O debate de quarta-feira não passou indiferente a ninguém, muito menos às duas forças políticas envolvidas. Antes, durante e (sobretudo) depois do debate, as reações foram-se sucedendo. Do lado do PS, os socialistas celebraram com humor a vitória (quase unânime) de António Costa no frente a frente com o líder da coligação; do lado do PSD/CDS, sociais-democratas e centristas tentavam aparar os golpes e acusavam o líder do PS de ter sido pouco sério, “brejeiro” e “demagógico” no debate com Passos.
Primeiro, o lado rosa. João Galamba foi um dos mais efusivos nas redes sociais. O deputado partilhou várias imagens que traduziam bem a boa disposição dos socialistas. Até José Sócrates tinha deixado de ser um tema tabu.
Passos como pizzaboy, uma referência à noite em que José Sócrates deixou o Estabelecimento Prisional de Évora e, já em Lisboa, pediu “a” pizza mais escrutinada de sempre”.
“Foto exclusiva do pós-debate (palco futuros-ex-vips)”, resume João Galamba.
Ascenso Simões, que apresentou a demissão do cargo de diretor de campanha de António Costa na sequência da polémica dos cartazes, usou as redes sociais para ir comentando, golpe atrás de golpe, o duelo entre o líder socialista e o líder da coligação. Por fim, o cabeça de lista do PS terminava dizendo: “Hoje não digo mais nada. Acho que nenhum português tem dúvidas. Vou dar umas gaitadas na minha varanda e abrir uma garrafa de champanhe. Parabéns Portugal”.
E se João Galamba e Ascenso Simões disparavam contra a coligação através do Facebook, Porfírio Silva, responsável pela comunicação dos socialistas, apostava no Twitter. O socialista foi acompanhando (e comentando) o debate quase minuto a minuto e, já no final, mostrava a sua satisfação. “Agora se percebe porque Passos fugiu aos debates!”. Esta quinta-feira, já mais a frio, Porfírio Silva continuou a cavalgar a vitória de António Costa. “Passos trazia um abade (Rua Abade de Faria, a casa onde Sócrates está em prisão domiciliária) e voltou com uma abada”.
Debate. Passos trazia um abade (Rua Abade de Faria) e voltou com uma abada. [da série tweets falsos]
— Porfírio Silva (@especulativa) September 10, 2015
Também no Twitter, Edite Estrela ia fazendo comentários à medida que Passos e Costa iam trocando argumentos. Menos corrosiva, mas igualmente crítica, a eurodeputada chegou a escrever: “Passos já trouxe o Sócrates, faltava o Syriza. Quem não tem argumentos, agarra-se, qual náufrago, ao que tem à mão”.
Passos já trouxe o Socrates, faltava o Syriza. Quem não tem argumentos, agarra-se, qual náufrago, ao que tem à mão. #passosmal #Costa2015
— Edite Estrela (@editeestrela) September 9, 2015
E se o novo habitante do número 33 da Rua Abade Faria, em Lisboa, foi tantas vezes chamado à conversa no Museu da Eletricidade, os socialistas José Lello, Paulo Campos e André Figueiredo tiveram a oportunidade de assistir ao debate ao lado daquele-cujo-nome-não-pode-ser-pronunciado, como chegou a escrever o Observador por altura do XX Congresso Nacional do PS.
À saída, e já depois do final do debate, em declarações à TVI, as opiniões convergiam num ponto: foi uma vitória clara de António Costa. Os socialistas só discordavam num ponto: terá sido um 7 a 3 ou um 8 a 2? Não importa, este “debate foi um arraso”, rematava André Figueiredo.
“Viu-se claramente que o dr. Passos Coelho assumiu perante António Costa que foram quatro anos de falhanços atrás de falhanços. E António Costa conseguiu provar isso mesmo”, respondia o deputado socialista.
E Sócrates? “Era o mais eufórico da mesa”.
Direita reconhece, aqui e a ali, a vitória de Costa. Mas critica o socialista.
Como escreveu o Observador já esta manhã, Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro a definir o tom. Na TVI24, e logo depois do debate, ainda os candidatos prestavam declarações aos jornalistas, já o comentador dizia: “António Costa liderou a iniciativa, liderou o tempo e liderou as mensagens mais fortes durante mais tempo. Pedro Passos Coelho só equilibrou no final. E portanto, no total, embora ligeiramente, eu acho que António Costa ganhou”. O comentador reconheceu que a vitória de Costa era um cenário que, mesmo à partida, “podia acontecer”, mas “não esperava que acontecesse tanto como aconteceu”.
António Costa “tomou a iniciativa”; Passos foi para o “terreno” do socialista e “largou o discurso que tinha preparado”; O secretário-geral do PS recuperou a imagem que tinha “enquanto líder estudantil” e noutras “encarnações”; O líder da coligação, que costuma ser forte nestes momentos, fez uma “gestão tecnocrática do debate” e “só reencontrou o discurso na segunda parte”; Passos teve um “discurso longo” e “insistente”; Costa “foi diferente no estilo, na iniciativa e na fúria”; Passos jogou à defesa, Costa apostou no ataque, resumiu o professor.
Ainda na TVI24, Miguel Relvas tentou fazer a gestão de danos. O ex-ministro dos Assuntos Parlamentares de Passos Coelho reconheceu que “António Costa, em relação a todos os últimos debates, esteve melhor porque conseguiu tomar a iniciativa”.
Ainda assim, Relvas acabou por acenar com uma mensagem que tem sido várias vezes repetida pela coligação: o PS é sinónimo de regresso ao passado da incerteza. “As políticas seguidas começam a dar resultados. A questão é saber se os portugueses querem um caminho de estabilidade ou voltar a criar situações de mudança sem saber a previsão do dia seguinte”, deixava no ar Miguel Relvas.
Na RTP Informação, Nuno Morais Sarmento admitiu que o primeiro-ministro teve algumas dificuldades a controlar o debate porque procurou “explicar” mais e “passar menos mensagens políticas” e lamentou o facto de António Costa ter recorrido à “crítica brejeira em algumas questões”. O ex-ministro da Presidência de Durão Barroso considera que o socialista “passou um conjunto de mensagens, passou-as eficazmente, independentemente da pergunta que lhe fizeram”, mas acabou por “não explicar coisa nenhuma”.
Na revista Visão, Miguel Pinto Luz foi dos mais duros com António Costa. Na opinião do líder da distrital do PSD Lisboa, Costa “tentou de forma ridícula, diria mesmo vergonhosa, culpabilizar o PSD pela vinda da troika para Portugal (…) apostou nos recortes de jornal, na análise superficial e na mistificação do passado, não se comprometendo com nada de fundo. Não deu garantias de confiança aos portugueses para merecer o seu mandato”. Já “Passos Coelho mostrou serenidade, conhecimento robusto dos dossiers e um profundo sentido de Estado”.
Filipe Anacoreta Correia, militante do CDS, começou por escrever que o “debate foi bastante dividido e equilibrado, em termos de tempo, agressividade e posicionamento” e daí parte para a crítica a António Costa. O socialista foi “desonesto intelectualmente, tentou explorar uma abordagem simplista dos assuntos e teve dificuldade em distanciar-se da herança socialista”. Quanto a Passos, conseguiu transmitir “maior cautela em relação aos assuntos e passou a mensagem de que Costa e o PS estão a ser aventureiros e trazem riscos”. Comentário? “Quem ganhou foi Pedro Passos Coelho porque as mensagens subjacentes à sua postura são mais fortes”.
Também na Visão, o deputado do PSD Duarte Marques reconheceu que “António Costa esteve melhor nos soundbytes e teve uma prestação muito mais teatralizada” o que pode ser “mais eficaz a curto prazo”. Ainda assim, o social-democrata considera que essa estratégia, a longo prazo, “dá um ar mais trauliteiro e de maior brejeirice”. Sobre Passos, Duarte Marques elogiou o discurso “explicativo” e “convicente” do primeiro-ministro, e a sua calma, mesmo perante “a desonestidade intelectual de António Costa”. Veredito? “Se na primeira parte António Costa foi melhor, na segunda Passos Coelho despiu o fato de primeiro-ministro e foi muito mais assertivo. Acho que é ele quem acaba por tirar mais vantagem deste debate”.