Bem me quer, mal me quer… Em que ficamos, caro sorteio? O FC Porto aterrou na terra dos oito fantásticos e ganhou o direito a sonhar alto, principalmente depois daquela exibição de sonho contra o Basileia na segunda mão dos “oitavos”. Os dragões chegam aos “quartos” pela sétima vez, depois das sólidas e perfumadas caminhadas em 1987, 1994, 1997, 2000, 2004 e 2009.

No horizonte, veem-se PSG, Bayern, Real Madrid, Barcelona, Juventus, Mónaco e Atlético Madrid. Assim, sem fazer muitas contas de cabeça, cometendo injustiças mil e desafiando o universo, é o Mónaco o fruto apetecido, certo? Também o era nos “oitavos” e o Arsenal acabou a chorar. Mas não há dúvidas: o Mónaco é o rival preferido, até porque oferece um cheirinho a maio de 2004, altura em que o FCP bateu os franceses na final da Liga dos Campeões (3-0), empurrando Mourinho para um lugar mais alto do que as nuvens…

Com tudo por decidir, rezas por fazer, fortunas por pedir, o Observador decidiu traçar a pinta dos potenciais “inimigos” e o que fizeram até ao dia de hoje, assim como a força do seu nome na história da competição. Vamos a isto?

REAL MADRID — Campeão europeu em título. Uma equipa com Modric, Kroos, Bale, Ronaldo e Benzema até podia estar em último no campeonato que meteria sempre respeitinho. Não estão em último, estão em segundo, atrás do Barcelona (um ponto separa-os). Mas as coisas não têm estado bem, com Ancelotti a admitir que o ataque deixou de fluir. Há um bloqueio e a torneira fechou.

Quanto ao Grupo B, onde defrontou Basileia de Paulo Sousa, Liverpool e Ludogorets, os madridistas fizeram um brilharete: seis jogos, seis vitórias (16 golos marcados e apenas dois sofridos). Nos “oitavos”, os merengues até venceram bem na Alemanha contra o Schalke (2-0), mas assustaram-se no Bernabéu: 3-4. A luz da equipa apagou-se com a passagem de ano.

Ronaldo, apesar de ter começado 2015 com alguma timidez, é o segundo melhor marcador da prova, juntamente com Messi (oito golos), só atrás de Luiz Adriano (nove). Ronaldo e Messi somam 75 golos na Champions, são os reis da história da competição.

ATLÉTICO MADRID — Finalista no Estádio da Luz em maio de 2014. Chegou a ter uma mão na taça, mas Sergio Ramos deu uma volta ao guião. Campeão nacional em título, o Atlético continua forte e parece estar a melhorar. A equipa continua sólida, solidária e com um super-treinador a inspirá-la.

Na fase de grupos ficaram à frente de Juventus, Olympiakos e Malmö: seis jogos, quatro vitórias, um empate e uma derrota (14 golos marcados e apenas três sofridos). O Cholismo (“jogo a jogo” e deixar a alma em campo) continua forte e recomenda-se e isso ficou provado no duelo dos “oitavos” contra o Leverkusen, que marcou também a estreia do Atlético a vencer uma eliminatória europeia por penáltis.

A experiência a vencer no Velho Continente diz respeito à Liga Europa (2010, 2012), Taça Intercontinental (1974), Supertaça Europeia (2010, 2012) e Taça das Taças (1962). O sonho de vencer a Champions continua vivo…

Na Liga Espanhola, o Atleti está em quarto lugar, apenas a um ponto do pódio, onde está sentado o Valência de Nuno Espírito Santo. A liderança, essa, está longe, a nove pontos.

BARCELONA — Depois da eliminatória com o Manchester City, é ter cuidado. Os meninos de Luis Enrique estão a levar a sério esta cantiga. Em Manchester deram um chocolate impressionante aos citizens, enquanto em Camp Nou só não houve goleada porque houve um gigante Joe Hart. Pep Guardiola esteve na bancada e não resistiu e vibrou com o jogo — o melhor mesmo é ver aqui a emoção do catalão.

No campeonato o vento está a favor: liderança, graças às 21 vitórias em 27 partidas. Messi é o pichichi com 32 golos, enquanto Neymar, na segunda época em Barcelona, soma 17. Pelo meio está Cristiano Ronaldo (30) a impedir a dobradinha.

No Grupo F despacharam com relativa facilidade PSG, Ajax e APOEL: seis jogos, cinco vitórias e uma derrota — 15 golos marcados e cinco sofridos. Os “oitavos” foi a tal lengalenga deliciosa já relatada. Depois da era de Guardiola, que parece tão distante, o aroma a final da Liga dos Campeões volta a pairar no Camp Nou — os catalães venceram a prova em 1992, 2006, 2009 e 2011. Será curioso se Guardiola se colocar pelo caminho…

BAYERN MUNIQUE — Pep Guardiola tem um problema: se não for campeão neste super-clube terá uma mancha no currículo. Pior (para ele): terá esse desassossego para o resto da vida, qual Fernando Pessoa do futebol moderno. O Bayern continua a jogar muito à bola. Sim, é assim mesmo, “à bola”, porque aquilo às vezes parece uma turma do 9.º ano a divertir-se contra os imberbes do 5.º. Nem entremos pela história do “futebol total”, das táticas e princípios de jogo que nunca mais saíamos daqui…

Nos “oitavos” defrontaram o Shakhtar, que foi um verdadeiro osso de roer na primeira mão na Ucrânia (0-0), mas que depois viveriam um pesadelo. Em Munique, e depois de uma expulsão bastante cedo no jogo, os bávaros massacraram os ucranianos com um 7-0. Sete, senhores. Quem será a próxima vitima?

Na Bundesliga as facilidades mantêm-se: primeiro lugar com mais 11 pontos, cortesia das 20 vitórias em 25 jornadas. As redes das balizas rivais têm tido pouco sossego, bailam e voltam a bailar, como se tivessem nascido para isso: 70 golos é o que tem a equipa de Pep — só Robben leva 17. Neuer, que às vezes parece um Beckenbauer dos tempos modernos, qual libero com técnica a escorrer pelas botas, sofreu apenas 11 golos.

JUVENTUS — A gigante adormecida. A equipa de Turim não vence a Liga dos Campeões desde 1996 (vs. Ajax). No ano seguinte perdeu contra o Dortmund de Paulo Sousa, equipa que em 2015 os italianos eliminaram nos “oitavos”, com duas vitórias (2-1, 3-0) — foi maravilhoso ver Buffon a festejar como um garoto. A Juve teve de soar para ultrapassar o Grupo A: terminou em segundo, apenas com mais um ponto do que o Olympiakos — três vitórias, um empate e duas derrotas.

A experiência na Europa é enorme, e o palmarés também: duas Champions (1985, 1996), três canecos da Taça UEFA (1977, 1990, 1993), duas Supertaças Europeias (1984, 1996), uma Taça das Taças (1984) e duas Intercontinentais (1985, 1996). Nada mau, hein?

Na Serie A… mamma mia! Não há concorrência para esta gente. A Juventus tem mais 15 pontos do que a Roma (50), graças às 19 vitórias em 27 jornadas. A defesa tem estado sólida, com apenas 14 golos sofridos. Tévez, juntamente com Icardi (Inter), é o melhor marcador do campeonato: 15 golos.

MÓNACO — Et voilà, as equipas francesas! A equipa de Leonardo Jardim é a grande surpresa e o intruso maior da elite dos oito fantásticos. O Mónaco enganou o Arsenal de Arsène Wenger (3-1, 0-2) e volta a sonhar com altos voos como em 2004. Mesmo sem James e Falcao, Jardim conseguiu montar uma equipa interessante, mais humilde, mais realista, mas igualmente competente. Ou ainda mais. No campeonato está em quarto a oito pontos do líder Lyon, embora esteja apenas a quatro da zona de apuramento da Liga dos Campeões (Marselha: 54 pontos), o objetivo mais realista.

Na Champions foi subindo e fazendo mossa com pézinhos de lã, ou silenciador ao estilo 007. Ninguém dava por eles até que, de repente, terminaram como líderes do Grupo C — Zenit e Benfica disseram adeus. O Mónaco somou três vitórias, dois empates e uma derrota. Esta equipa marca muito pouco (4), mas sabe defender como ninguém: sofreu apenas um golo. Jardim é o único treinador português em prova…

O museu está despido de troféus conquistados no Velho Continente, exibindo “apenas” sete campeonatos nacionais (não é campeão desde 2000) e quatro Taças de França (a última em 1991). É pouco para um clube fundado em 1919, mas a magia do sul de França é inspiradora, o que juntamente com o pragmatismo de Jardim poderá resultar numa mistura interessante.

PSG Os responsáveis pela queda de José Mourinho. E justamente. Com menos um jogador naquela segunda mão foram grandes, ousados, corajosos e bons. Sim, foram bons mesmo e sem o génio Zlatan. O Chelsea caiu com estrondo, pequenino na forma e no conteúdo, e agora o PSG esboça um desejo que nunca viveu: vencer a Liga dos Campeões.

A única vitória na Europa, se esquecermos a modesta Intertoto (2001), remonta a 1996, altura em que os parisienses venceram o Rapid Viena no Estádio Roi Baudouin, na Bélgica. Bruno N’Gotty marcou o único golo da final aos 28′.

Na Ligue 1 as coisas já estiveram com melhor pinta. O Lyon lidera e o PSG persegue, a dois meros pontos de distância. A equipa não é genial a defender: 27 golos sofridos em 29 jornadas atestam-no. Mas quem tem Verratti, Lavezzi, Cavani e Zlatan pode desejar muitas coisas, certo? Ainda mais quando lhe junta coração e uma senhora atitude. Laurent Blanc terá, no entanto, um forte revés para os “quartos”: Zlatan viu o vermelho direto contra o Chelsea e corre o risco de estar suspenso. Sem Ibrahimovic isto teria muito menos piada. Porquê? Ele diria: “because I’m the boss”…