A primeira-ministra britânica, Theresa May, reúne-se sexta-feira de manhã com aqueles que são ainda os seus parceiros europeus, menos de 48 horas depois de o Parlamento britânico lhe ter dado plenos poderes para que inicie o processo de cisão do Reino Unido com a União Europeia.

Segundo um comunicado enviado ao Observador pelo gabinete de imprensa do governo de May, a primeira-ministra deverá informar os restantes líderes que conseguiu garantir, a semana passada em Washington, o apoio, a 100%, de Donald Trump à NATO.

Numa conferência dedicada à análise da rota de imigração que chega à Europa via Líbia, que é hoje a principal, depois de a dos Balcãs ter sido “fechada” na primavera passada após um acordo entre a UE e a Turquia, no discurso de May estarão também claras, segundo o comunicado, as preocupações com a questão dos refugiados. “A primeira-ministra irá defender uma abordagem abrangente e colaborativa a este problema que passará por apoiar os refugiados perto das suas zonas de origem, por tentar impedir que os imigrantes por motivos económicos cheguem à Europa, pela perseguição sem tréguas ao traficantes de pessoas e pela repatriação das pessoas que cheguem à costa europeia”, lê-se no comunicado.

A conferência informal de líderes europeus acontece em Valletta, Malta, e o anfitrião, Joseph Muscat, têm-se mostrado pouco flexível no que toca às exigências britânicas no período do pós-Brexit. A última vez que esteve no Parlamento Europeu, Muscat disse que é importante que o Reino Unido garanta um acordo justo mas “esse acordo nunca poderá ser melhor do que ser membro da União”.

O primeiro-ministro de Malta acredita que o Reino Unido “está numa situação muito delicada porque está a tenta garantir um acordo de comércio livre com a Europa e também com os Estados Unidos” e que essa situação é “periclitante” porque “hoje temos que esperar pelo próximo tweet para entendermos o que Donald Trump fará”, disse Muscat, citado pela Sky News.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, já tinha dito que Trump é uma ameaça à Europa nas mesmas proporções que o é uma Rússia agressiva, uma China assertiva e um Médio Oriente instável.

Este é, portanto, um momento delicado para Theresa May que foi bastante criticada no Reino Unido por não se opor imediata e claramente à ordem executiva de Donald Trump para que as fronteiras dos Estados Unidos fossem temporariamente fechadas a imigrantes provenientes de países maioritariamente muçulmanos.

O autor e veterano combatente da 2ª Guerra Mundial Harry Leslie Smith disse que May tinha demonstrado “uma cobardice moral que é profunda e repugnante” e que a atitude de não criticar a ordem de Trump “será uma ajuda à queda da Grã-Bretanha”.

Na conferência Theresa May dirá também que o facto de Trump apoiar a NATO sublinha a importância da relação entre os dois países em matéria de defesa e segurança e, por isso, May deverá também encorajar os líderes europeus a aumentarem o orçamento da defesa até que atinja 2% do PIB. Isto para que “o peso da defesa seja partilhado de forma mais igualitária” e porque “apenas com mais investimento se pode garantir que estamos adequadamente preparados para enfrentar os perigos”, deverá ainda dizer Theresa May em Malta.

Depois de ter também ouvido algumas críticas no Parlamento e na comunicação social por estar a colocar um possível acordo económico com os Estados Unidos à frente da condenação das ações de Donald Trump, Theresa May deverá colocar o acento tónico do discurso na importância de uma parceria duradoura com a Europa, mesmo depois da secessão.

À parte da sessão formal, a agenda da primeira-ministra britânica prevê algumas conversas bilaterais onde May deverá reiterar, ainda segundo o comunicado, a importância de uma União Europeia forte. “Continua a ser do maior interesse de todos que o projeto europeu tenha sucesso” são as palavras que se esperam de Theresa May.