O Bloco de Esquerda não quer ver António Costa de braço dado com o recém-nomeado Presidente do Brasil, Michael Temer. Numa nota enviada às redações, os bloquistas dizem lamentar “o inoportuno encontro marcado para amanhã [quarta-feira] entre o primeiro-ministro António Costa e Michel Temer”, um político que, reiteram, “chega à Presidência da República do Brasil sem legitimidade e a braços com a justiça”.
No mesmo comunicado, o Bloco de Esquerda sublinha que, “tal como muitos dos seus ministros e dos deputados e senadores que o apoiaram, Michael Temer está no centro de várias suspeitas, investigações e casos de corrupção”.
Ora, “o Governo português não desconhece que um dos objetivos dos promotores da destituição da anterior Presidente é precisamente o de garantir impunidade perante o combate à corrupção e, particularmente, travar o caso Lava Jato, em que muitos estão implicados”. Motivo que baste para não aceitar este encontro com o novo Presidente do Brasil, insistem os bloquistas.
O partido coordenado por Catarina Martins aproveita ainda para se demarcar das declarações de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros português, que veio a público manifestar a vontade de cooperar com o novo Presidente brasileiro. Os bloquistas vêem neste gesto uma forma de “legitimação do novo governo brasileiro”, cuja origem é na verdade um “golpe contra a democracia”.
António Costa iniciou na segunda-feira uma visita de quatro dias ao Brasil, na qual vai comparecer a um encontro organizado pelo Presidente Michel Temer na abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Para o Bloco, no entanto, apesar do “louvável apoio” aos atletas portugueses nos jogos paralímpicos, tal não “aconselha nem justifica o encontro com Michel Temer”. “Ninguém desconhece que, apesar dos fundamentos legais para a destituição de um Presidente estarem bem definidos pela Constituição brasileira, este foi um processo político, para lá da legalidade, visando o derrube do governo democraticamente eleito”, argumentam, por fim, os bloquistas.