão para crianças, mas também permite o desenvolvimento de habilidades como “organização, resolução de problemas, desenvolvimento da linguagem, compreensão de conceitos científicos e matemáticos e curiosidade”. A autora acredita que as crianças são, por natureza, criativas, porque “a criação é em si própria um jogo”.
A paixão
Gregoire e Kaufman fazem a distinção entre uma pessoa motivada por fatores externos, como sucesso, dinheiro e adulação, da paixão motivada por uma atividade por pessoas que “não estão interessadas tanto no resultado quanto no processo”, e que costumam sair-se melhor na vida.
Sonhar acordado
“Sonhar acordado de forma saudável (quer dizer, sem dar voltas aos problemas”) é extremamente benéfico para o nosso bem-estar, a nossa compaixão, empatia e criatividade”, descreve a autora. Alguns dos benefícios deste hábito incluem a ajuda para processar ideias, planificar o futuro, refletir e gerar autoconhecimento.
A solidão
“Vivemos numa cultura extrovertida que desvaloriza e não entende a solidão. Nós tendemos a ver o tempo gasto sozinhos como tempo perdido, mas, na realidade, a tranquilidade da solidão intencional ajuda a que surjam as nossas ideias mais criativas”, justifica.
A intuição (como forma de inovação)
Para Gregoire, as pessoas criativas não são apenas especialistas num campo, mas sim aquelas que “experimentam e encontram novas formas de inovar no seu campo”. “Muito conhecimento pode levar as pessoas a ficarem presas nas suas maneiras de pensar, o que pode dificultar o pensamento e a inovação. Na verdade, estudos mostram que as contribuições mais criativas de uma pessoa geralmente vêm antes que ela atinja o pico de conhecimento no seu campo”, explica.
A abertura à experiência
As pessoas abertas à experiência, explica a autora, tendem a ser mais “imaginativas, curiosas e percetivas”. “Elas sentem-se impulsionadas pela aquisição de nova informação e por aprender coisas novas, e não só por terem experiências emocionantes”, garante.
O “mindfulness”
Gregoire define o “mindfulness” como a atenção plena, o “prestar atenção ao momento presente e perceber ativamente coisas novas sem fazer juízos de valor”. De acordo com o livro, esta característica ajuda-nos a movermos-nos do “multitasking” para o “single-tasking”, ou seja, de fazer demasiadas coisas ao mesmo tempo para nos focarmos numa atividade com toda a nossa atenção. “Esta atividade aumenta a nossa capacidade de concentração e foco, bem como a nossa empatia, compaixão, introspecção, autocontrole, memória e aprendizagem”, defende.
A sensibilidade
A autora relata que, para as pessoas sensíveis, o mundo parece “mais colorido, dramático, trágico e belo” e que elas “muitas vezes percebem as pequenas coisas que outros omitem, veem padrões onde outros veem algo aleatório e encontram significado e metáforas na vida quotidiana”.
Transformar a adversidade numa vantagem
Gregoire acredita que até o sofrimento pode levar a um crescimento criativo. “Muitas pessoas que passam por uma experiência negativa, inclusive trágica, são capazes de transformar os desafios da vida numa oportunidade para ver o mundo de outra forma e expressar esse novo significado através da arte”, assegura.
Pensar de forma diferente
Por fim, a autora descreve que, diante de um problema, estamos acostumados a pensar: “Da última vez que fiz isto deste modo funcionou muito bem” ou “sempre fizeram assim”. No entanto, ela aconselha que façamos o exercício de pensar em “múltiplas soluções para um único problema ou dilema”. Esta maneira de pensar “considera o problema de todos os pontos de vista e faz conexões entre a questão e todas as suas respostas potenciais. Ajuda a enfrentar tanto os problemas abertos como aqueles mal estruturados, precisamente o tipo de problemas que devem ser identificados e tratados para sobreviver e prosperar no nosso mundo em mudança”, sentencia.