Tem 34 anos e estreou-se na Liga Europa. Isso é coisa de campeão, certo? Iker Casillas tornou-se esta noite no terceiro jogador com mais presenças em competições europeias (164). O guarda-redes de Madrid já venceu tudo — Mundial, dois Europeus, três Ligas dos Campeões, duas Supertaças Europeias, uma Taça Intercontinental e um Mundial de Clubes –, mas nunca pôde ganhar a Liga Europa. Porquê? Porque só sabia o que era a Liga dos Campeões, um shark tank onde navegam os maiores. O sonho, se o tem, de vencer esta competição mirrou esta quinta-feira: o FC Porto perdeu em casa do Borussia Dortmund por 0-2, com golos de Schmelzer e Reus, na primeira mão dos 16 avos da Liga Europa.
FC PORTO: Casillas, Herrera, Layún, Indi, José Angel, Rúben Neves, Sérgio Oliveira, Marega, Brahimi, Varela, Aboubakar
DORTMUND: Burki, Hummels, Papastathopoulos, Piszczek, Schmelzer, Weigl, Mikhtaryan, Reus, Nuri Sahim, Kagawa, Aubameyang
O rival era complicado. O Dortmund assinava, até este jogo, uma média de 3,5 golos em casa. É dose, mas não é surpresa para quem tem Mikhtaryan, Reus, Sahin, Kagawa e Aubameyang. O Dortmund mudou com a saída de Jurgen Klopp. É uma equipa menos virada para o heavy metal, preferindo adotar os violinos de Pep Guardiola. Ou seja, Thomas Tuchel gosta de mais controlo, toque, passe, movimentação, passe e vai. A superioridade dos alemães, durante todo o jogo, foi esmagadora, chegando a assinar até 70% de posse de bola.
Mas a qualidade e andamento alheios não explica tudo. José Peseiro apostou numa equipa com muitos remendos: Varela foi lateral direito, Layún jogou ao lado de Indi na defesa e José Angel foi o lateral esquerdo. Bom, uma defesa nova nunca é um bom prenúncio. No meio-campo, havia a técnica e genica de Rúben Neves e Sérgio Oliveira (mais Herrera), mas de nada serviu, pois raramente tiveram a bola. Na frente viu-se um batalhador Marega, que foi o melhor dos três. Aboubakar fez pouco e Brahimi foi a desilusão da noite. O argelino tocou pouco na bola e, quando o fez, investiu demasiadas vezes no drible; esteve desaparecido, escondido e infeliz. Acontece.
“Senhores do FC Porto! Bem vindos à capital principal de futebol na Alemanha”, dizia uma publicação do clube germânico no Facebook. E isto é, muitas vezes, verdade. Jogam muito à bola, têm muita pedalada e agressividade. Querem muito. E depois têm uns adeptos que não existem, com coreografias geniais em muitos jogos. Um dos hinos é “You’ll never walk alone”. Como o Liverpool, sim.
Apesar de um bom arranque dos visitantes, com dois ataques rápidos e um canto, os remendos e muito querer alheio resultaram no primeiro golo da noite muito cedo (6′). Foi na sequência de um canto curto dos homens da casa. Depois, Piszczek surgiu sozinho ao primeiro poste, para encostar. Primeiro Casillas defendeu, mas a bola voltaria ao lateral e este, agora de cabeça, encostaria para as redes do FCP, 1-0. As coisas não começavam nada bem para a equipa de José Peseiro.
A caminhar para a meia hora de jogo só dava Dortmund — o primeiro remate à baliza por parte dos dragões aconteceria apenas aos 34′, por Sérgio Oliveira. Era de esperar que a equipa portuguesa não tivesse grande fluidez, mas a coisa era ainda mais preocupante. O FCP estava encolhido, não conseguia sair. A defender, surpreendentemente, fazia uma defesa a cinco: Marega descia para lateral e Varela juntava-se aos centrais.
Arriscamos dizer que não seria esse o plano, mas a força do Dortmund empurrou os portugueses para trás e obrigou-os a encolherem-se. O meio-campo do Dortmund é incrível, com a genialidade e leveza da canhota de Sahin e Kagawa. A defesa alemã estava, obviamente, super subida. O que se aprendeu com Klopp não foi esquecido, embora haja menos fúria e agressividade na recuperação de bola.
Dortmund
— 2º lugar na Bundesliga, a oito pontos do Bayern Munique
– 2ª equipa com mais posse de bola na Bundesliga (60.2%), só atrás do Bayern de Pep Guardiola (66,7%)
– equipa com mais duelos aéreos ganhos: 58%
– 3ª equipa com mais remates por jogo: 15.4
– 2ª equipa com mais acerto no passe: 83.5%
A segunda parte começou na mesma toada, embora houvesse (parecia) mais serenidade nas botas dos homens de amarelo. O FC Porto continuava perdido em campo, pouco agressivo e sem bola. É uma combinação terrível. E o dois-zero acabaria por chegar, aos 71′. O ataque dos homens do Borussia surgiu depois de mais uma bola perdida pelos jogadores de Peseiro, que permitiram a insistência de Kagawa. O japonês abriu na direita, já dentro da área, para Mkhitaryan, que sem pensar tocaria para trás. Para quem? Marco Reus, pois claro, que beneficiou do desvio em Indi, traindo assim Casillas. O alemão marcou o quarto golo a Casillas e o 18.º nas competições europeias, alcançando assim na liderança o grande, grande amigo Lewandowski, hoje no Bayern Munique.
#DORxFCP: Top-5 goleadores Dortmund (na UEFA):
18 MARCO REUS
18 Lewandowski
16 Chapuisat
15 Emmerich
14 Lars Ricken #playmaker #UEL— Playmaker (@playmaker_PT) February 18, 2016
#DORxFCP: Melhores marcadores Dortmund 2015/16:
30 Aubameyang
18 Mkhitaryan
16 MARCO REUS #playmaker #UEL— Playmaker (@playmaker_PT) February 18, 2016
Aos 85′, cheirou ao 3-0. A bola beijou o ferro frio depois de sair com uma força impressionante da cabeça de Mkhitaryan, um arménio ex-Shakhtar Donetsk com apetência para marcar golos. Cinco minutos depois, houve finalmente uma palpitação indesejada nos corações germânicos, que viram o guarda-redes Burki fechar a porta a Suk e Evandro, já na área. Uma curiosidade, assinalada pelo PlaymakerStats (conta Twitter associada ao www.zerozero.pt): Suk, o avançado ex-Vitória de Setúbal, jogou na Liga Europa precisamente seis anos depois. What!? Então, por quem jogou ele? Bom, preparem os queixos caídos: num Ajax-Juventus, com a camisola dos holandeses…
Ponto final no Estádio Westfalenstadion. O resultado, sabendo-se a qualidade e dimensão do Borussia, torna as coisas muito difíceis, mas também não é mentira nenhuma que o FC Porto já nos habituou a grandes e épicas noites europeias. O Dortmund nunca perdeu com FCP nem Benfica… Só com a outra grande equipa da Invicta. É isso, foi o Boavista. No dia 26 de setembro de 2001, o pistoleiro Silva e Erwin Sánchez (hoje o treinador dos axadrezados) fizeram os golos da vitória no Bessa — Amoroso reduziu na segunda parte. Jaime Pacheco é o homem do segredo…