Jerónimo de Sousa revela, em entrevista ao órgão oficial comunista, o jornal “Avante!” que o sentido de voto do PCP no Orçamento de Estado de 2017 não está ainda decidida. Para isso fez questão de “lembrar a Posição Conjunta do PS e do PCP, em que assumimos o compromisso de examinar a proposta de Orçamento do Estado, sem, é evidente, decidir do sentido de voto sem conhecer os conteúdos.”

O secretário geral do PCP faz essa afirmação depois de recordar o que considera terem sido ganhos deste último ano, mas reconhecendo ao mesmo tempo que, “no atual quadro político, são claras as limitações para dar resposta decisiva aos problemas nacionais decorrentes dos constrangimentos externos e internos”.

Numa questão sobre o estado da governação liderada pelo PS, apoiada pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, Jerónimo de Sousa diz que “o Governo do PS, embora de forma limitada e insuficiente, tem assumido o compromisso de repor direitos e rendimentos, o que não deve ser desvalorizado”.

Mesmo com hesitações e contradições, o PS acabou por contribuir para se abrir uma nova fase da vida política nacional, mas não alterou a natureza da sua política e das suas opções programáticas características da política de direita, expressas nas conhecidas orientações estratégicas de subordinação ao processo de integração capitalista da União Europeia e aos interesses do capital monopolista.

Contudo, Jerónimo de Sousa diz que, “sendo tudo isto verdade, é também uma evidência que os círculos de decisão da União Europeia e do capital não gostam da solução política atual e por isso vão continuar a pressionar e a chantagear, com a conivência do PSD e do CDS. Inevitavelmente, vão acentuar-se as contradições no seio do próprio PS, com um desfecho imprevisível”.

“O PCP não abdicou da sua proposta de uma política alternativa patriótica e de esquerda nem do seu compromisso primeiro e principal, que é com os trabalhadores e com o povo”, acrescenta Jerónimo de Sousa. “É preciso que se tenha presente que não há um governo de esquerda nem das esquerdas e não há nenhum acordo de incidência parlamentar. Há, sim, uma posição conjunta que define o grau de convergência e o nível de compromisso”, lembra.

O governo socialista vai entregar a proposta de Orçamento do Estado na sexta-feira da próxima semana, dia 14.

Não haverá secretário-geral adjunto

O secretário-geral do PCP rejeitou ter um adjunto após o XX Congresso do partido, em dezembro, e previu “contradições no seio do próprio PS, com um desfecho imprevisível”, em entrevista ao órgão oficial comunista, o jornal “Avante!”.

Jerónimo de Sousa, tal como em entrevista à Lusa, em maio, onde se mostrou com “força física e anímica” para continuar no cargo sem necessidade de um “n.º2”, como sucedeu com Cunhal e Carvalhas entre 1990 e 1992, reafirmou que “nunca tal esteve em cima da mesa”.

“Eu ainda tenho a capacidade de me surpreender com a imaginação fértil da comunicação social. Um jornal dito de referência ‘manda o barro à parede’, um segundo jornal pega, um terceiro vai mais longe e um quarto dá por adquirida essa ideia… O que tenho a dizer ao ‘Avante!’ é que tal ‘notícia’ não tem nenhum fundamento”, garantiu.