A situação da economia portuguesa está novamente debaixo do escrutino inquisitivo dos governantes, analistas, agências de rating e entidades supranacionais. O otimismo de António Costa e a vitória da Seleção não parecem suficientes para convencer Wolfgang Schaüble, a Comissão Europeia ou mesmo a Unidade Técnica de Apoio Orçamental, de que as promessas de redução do défice serão cumpridas em 2016.
Se uma derrapagem significativa das contas públicas em 2016 é uma certeza quase absoluta (antes mesmo de tomar em consideração qualquer custo relacionado com a recapitalização do setor bancário), o país ainda está, felizmente, muito longe de um novo resgate por pelo menos três razões:
- Apesar de a situação da economia portuguesa ser menos animadora do que se podia antecipar, não é desesperada. Os valores previsíveis de forma realista para 2016, em termos de crescimento, desemprego, défice, ou saldo da balança corrente para a economia portuguesa, comparam favoravelmente com os de países como França, Itália ou Espanha. Ou seja, Portugal terá em 2016 uma performance económica em linha com a média europeia.
- O Brexit veio lembrar a toda a Europa a necessidade de reorientar o seu projeto, de ir além da visão contabilista dos tratados, de reavaliar os custos económicos e sociais de uma abordagem exclusivamente liberal das suas relações internas e externas. Deixo aqui uma aposta: a Comissão vai propor uma sanção simbólica a Portugal e a Espanha por não terem cumprido a redução do défice, sanção que será chumbada ao nível político pelos ministros das Finanças.
- O Banco Central Europeu continua a desempenhar um papel decisivo de prevenção. Pelo seu programa de compra de dívida pública, participa na estabilização do financiamento aos estados, evitando antecipações auto-realizadoras em que receios de dificuldades precipitam essas mesmas dificuldades pela via do desaparecimento do financiamento externo.
O facto de não existirem razões de pânico não significa que se deva olhar para a performance da nossa economia com complacência. O programa de reposição sistemática das medidas “troikanas” teve como principal efeito assustar empresários e investidores potenciais, convencidos de que se reproduzirmos as condições pré-troïka, o país poderá seguir o mesmo caminho doloroso. A queda acentuada da taxa de investimento já se traduziu numa evolução negativa do desemprego e do crescimento, o que deveria constituir uma alerta suficiente para reorientar as prioridades governamentais, antes de entrarmos num novo ciclo de agravamento dos desequilíbrios.
Para os investidores, os próximos meses poderão trazer algumas oportunidades. Os juros da dívida portuguesa continuam pressionados pela atualidade nacional e europeia e voltaram a níveis próximos dos máximos do ano. Enquanto os mercados “exigem” -0,2% de juros sobre a divida alemã a 10 anos, para Portugal esse valor já ascende a 3.1%. Até os mercados perceberem que não vai haver resgate, existe espaço para mais subidas. Mas mais tarde ou mais cedo, acredito que a realidade irá sobrepor-se aos catastrofismos, para o bem de todos nós.
Diogo Santos Teixeira é administrador da gestora Optimize Investment Partners